sábado, 23 de fevereiro de 2019

Candlemass - The Door to Doom (2019)


Candlemass - The Door to Doom (2019)
(Napalm Records- Importado)


01. Splendor Demon Majesty
02. Under The Ocean
03. Astorolus - The Great Octopus (feat. Tony Iommi)
04. Bridge Of The Blind
05. Death's Wheel
06. Black Trinity
07. House Of Doom
08. The Omega Circle

Quando Epicus Doomicus Metallicus foi lançado em 1986, o impacto foi grande, não só pela qualidade de músicas como “Solitude”, “Demon’s Gate”, “Crystal Ball” ou “A Sorcerer’s Pledge”, mas pelo ineditismo de seu conteúdo. Claro que nomes como Trouble, Pentagram e Saint Vitus já haviam estabelecido as bases para o que conhecemos como Doom Metal, mas o que o Candlemass apresentou em seu debut foi bem além. As influências de Black Sabbath, o som mais arrastado e sujo, tudo isso estava presente, mas recebendo doses de Metal Tradicional e vocais mais operísticos, cortesia de Johan Längquist, que atuou como convidado.

Aliás, ser vocalista do Candlemass acabou se tornando uma missão ingrata, já que após o debut o posto foi ocupado pelo icônico Messiah Marcolin. Com ele, lançaram mais 3 clássicos, Nightfall (87), Ancient Dreams (88) e Tales of Creation (89), até que ele resolveu sair em 1991. Tentaram seguir em frente com Thomas Vikström (Stormwind, Therion) assumindo o posto, mas não vingou, apesar do bom Chapter VI (92). Após uma pausa entre 94 e 97, retornaram com Björn Flodkvist e chegaram a lançar 2 álbuns, Dactylis Glomerata (98) e From the 13th Sun (99), mas não funcionou. A solução foi o retorno da formação clássica em 2001, que rendeu mais um trabalho com Messias, Candlemass (05). Com sua saída definitiva no ano seguinte, o posto foi ocupado Mats Levén, que logo foi substituído por Robert Lowe. Com ele a frente, as coisas pareceram se estabilizar, e 3 bons álbuns foram lançados, King of the Grey Islands (07), Death Magic Doom (09), e Psalms for the Dead (12), sendo que esse foi vendido por Leif Edling como o último dos suecos. Para a surpresa de todos, Levén retornou a banda na sequência, e chegou a lançar 2 EP’s, Death Thy Lover (16) e House of Doom (18).


E quem diria, no final tudo acaba como começou. Quando Leif decidiu que o Candlemass deveria lançar outro álbum de estúdio, resolveu convidar para os vocais ninguém menos que Johan Längquist, a icônica voz de Epicus Doomicus Metallicus. E para completar, The Door to Doom foi vendido como um retorno as raízes. Parafraseando o menino-prodígio, “Santa Ignorância, Leif!”. Tal afirmação soa um pouco forte, mas a verdade é que nada pode soar mais prejudicial do que maximizar ainda mais as expectativas dos fãs, que já eram grandes pelo simples fato do Candlemass voltar a lançar um álbum de estúdio. Se você não for cumprir tais promessas, isso tudo soa ainda mais irresponsável. Bem, a essa altura já deve estar bem claro que The Door To Doom não soa como um retorno da banda as suas raízes.

Grandes expectativas musicais geram grandes decepções, principalmente quando o material não condiz com o que foi prometido e com o que você idealiza. Por isso não nego, a minha primeira audição do álbum foi broxante. Então percebi que apesar da promessa de retorno as raízes, apesar de Längquist estar nos vocais e de até mesmo a capa remeter diretamente a de Epicus Doomicus Metallicus, comparar não só The Door to Doom, como qualquer outro álbum da carreira do Candlemass com o mesmo, seria de uma injustiça tremenda, afinal, ele foi um divisor de águas para o Doom Metal. A partir do momento que mudei minha forma de abordagem, a coisa toda mudou de figura, e aquela decepção inicial foi tomando o contorno de um sorriso no rosto, a cada nova audição do mesmo.

A verdade é que The Door to Doom não se difere em absolutamente nada de todos os álbuns lançados pelo Candlemass a partir de King of the Grey Islands. Isso é ruim? De forma alguma, afinal, os suecos nunca lançaram nada que não fosse menos que bom. Os fãs gostem ou não do fato, Leif Edling estabeleceu uma forma de compor confortável para ele, e se acomodou na mesma. Uma prova disse é que, caso você pegue para escutar a versão japonesa, que conta com o EP House of Doom de bônus, mal vai conseguir distinguir o momento da passagem de um para o outro, já que Johan Längquist não faz nada diferente do que Mats Levén fez anteriormente. Aqui você encontra bons vocais, melodias agradáveis, riffs duros e fortes, que dão um ar sombrio as canções. Em resumo, canções que você poderia ter escutando em outros projetos de Leif nos últimos 15 anos, como The Doomsday Kingdom, Avatarium ou Krux.


São 8 canções que mantêm o bom nível, dentro do que nos acostumamos nos últimos anos. “Splendor Demon Majesty” tem uma pegada um pouco mais acelerada e riffs bem pesados, sendo seguida por “Under The Ocean”, que segue o padrão de composição já conhecido e se destaca principalmente pelo bom solo. “Astorolus - The Great Octopus” teria tudo para ser só mais uma canção do Candlemass, mas tem a participação de Tony Iommi, o que acaba elevando o nível da mesma. “Bridge Of The Blind” é uma balada acústica dolorida e triste, mas muito bonita, enquanto “Death's Wheel” transborda peso, bons riffs e é outra que se destaca pelo solo. Outra com essas mesmas características, é a ótima “Black Trinity”, um dos poucos momentos em que Johan Längquist justifica a substituição de Mats. A já conhecida “House Of Doom” surge em uma versão levemente diferente, e que poderia ser confundida com a do EP, mesmo no que tange os vocais. Encerrando, temos “The Omega Circle”, que se destaca principalmente pelo bom refrão.

A produção do álbum ficou a cargo de Marcus Jidell, que trabalhou com Leif no Avatarium e no The Doomsday Kingdom, além de ter produzido os dois últimos EP’s da banda. A mixagem foi realizada por Niklas Flyckt (Krux) e a masterização por Svante Forsbäck (Apocalyptica, Grand Magus, Korpiklaani, Samael, Sonata Arctica, Swallow the Sun, Tarja). O resultado é muito bom, o que convenhamos, já era esperado. A capa é obra de Erik Rovanperä, e bem, é a do Epicus com pequenas modificações. Ao final, você tem duas formas para abordar The Door to Doom. A primeira, é considerando a promessa de Leif e toda a expectativa que a mesma gerou. Desse ponto de vista, o álbum é uma decepção, principalmente se você insistir em confrontar o mesmo com Epicus Doomicus Metallicus. A segunda, é esquecer tudo isso, e colocar ele frente a frente com os 3 últimos trabalhos da banda. Quando se faz isso, nos deparamos com um álbum muito consistente, épico, forte e que sim, cativa o ouvinte que der essa abertura. Que Leif pare a história do Candlemass por aqui, e se concentre em outros projetos.

NOTA: 84

Candlemass é:
- Johan Längquist (vocal);
- Mats “Mappe” Björkman (guitarra);
- Lars “Lasse” Johansson (guitarra);
- Leif Edling (baixo);
- Jan Lindh (bateria).

Musicos convidados:
- Tony Iommi (guitarra na faixa 3)
- Marcus Jidell (teclados)
- Jennie-Ann Smith (backing vocals)
- Mats Levén (backing vocals)
- Stefan Berggren (backing vocals)

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Avantasia – Moonglow (2019)


Avantasia – Moonglow (2019)
(Nuclear Blast/Shinigami Records – Nacional)


01. Ghost in the Moon
02. Book of Shallows
03. Moonglow
04. The Raven Child
05. Starlight
06. Invincible
07. Alchemy
08. The Piper at the Gates Of Dawn
09. Lavender
10. Requiem for a Dream
11. Maniac
12. Heart (faixa bônus)

Quando Tobias Sammet se aventurou ao lançar as duas partes de The Metal Opera, no início dos anos 2000, não poderia imaginar a proporção que tudo tomaria. Prova disso é que originalmente, o Avantasia havia sido concebido em sua cabeça apenas para esses álbuns. Pois bem, a coisa vingou de tal forma, que hoje chega ao seu 8º álbum de estúdio. Sempre se cercando de músicos consagrados, e apresentando uma música um tanto quanto pomposa e exagerada, alternou entre ótimos álbuns e outros um tanto burocráticos, por mais que nos 2 últimos, The Mystery of Time (A Rock Epic) (13) e Ghostlights (16), as coisas tenham melhorado consideravelmente.

Apesar de levemente mais contido nesse sentido, mais uma vez temos uma ótima seleção de músicos convidados. Ronnie Atkins, Jørn Lande, Eric Martin, Geoff Tate, Bob Catley e Michael Kiske já são velhos conhecidos dos fãs do Avantasia, e a eles são acrescidos os estreantes Hansi Kürsch, Mille Petrozza e Candice Night. São nomes que dispensam apresentações e estão entre as principais vozes da música pesada, não só na atualidade, como em todos os tempos. Dá para notar também que temos uma maior variedade vocal nessa lista, o que acabou por abrir mais possibilidades em matéria de composição.


A música do Avantasia sempre teve em sua base aquele Power Metal tipicamente europeu, carregado de pompa e exageros estilísticos, mas que por algum motivo funcionou muito bem no início. Com o passar dos lançamentos, esse lado pomposo foi aumentado com a inclusão de elementos de Hard Rock oitentista, Pop, elementos orquestrais e de musicais da Broadway, chegando ao auge em Moonglow. Isso poderia ser o prenúncio de um desastre, mas surpreendentemente funciona muito bem. Um dos motivos disso é sem dúvida alguma, a irritante capacidade que Tobias possui de compor refrões grudentos. Mesmo quando a música não empolga, mesmo quando você se esforça para não gostar do que está ali, surge lá, do nada, aquele refrão empolgante e cativante, te fazendo cantar junto contra a sua vontade. Sério, isso deveria estar no código penal, ser considerado crime.

Brincadeiras a parte, a variedade maior de vozes deu a Sammet mais abertura para explorar e expandir suas ideias. Isso só fez bem ao Avantasia. Tudo aqui se mostra mais diversificado, o que é ótimo. Nos vocais, Tobias se sai bem e tem um desempenho até superior ao que apresentou nos últimos álbuns, tanto de seu projeto quanto do Edguy. Entre os convidados, alguns destaques são óbvios. Geoff Tate está cantando como a muito não fazia, enquanto Jørn Lande, Bob Catley e Michael Kiske nos entregam exatamente o esperado. Petrozza trouxe uma dose de agressividade em sua participação, e Candice mostra uma voz forte. Hansi Kürsch está bem mais contido que nos álbuns do Blind Guardian, mas ainda sim consegue aparecer bem. Eric Martin poderia ter tido um pouco mais de espaço, mas brilha quando tem chance. Já Ronnie Atkins tem espaço para brilhar, mas surpreendentemente acaba não saindo muito do padrão, não brilhando como o esperado.

De cara, temos a ótima “Ghost in the Moon”, canção pomposa, com aqueles exageros esperados, mas que funciona de forma brilhante. É como se estivéssemos diante de um Savatage com toques de Pop e de musicais. E que refrão! A faixa seguinte, “Book of Shallows”, une Tobias, Atkins, Lande, Kürsch, Petrozza. É um Power Metal mais clássico, veloz, com boas melodias e ótimo refrão. As partes cantadas por Mille trazem um peso a mais para a canção, e o que teria tudo para soar esquisito e dar errado, acaba funcionando de uma forma irritantemente boa. “Moonglow” conta com o dueto entre Candice e Sammet, e se mostra uma faixa bem forte, fugindo daquele estereótipo de “balada delicada com vocal feminino”. “The Raven Child” não só é a maior música do álbum, como também a mais diversificada. Com seus mais de 11 minutos, passeia pelo Power e possui elementos de música Celta. Jørn Lande e Hansi Kürsch brilham, e acabam sendo o grande diferencial da canção. Já “Starlight”, com Ronnie Atkins, é uma canção bem padrão e que não foge muito do lugar-comum.


Na sequência temos a suave balada conduzida pelo piano, “Invincible” e a pesada “Alchemy”, onde o grande destaque fica por conta de Geoff Tate, que brilha nos vocais. O bom resultado é maximizado pela forma como sua voz e a de Sammet harmonizam. “The Piper at the Gates Of Dawn” é um Power metal básico e que procura não inventar. É a que conta com mais participações, já que tem seus vocais divididos entre Tobias, Ronnie Atkins, Jørn Lande, Eric Martin, Geoff Tate e Bob Catley. Justamente por isso, todos acabam tendo menos tempo do que mereciam para brilhar, mas isso não chega a comprometer o resultado. Se não mostrou tudo que podia na canção anterior, em “Lavender”, Bob Catley simplesmente brilha. Pesa também ao seu favor o fato da música possuir qualidades, como os bons coros e os teclados, que encaixam muito bem as partes orquestrais. “Requiem for a Dream” tinha tudo para ser um Power Metal padrão e sem sal, mas tem nos vocais ninguém menos que Michael Kiske, e isso por si só já salva a canção. “Maniac”, cover para a canção de Michael Sembello, e que foi trilha sonora do filme Flashdance (81), acaba soando um pouco deslocada dentro do contexto do álbum, mas é divertida, principalmente pelo inusitado da escola. Encerrando, temos a bônus “Heart”, um tributo ao Journey da fase Steve Perry.

Como sempre, a produção e mixagem ficaram por conta de Sascha Paeth, com masterização de Michael “Miro” Rodenberg. O resultado é aquele que esperamos, com tudo claro, limpo, cristalino, mas ainda sim pesado, afinal, estamos falando de um álbum de Heavy Metal. A belíssima capa é obra de Alexander Jansson, e é certamente a melhor que já vi em um álbum do projeto. Não vou mentir, quando peguei para escutar Moonglow, estava com os 2 pés atrás, afinal, os trabalhos anteriores não haviam me conquistado, mas ao final da audição, me deparei com o melhor trabalho do Avantasia em tempos. Um álbum fácil de escutar, divertido, com tudo aquilo que se espera vindo dele, e com aqueles irritantes refrões que ficam dias na sua cabeça. O que mais um fã pode querer?

NOTA: 83

Avantasia é:
- Tobias Sammet (vocal/baixo/teclado/piano/orquestrações)
- Sascha Paeth (guitarra/teclado/piano/orquestrações)
- Michael "Miro" Rodenberg (teclado/orquestrações)
Musicos convidados:
- Felix Bohnke (bateria)
- Ronnie Atkins (vocal nas faixas 2, 5, 8)
- Jørn Lande (vocal nas faixas2, 4, 8)
- Eric Martin (vocal nas faixas 8, 11)
- Geoff Tate (vocal nas faixas 6, 7, 8)
- Michael Kiske (vocal na faixa 10)
- Bob Catley (vocal nas faixas 8, 9)
- Candice Night (vocal na faixa 3)
- Hansi Kürsch (vocal nas faixas 2, 4)
- Mille Petrozza (vocal na faixa 2)
- Nadia Birkenstock (harpa celta)
- Oliver Hartmann (guitarra)

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Pedro Farinazzo – Winterstorm (2018) (EP)


Pedro Farinazzo – Winterstorm (2018) (EP)
(Independente – Nacional)


01. Before the Storm
02. Leave Your Ghosts Behind
03. Ressurection
04. Winterstorm
05. Overcoming
06. The Illusion of Freedom

O undergorund nacional é repleto de grandes talentos que, na maioria das vezes, não recebem o devido espaço da mídia e reconhecimento do público. Uma pena. Natural de Juiz de Fora (MG), o multi-instrumentista Pedro Farinazzo já passou por diversos nomes da cena juiz de forana, como Insannica e Fearless, mas já a algum tempo resolveu se enveredar pelos caminhos dos trabalhos próprios, primeiro com a One Man Band Enharmonic Khaos, e agora com seu primeiro álbum solo, Winterstorm.

A base de sua sonoridade está naquele Prog Metal mais clássico, de bandas como Dream Theater, Symphony X e Fates Warning, mas a isso mescla vertentes mais atuais, como o Djent, o Modern Metal e o Metalcore de nomes como All That Remains, Killswitch Engage, As I Lay Dying, Veil of Maya e After the Burial. As canções aqui apesentadas se mostram bem diversificadas, pesadas e com boa dose de complexidade, algo que certamente vai agradar aos fãs do estilo. Um ponto ser melhor trabalhado no futuro diz respeito aos vocais. Quando vai para um lado mais agressivo, Pedro até se sai bem, mas quando se envereda por tons mais limpos a coisa dá uma pequena desandada, já que ele fica devendo um pouco nesse sentido.


A intro “Before the Storm” cumpre bem o seu papel e dá ao ouvinte uma pequena amostra do que ele encontrará pela frente. “Leave Your Ghosts Behind” tem guitarras pesadas, boas linhas de baixo e vocais que trafegam entre o limpo e o agressivo. É um dos destaques aqui. “Ressurection” possui um instrumental bem técnico, passagens acústicas interessantes, mas acaba um pouco prejudicada pelos vocais limpos, algo que também ocorre em “Winterstorm”, canção bem variada e que se equilibra bem entre o peso e momentos mais atmosféricos. Cabe dizer que nos momentos em que imprime um pouco mais de agressividade nos vocais, o nível sobe. “Overcoming” é outra que alterna bem os vocais, além de se mostrar bem diversificada. Encerrando, temos a ótima “The Illusion of Freedom”, com seus mais de 9 minutos e onde Pedro mostra sua técnica como instrumentista.

A produção ficou a cargo de Pedro e Guilherme Flauzino, com mixagem e masterização desse último. Está dentro da média do que ouvimos por aí, mas é outro ponto que pode melhorar no futuro. Um pouco menos de crueza certamente cairia muito bem. A capa, muito bonita, foi obra de Raphael Efez. Como todo trabalho de estreia, Winterstorm possui seus altos e baixos, com prevalência dos primeiros, já que estamos diante de um EP muito agradável de se ouvir. Com pequenos ajustes aqui e ali, certamente estará pronto para alçar voos muito mais altos!

NOTA: 77

Pedro Farinazzo (gravação)
- Pedro Farinazzo (vocal/guitarra/baixo/violão);
- Guilherme Flauzino (teclados nas faixas 4 e 5)

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Rotting Christ – The Heretics (2019)


Rotting Christ – The Heretics (2019)
(Season of Mist – Importado)


01. In the Name of God
02. Vetry zlye (Ветры злые)
03. Heaven and Hell and Fire
04. Hallowed Be Thy Name
05. Dies Irae
06. I Believe (Πιστεύω)
07. Fire God and Fear
08. The Voice of Universe
09. The New Messiah
10. The Raven

Falar da importância do Rotting Christ, não só para a cena do Black Metal helênico, como para a mundial, é verdadeiramente chover no molhado. Responsáveis por trabalhos clássicos do estilo, sua influência é indiscutível. Também não se discute que os irmãos Sakis e Themis nunca se acomodaram, e sempre procuraram explorar novas fronteiras para o som da banda, sem nunca se desconectar com suas raízes. Triarchy of the Lost Lovers (96) marcou a introdução de elementos góticos em sua sonoridade, definindo o som da banda naquele momento, enquanto Theogonia (07) e Aealo(10) marcaram a inclusão não só de melodias, como de elementos típicos da cultura grega.

Desde então o Rotting Christ vem aperfeiçoando essa fórmula, o que gerou uma sonoridade única e irrotulável, por mais que a base do seu som continue lá, intocada. Essa mescla de agressividade com melodias, de passagens mais brutais com um lado mais atmosférico ritualista, te faz se sentir em muitos momentos meio a uma missa profana e sombria. Tem algo místico aqui, difícil de se explicar. Claro que em alguns momentos a coisa fica um pouco pomposa e cinematográfica demais, muito disso devido aos coros, mas não é algo que chega a prejudicar sua música, vide os bons resultados conseguidos com seus últimos álbuns, Κατά τον δαίμονα εαυτού (13) e Rituals (16).

The Heretics segue na mesma linha desses, e ouso dizer que algumas músicas aqui presentes poderiam estar sem problema algum em Rituals. Os vocais de Sakis estão ótimos, assim como os coros e os backings realizam um ótimo trabalho, ajudando demais na atmosfera final. O trabalho de guitarra também se mostra primoroso, principalmente no que diz respeito aos riffs, que entregam sim, boas melodias, mas também bastante peso e agressividade. Quanto a parte rítmica, destaque para a bateria de Themis, com suas levadas ritualisticas/tribais, que são o grande diferencial da banda em sua fase atual. Sem elas, o Rotting Christ não seria a mesma coisa.


A densa e pesada “In the Name of God” é um retrato perfeito do que encontraremos pela frente e funciona perfeitamente como faixa de abertura, já que te deixa ansioso pelas próximas canções. “Vetry zlye (Ветры злые)” mantém o nível no alto, com riffs pesados, um ótimo trabalho de bateria e participação de Irina Zybina(GRAI), que ajuda a dar um ar meio Pagan Metal a canção. “Heaven and Hell and Fire” possui um clima épico e ótimas melodias e refão marcante, enquanto “Hallowed Be Thy Name” prima pela pompa e pelos ótimos coros, que também dão as caras em “Dies Irae”, que tem bom peso e agressividade. “I Believe (Πιστεύω)”, com sua letra baseada em um poema de Nikolaos Kazantzakis (considerado o mais importante filósofo e escritor grego do sec. XX), é toda cantada em grego e possivelmente é a que menos empolga, por mais agressiva que seja sua parte instrumental. “Fire God and Fear” possui uma atmosfera bem sombria e sinistra, além de ótimas melodias de guitarra.  “The Voice of Universe” conta com vocais de Melechesh Ashmedi (Melechesh) e tem nos riffs o seu ponto mais alto. “The New Messiah” se mostra uma música bem densa e melódica, e “The Raven”, baseada no poema O Corvo, de Edgar Allan Poe, encerra o trabalho de forma magnífica, com bons riffs e vocais, e um clima destrutivo.

Produzido por Sakis, o álbum teve sua mixagem realizada por Jens Bogren e masterização por Tony Lindgren. Com um time desses, não se podia esperar menos do que a excelência. Clara e cristalina, consegue colocar em posição de destaque não só o peso, como as melodias presentes na música dos gregos. Já a capa foi obra de Maximos Manolis. Claro que alguns fãs mais radicais podem reclamar da proposta adotada nessa fase mais recente, mas a verdade é que em The Heretics, o Rotting Christ consegue manter o bom nível dos últimos lançamentos, com uma música sombria, mística e que possui aquele ar profano que esperamos vindo de uma lenda do Black Metal. Aos interessados, o álbum vai ganhar uma versão nacional através da Urubuz Records. Recomendadíssimo!

NOTA: 8,6

Rotting Christ é:
- Sakis Tolis (vocal/guitarra);
- George Emmanuel (guitarra);
- Van Ace (baixo);
- Themis Tolis (bateria).

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Verthebral - Regeneration (2017)


Verthebral - Regeneration (2017)
(Nomade Records/Tales from the Pit Records/Eclipsys Lunarys Productions/Extreme Sound Records/Thrash or Death Records/Totem Records – Nacional)


01. Apocalyptic Seasons (Intro)
02. Place of Death
03. Spirit in Solitude
04. Regeneration
05. Beyond the Garden of Creation
06. Without Any God
07. Old Man’s Memories
08. The Plague of Insomnia
09. Immaterial Essence of Things
10. Inside of Me
Adultery of Soul EP (Bônus):
11. Intro: Final Thoughts
12. Human Limitation
13. Adultery of Soul
14. I Am the Vulture
15. Confronting Lies

O Verthebral foi formado no ano de 2013, em Ciudad del este, no Paraguai, mas poderia muito bem ter surgido na Flórida, no início dos anos 90. E acredite, isso não é exagero. O Death Metal que o quarteto formado por Cristhian Rojas (vocal/baixo), Daniel Larroza (guitarra), Alberto Flores (guitarra) e Gabriel Galeano (bateria) pratica, não nega a influência de bandas como Deicide, Cannibal Corpse, Obituary, Morbid Angel, Death ou Malevolent Creation, só para ficar em alguns exemplos. Isso significa que estamos diante de pura emulação? Não é bem assim.

Claro, é inegável que seu debut, Regeneration, não prima pela originalidade, e que na teoria, não apresentam nada fora dos padrões do que já escutamos em trabalhos anteriores dos nomes citados no parágrafo acima, mas a paixão e a sinceridade que imprimem em cada nota tocada aqui, acaba por se tornar um diferencial para a música do Verthebral. Os vocais guturais estão dentro do que se espera, enquanto as guitarras despejam não só riffs bem fortes e raivosos, como também acertam nos solos. A parte rítmica faz um belíssimo trabalho, mostrando muito boa técnica, com linhas de baixo bem fortes e uma bateria variada. São os principais responsáveis pela boa diversidade do álbum.


As 10 canções que compõem Regeneration são impiedosas com os tímpanos menos treinados no estilo, já que tem aquela crueza e agressividade típicas do período. Meio a toda a brutalidade, podemos notar algumas melodias aqui e ali, o que só enriquece mais o trabalho da banda. Podemos perceber também uma boa qualidade nos arranjos, mostrando que estamos diante de um nome muito promissor e que pode crescer demais nos próximos anos. Entre os destaques, eu apontaria a enérgica “Place of Death”, com um bom trabalho de baixo/bateria, a bruta “Regeration”, a ótima “Beyond the Garden of Creation”, variada, bem-arranjada e com melodias interessantes, “The Plague of Insomnia”, que mescla bem partes cadenciadas com outras mais velozes – uma característica de todo o CD, vale dizer –, e a grudenta “Immaterial Essence of Things”, que é dessas canções que ficam na sua cabeça por horas. Vale dizer que a edição brasileira vem com o EP Adultery of Soul (15) de bônus.

A produção, mixagem e masterização foram realizadas por Alberto SantaCruz, e o resultado é bom, já que conseguiu deixar tudo bem claro e audível, sem que para isso tivesse que abrir mão daquele ar mais cru e de boas doses de sujeira, algo obrigatório quando falamos do estilo. A capa de Marcos Miller se encaixou com perfeição na proposta sonora do quarteto. O encarte da versão nacional foi obra de Filipe Silva. Como já dito, o Verthebral não apresenta nenhuma grande novidade, mas se ainda não possui aquela identidade que te permite reconhecer a banda de primeira, deixa muito evidente o potencial existente para conseguir alcançar tal objetivo. Se você é fã dos nomes citados na resenha, pode ir sem medo, já que Regeneration foi feito sob medida para que aprecia o bom e velho Death Metal dos anos 90.

NOTA: 79

Verthebral é:
Cristhian Rojas (vocal/baixo);
Daniel Larroza (guitarra);
Alberto Flores (guitarra);
Gabriel Galeano (bateria).

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Spiritual Hate - Diabolical Dominium (2017)


Spiritual Hate - Diabolical Dominium (2017)
(Abiosis Rec. - Nacional)


01. Intro
02. Excomunium
03. Awaiting Fucking Jesus
04. Honour Et Gloriam
05. Ignorance Brounght the Decandence
06. From the Purity to Fornication
07. Behind the Lies of God
08. Sentenced by Dawn
09. Diabolical Dominium

O Spiritual Hate não se trata de uma banda novata, afinal, sua formação se deu no ano de 2007, na cidade de Diadema/SP. Devido às dificuldades oriundas do underground brasileiro, a caminhada até o seu debut demorou nada menos de 10 anos – nesse tempo chegaram a lançar um split e um EP -, o que nos faz lamentar, dada a qualidade do material que encontramos em Diabolical Dominium.

Sem procurar reinventar a roda, praticam um Death Metal que tem seus 2 pés muito bem fincados nos anos 90, seguindo aquela sonoridade que foi consagrada por nomes como Morbid Angel e Deicide. Sendo assim, você já fica avisado que irá se deparar com uma música enérgica, bruta, odiosa, com boa técnica e que transborda blasfêmia em suas letras. Tudo soa muito coeso e bem feito, até porque nesses 10 anos tiveram tempo para maturar suas canções, que felizmente, não apostam apenas na velocidade. A inclusão de algumas passagens mais cadenciadas acaba ajudando demais a dar variedade à obra.


Após uma breve introdução, “Excomunium” chega explosiva e destroçando tudo que encontra pela frente com seus riffs pesados e ótima bateria. “Awaiting Fucking Jesus” é certamente uma das melhores canções aqui presentes, dada a sua brutalidade, enquanto “Honour Et Gloriam” consegue equilibrar bem velocidade e cadência. “Ignorance Brounght the Decandence” é bem direta e básica, feita na medida para moer pescoços. Já a furiosa “From the Purity to Fornication”, além dos ótimos riffs, se destaca por sua parte rítmica, algo que também ocorre na faixa seguinte, “Behind the Lies of God”. “Sentenced by Dawn” tem alto potencial destrutivo de tímpanos alheios – ao menos aqueles menos treinados no Metal Extremo -, e “Diabolical Dominium” encerra tudo de forma bruta e variada.

A produção foi realizada por Victor Prospero, com mixagem e masterização realizadas por Marcos Cerruti. O resultado é bom, pois, aliou muito bem peso, agressividade, crueza e clareza, dando organicidade a tudo. Já a capa, concebida por Carlos Renato e Magnus Hellhound, e com arte final de Felipe Moriarty, é uma adaptação blasfema de uma das versões de Flagelação de Cristo, de Caravaggio (1571-1610). Com um Death Metal bruto, infame e competente, o Spiritual Hate não inventou e entregou um debut que vai agradar em cheio a todos os fãs do estilo. Que venha logo o segundo álbum.

NOTA: 81

Spiritual Hate (gravação):
- Magnus Hellhound (vocal/guitarra);
- Blackmortem (guitarra);
- Victor Prospero (baixo).
Músico convidado:
- Gabriel Guerra (bateria).

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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Vakan – Vagabond (2018)


Vakan – Vagabond (2018)
(MS Metal Records – Nacional)


01. Orbis
02. Beyond Mankind
03. Russian Roulette
04. Moving On
05. Euphoria
06. Diary of P. Stuart
07. Interlude: Eremita
08. The Flow of Matter
09. Presumption of Guilt – ótima, variada
10. Vagabond Pt I – Princes and Principles
11. Vagabond Pt II – Utopia
12. Vagabond Pt III – 1st Law: Chaos
13. Vagabond Pt IV – Epitome, Epitaph

O Rio Grande do Sul sempre gerou ótimas bandas nas vertentes mais extremas do Metal, mas eventualmente podemos observar bons nomes oriundos de estilos mais tradicionais vindos de lá. Surgido no ano de 2010, na cidade de Santa Maria, o quarteto Vakan é um nome que se encaixa com perfeição nesse caso. Formado por Matheus Oliveira (vocal), Alexandre Marinho (guitarra), Natanael Couto (baixo) e Lucas Oliveira (bateria), lançaram um EP em 2012, Freeze!, e no final do ano passado finalmente soltaram seu debut, Vagabond.

Apresentando um Heavy/Power que não nega a influência de medalhões como Iron Maiden, Judas Priest e Helloween, fogem da simples emulação inserindo elementos de música regional em sua sonoridade, que surgem de maneira muito equilibrada e bem encaixados nas canções. Suas canções mostram boa coesão, energia, técnica na medida e bons desempenhos individuais dos músicos envolvidos. É uma música que se deixa escutar com bastante facilidade, e que cativa os fãs do estilo sem muito esforço. Ajuda muito nisso não só as melodias agradáveis, como também a variedade, já que conseguem equilibrar bem passagens mais rápidas com outras mais cadenciadas.


Após a introdução com “Orbis”, temos uma sequência de 4 canções bem diretas e enérgicas, que ajudam demais na boa impressão que o álbum deixa. “Beyond Mankind” não nega as suas influências de Iron e Judas, com boas melodias, refrão marcante e bom trabalho vocal. “Russian Roulette” é outra que se destaca pelo bom trabalho de guitarra, assim como “Moving On”. Euphoria possui boas melodias e um ótimo refrão. Daí para frente, a banda começa a se diferenciar da concorrência, com a introdução de ritmos regionais em sua música. E vale dizer que fazem isso com competência ímpar, sem exageros. “Diary of P. Stuart” mescla bem esses elementos com o Heavy/Power da banda, contando inclusive com um acordeom, o que se repete no interlúdio “Eremita”. Guiada por um violão “The Flow of Matter” é uma das canções mais belas de todo álbum, enquanto “Presumption of Guilt” se mostra bem variada. Mas o ponto alto sem dúvida, são as 4 partes da faixa-título, que encerra o álbum. Passagens pesadas se misturam com outras acústicas e com influência de música regional, resultando em uma música riquíssima e muito variada.

A produção ficou por conta da banda e de Leo Mayer, sendo que este último também foi o responsável pela mixagem e masterização. Dentro das dificuldades que conhecemos do nosso underground, o resultado é bom, equilibrando peso, clareza e crueza, não comprometendo o CD. Talvez um pouco menos de crueza no próximo trabalho, mas isso faz parte do processo de crescimento de uma banda. Já a capa foi obra de Rafael Sarmento. Com Vagabond, o Vakan se credencia como uma das bandas mais promissoras do cenário nacional, valendo ficar muito atento aos seus próximos passos. Se você curte Heavy/Power de qualidade, não vai se arrepender de escutar Vagabond.

NOTA: 83

Vakan é:
Matheus Oliveira (vocal);
Alexandre Marinho (guitarra);
Natanael Couto (baixo);
Lucas Oliveira (bateria).

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Swallow the Sun – When a Shadow Is Forced into the Light (2019)


Swallow the Sun – When a Shadow Is Forced into the Light (2019)
(Century Media – Importado)


01. When a Shadow is Forced into the Light
02. The Crimson Crown
03. Firelights
04. Upon the Water
05. Stone Wings
06. Clouds on your Side
07. Hear on the Black Earth
08. Never Left

Mesmo em um mundo como o de hoje, de relacionamentos fluídos, líquidos, onde poucos se permitem sentir além da superficialidade, o amor ainda é a mais forte de todas as forças motrizes existentes. É ele que faz girar a grande roda da vida, pois, querendo ou não, é um sentimento intrínseco ao ser humano, mesmo que este não o deixe vir à tona, dada as agruras da nossa existência. É o amor, por algo ou alguém, que sempre faz com que as pessoas deem um passo a frente, mesmo com a escuridão diante de si. Amar é muito forte, e como qualquer sentimento de tamanha intensidade, carrega ao seu lado a dor, que surge forte e inominável nos momentos de perda. Amor, perda e dor, tudo isso define o novo álbum do Swallow the Sun.

Quando fechou o ano de 2015, o futuro do Swallow the Sun parecia brilhante, pois, haviam lançado uma verdadeira obra-prima, o álbum triplo Songs from the North I, II & III, onde mostraram todas as suas facetas, do Funeral Doom ao Gothic Rock. A única incerteza existente era de qual o caminho a ser seguido, dada a grande variedade apresentada no trabalho em questão. Eis então, que no dia 18 de abril de 2016, Aleah Starbridge (Trees of Eternity), companheira de Juha Raivio, fundador e força criativa por detrás da banda, perdeu sua batalha para o câncer. Diante de toda a dor, o futuro do grupo finlandês se tornou uma incógnita.

Felizmente, Raivio optou por expurgar sua dor através da música. O primeiro passo foi lançar o álbum do Trees of Eternity, que já se encontrava na pós-produção, como uma primeira homenagem a sua companheira. Na sequência, surgiu o Hallatar, um tributo a Aleah, onde ao lado do vocalista Tomi Joutsen (Amorphis) e do baterista Gas Lipstick (ex-HIM), deu uma roupagem Doom/Death as letras e poesias que ela havia escrito, lançando o ótimo No Stars upon the Bridge (17). O passo seguinte foi voltar a trabalhar em um álbum do Swallow the Sun. Vale dizer que ainda está programado o lançamento de um trabalho com canções solo de Aleah.


When a Shadow Is Forced into the Light, título retirado da canção Broken Mirror, do Trees of Eternity, é um trabalho profundo e de muitas texturas, possuindo um grande peso emocional, dada toda a história de perda por parte de Raivio. Toda essa bagagem que já vem junto com o álbum não pode ser ignorada. Outra questão importante, é o fato dele ter sido precedido no final de 2018 pelo EP Lumina Aurea, canção não presente aqui, e que vejo como uma espécie de prólogo. A audição da mesma antes se faz recomendada. Contando com participações de Einar Selvik (Wardruna) e Marco Benevento (The Foreshadowing), é uma música que vai te fazer entender muito do momento pelo qual passava Juha Raivio quando da composição do álbum. Altamente sombria e experimental, explora o lado mais profundo e escuro de sua alma. Transborda solidão e dor, e enxergo como a forma de expurgar os demônios que o afligiam. When a Shadow Is Forced into the Light não sairia como saiu, se não fosse por Lumina Aurea.

Marcando a estreia do guitarrista Juho Räihä e do tecladista Jaani Peuhu – ambos tocam ao vivo no Hallatar –, musicalmente When a Shadow Is Forced into the Light é um trabalho não tão pesado como nos acostumamos, quando pensamos no Swallow the Sun. O peso maior não está contido no instrumental, mas no clima sombrio e obscuro que perpassa as 8 canções aqui presentes. Elementos de Doom, Gothic, Post Metal e Black se misturam, gerando uma música altamente emocional e de dor pungente. Pode soar mais leve aos ouvidos em alguns momentos, mas esse peso implícito, e a forte carga emocional gerada, acaba dando a mesma um clima altamente opressor.

Os vocais de Mikko Kotamäki continuam entre os melhores do estilo, e ele é sem dúvida um dos grandes diferenciais do álbum. Não importa se canta limpo ou gutural, ele consegue passar toda a emoção que as músicas pedem de uma forma fantástica. Os backings do tecladista Jaani Peuhu – que faz uma bela estreia, já que seus teclados influenciam muito no clima mais sombrio -, também ajudam demais nessa missão. As guitarras de Raivio e Juho Räihä abusam da criatividade, mesclando elementos diversos e adicionando boas doses de melodia e melancolia, sendo essenciais para o resultado obtido. Na parte rítmica, Matti Honkonen (baixo) e Juuso Raatikainen (bateria) esbanjam técnica, peso, e conseguem dar variedade ao trabalho.


De cara, temos a melancólica “When a Shadow is Forced into the Light” e seu jogo de luz e sombras, equilibrando momentos mais pesados com outros maus suaves. Destaque para as partes sinfônicas e o belo trabalho de baixo e bateria. “The Crimson Crown” é um dos pontos altos do álbum, com peso e um clima fortemente emocional. Forte candidata a se tornar um clássico da banda. “Firelights” é pesada e emocionante, e possui uma visceralidade que a coloca em posição de primazia dentro do trabalho, sendo outra que cairá no gosto dos fãs. “Upon the Water” é mais uma que se destaca pela atmosfera e pelas melodias. Em certo momento, ela te passa uma sensação de angústia, um aperto no peito, que acaba sendo quebrado pelos ótimos vocais limpos de Kotamäki.

“Stone Wings” abre a segunda metade pendendo mais para o Gothic Rock, e poderia estar sem muitos problemas no CD 2 de Songs from the North, por mais que os guturais que surgem na parte final, tragam um pouco mais de peso a mesma. “Clouds on your Side” é possivelmente o momento mais emocionante do álbum, já que tanto a música quanto a letra, contaram com a participação de Aleah em sua composição. É uma canção dolorida, que dilacera em muitos momentos, mas que também consegue trazer luz. Emocionante. “Hear on the Black Earth” tem um clima que te prende, e equilibra muito bem partes pesadas com outras mais suaves. E o refrão é um dos melhores de todo trabalho. Encerrando, temos a agridoce “Never Left”. A forma como ela consegue soar, ao mesmo tempo, desoladora e otimista, faz dela algo único, e um encerramento perfeito para When a Shadow Is Forced into the Light.

Gravado no Fascination Street Studios, e contando com a ajuda do onipotente, onisciente e onipresente Jens Bogren, o álbum foi produzido Raivio e Peuhu, e teve masterização de Tony Lindgren (Amorphis, Dimmu Borgir, Katatonia, Orphaned Land). O resultado é ótimo. A belíssima capa foi obra de Fursy Teyssier (Alcest, Hallatar, Lantlôs, Trees of Eternity), e se conecta diretamente com a de Lumina Aurea, feita por Līga Kļaviņa. Sem abrir mão da emoção em momento algum, e com uma carga emocional muito forte, When a Shadow Is Forced into the Light um álbum denso, que reflete toda a dor de uma perda, mas também a esperança do recomeço. Que com ele, Raivio tenha encontrado a paz de espírito que parece tanto buscar. Desde já, forte candidato a álbum do ano! Aos interessados, a Urubuz Records lançará uma versão nacional do mesmo.

“Eu não sei se a vida é maior que a morte, mas o amor foi maior que ambas.”
(Tristão e Isolda)


NOTA: 93

Swallow the Sun é:
- Mikko Kotamaki (vocal);
- Juha Raivio (guitarra e teclado);
- Juho Raiha (guitarra);
- Matti Honkonen (baixo);
- Juuso Raatikainen (bateria);
- Jaani Peuhu (teclado e vocal).

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Nailed to Obscurity – Black Frost (2019)


Nailed to Obscurity – Black Frost (2019)
(Nuclear Blast Records – Importado)


01. Black Frost
02. Tears of the Eyeless
03. The Aberrant Host
04. Feardom
05. Cipher
06. Resonance
07. Road to Perdition
Bônus Track
08. Abyss (2019 Version)
09. Autumn Memories (2019 Version)
10. Fallen Leaves (2019 Version)

Eis um lançamento que eu esperava com certa ansiedade. Para quem não conhece, o Nailed to Obscurity é uma banda alemã, surgida no ano de 2007, e que se envereda pelos caminhos do Melodic Doom/Death Metal. Vindo de uma sequência de 2 ótimos álbuns, Opaque (13) e King Delusion (17), conseguiram um contrato com a Nuclear Blast, o que certamente vai possibilitar ao quinteto formado por Raimund Ennenga (vocal), Jan-Ole Lamberti (guitarra), Volker Dieken (guitarra), Carsten Schorn (baixo) e Jann Hillrichs (bateria), um reconhecimento merecido.

King Delusion foi uma das surpresas mais agradáveis de 2017, e sem dúvida alguma, um dos melhores álbuns daquele ano. A forma como conseguiram mesclar peso, agressividade, melodia e uma atmosfera mais emocional, beirou a perfeição e os colocou entre as melhores bandas do estilo. Debutando pela maior gravadora de Metal da atualidade, o mais lógico seria apostar na segurança e repetir a fórmula do trabalho anterior, mas os alemães resolveram subverter essa lógica e simplesmente dar um passo a frente em seu processo evolutivo.

O que observamos em Black Frost, é que optaram por algo um pouco mais experimental, com uma maior presença de elementos Progressivos e menos peso nas canções. Para situar melhor o leitor, é como se o Opeth de início de carreira e o Katatonia atual se casassem e tivessem um filho e dessem a ele o nome de Nailed to Obscurity. Menos pesado e mais progressivo, Black Frost pode ter um efeito menos impactante no ouvinte em um primeiro momento, mas a medida que as audições vão ocorrendo, vai crescendo, e sua qualidade se torna inegável.


Os guturais de Ennega continuam excelentes, e em alguns momentos podem remeter aos de  Åkerfeldt nos primórdios do Opeth, o que convenhamos, não é demérito algum. Ele também faz um uso maior dos vocais limpos, que funcionam bem e estão satisfatórios. Está aí algo que pode vir a melhorar no futuro. As guitarras de Lamberti e Dieken realizam um trabalho fantástico, não só entregando ótimos riffs, como equilibrando peso e melodias. Quanto a parte rítmica – com o baixista Carsten Schorn e o baterista Jann Hillrichs – realizam um trabalho seguro, preciso e técnico, dando boa variedade as canções aqui presentes.

“Black Frost” já nos dá de cara um bom cartão de visitas. Atmosfera obscura, bons riffs, toques de Progressivo e uma boa variação entre vocais limpos e guturais. “Tears of the Eyeless” mostra boa intensidade e trafega com muita naturalidade entre o pesado e o melódico. “The Aberrant Host” apresenta alguns dos momentos mais pesados de todo álbum, e possui uma atmosfera bem sinistra, que também se faz presente em “Feardom”. “Cipher” é uma canção bem emocional e com um que de Katatonia, mas sem soar como cópia, já que o Nailed to Obscurity tem uma identidade toda sua. “Resonance” é simples, tem bom peso e um toque gótico que a diferencia das demais, e “Road to Perdition” encerra o trabalho de forma primorosa. Mesclando suavidade e agressividade, ela acaba por ser uma fotografia perfeita do álbum, definindo o momento atual da banda. A versão em Digipack conta com 3 faixas bônus, “Abyss”, “Autumn Memories” e “Fallen Leaves”

Gravado no Woodshed Studio, na Alemanha, mais uma vez o trabalho de produção ficou nas mãos de V. Santura (Triptykon, Sulphur Aeon, The Ruins of Beverast, Obscura, Dark Fortress), com ótimos resultados. Como em time que está ganhando não se mexe, para a capa, repetiram a parceira do CD anterior, com o argentino Santiago Caruso (Jupiterian, October Falls). King Delusion elevou em muito o nível, e superá-lo era uma tarefa muito difícil. Se conseguiram ou não, isso fica muito da opinião do ouvinte, mas o fato de terem se recusado a seguir uma fórmula pronta e repetir o antecessor, é algo muito positivo, e não dá para negar que essa linha mais atmosférica/progressiva funcionou bem para o Nailed to Obscurity. Se você é fã de bandas como Katatonia, Opeth, Décembre Noir, October Tide e Swallow the Sun, certamente vai aprovar Black Forst.

NOTA: 87

Nailed to Obscurity é:
- Raimund Ennenga (vocal);
- Jan-Ole Lamberti (guitarra);
- Volker Dieken (guitarra);
- Carsten Schorn (baixo);
- Jann Hillrichs (bateria).

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