segunda-feira, 20 de maio de 2019

Rammstein – Rammstein (2019)


Rammstein – Rammstein (2019)
(Universal Music – Importado)


01. Deutschland
02. Radio
03. Zeig Dich
04. Ausländer
05. Sex
06. Puppe
07. Was Ich Liebe
08. Diamant
09. Weit Weg
10. Tattoo
11. Hallomann

Em uma época onde a essência do Rock parece estar se perdendo, com o conservadorismo aumentando em suas fileiras, o Rammstein se mantêm firme, carregando consigo o espírito do estilo. Shows grandiosos, extravagantes e bombásticos, vídeos e letras que chocam, provocam, contestam e colocam o dedo em diversas feridas. O Rock nasceu para ser controverso, e não para agradar pais de família, e é isso que o grupo alemão representa. Em contrapartida, em um mundo onde qualquer subcelebridade possui milhões de seguidores em suas redes sociais, e fazem de tudo para estar em evidência nas mídias – algo típico das estrelas do Rock no passado –, o sexteto formado por Till Lindemann (vocal), Richard Z. Kruspe (guitarra), Paul Landers (guitarra), Oliver Riedel (baixo), Christian “Flake” Lorenz (teclado) e Christoph “Doom” Schneider (bateria), raramente dá entrevistas, ou se envolve em polêmicas em suas vidas pessoais. O Rammstein é o epítome e a antítese do Rock.

Foram 10 anos sem lançar material inédito, ao mesmo tempo, em que lotavam arenas ao redor do mundo, algo que poderia soar contraditório décadas atrás, mas que em uma época marcada por downloads e streamings, se tornou algo comum para nomes que atingiram a grandeza do Rammstein. Seus shows, literalmente inflamáveis e performáticos, fazem jus a fama que a banda adquiriu ao vivo, e não acho exagero afirmar que nesse ponto, são um Kiss mais “depravado”. Entretanto, um paralelo mais perigoso poderia vir a ser traçado nessa comparação com os americanos, o da banda que vive apenas de músicas do passado – me desculpem os fãs, mas hoje é exatamente isso –, e de apresentações grandiosas no presente. Isso é errado? Para uma banda que atingiu o nível de lenda, como o Kiss, nem um pouco, já para os alemães, seria uma tremenda injustiça. Por isso, ano passado, em entrevista ao Consequence of Sound, Richard Kruspe declarou: “Uma das razões para voltar a gravar com o Rammstein é para equilibrar a popularidade da banda como uma atração ao vivo na música atual. Com o Rammstein, as pessoas tendem a falar dos fogos e das coisas de shows. Eu penso: não quero ser como outro Kiss, onde as pessoas falam da maquiagem e coisas do tipo, mas ninguém fala da música”.


Pois bem! Aqui está o sucessor de Liebe is für alle (09), algo que os fãs ansiavam faz tempo. Essa espera de 10 anos valeu a pena? Bem, é o que pretendo responder aqui. Traçando paralelos com outras lendas, o Rammstein é uma espécie de AC/DC, de Motörhead, da NDH (Neue Deutsche Härte). Quando você pega um álbum da banda para escutar, sabe exatamente o que vai encontrar. Vocais inconfundíveis – a força da presença de Till Lindemann é algo inquestionável –, com versos cantados de forma quase falada, e de forma enérgica nos refrões, guitarras agressivas que despejam riffs mecanizados, sintetizadores grandiosos, parte rítmica certeira, letras perversas, contundentes e polêmicas, cantadas em alemão, com algumas incursões em outras línguas, e claro, aquela balada perdida bem lá no meio. Essa receita, seguida a risca nos últimos 25 anos, sofreu poucas mudanças, e fez do sexteto uma banda única, inconfundível. Por mais que muitos tentem copiá-los, quando começa a tocar Rammstein, você já reconhece de primeira. São inconfundíveis.

Em seu 7º álbum de estúdio, isso não é diferente, e a fórmula da banda continua se fazendo bem presente. Existe um ou outro momento em que procuram sair do que se espera, mostrando certa diversidade, algo que pode ser creditado aos trabalhos de Kruspe com o Emigrate, mas na maior parte do tempo entregam aos fãs o que eles desejam, mesmo soando um pouco mais melodioso e menos pesado do que nos acostumamos no passado. Aliás, aqui está minha primeira crítica ao álbum, ele não soar tão pesado quanto chegam a sinalizar em algumas canções, já que optaram por algo ligeiramente mais calmo e pendendo mais para o lado eletrônico. Em muito momentos, essa opção coloca Flake e seus sintetizadores em evidência, se confrontados com as guitarras de Kruspe e Paul Landers, mas não é nada que comprometa de verdade. É mais uma questão de gosto pessoal da minha parte. O que realmente compromete de alguma forma, a meu ver, é a disposição das faixas no álbum. Ele não alterna muito bem músicas mais “calmas” com as mais agitadas, tanto que dá uma ligeira caída na sua segunda metade, justamente por isso.

De cara, já temos a mais do que conhecida “Deutschland”, grandiosa, magistral, com ótimas guitarra e sintetizadores. Já nasceu clássica e mostra a face mais pesada da banda. Na sequência, o segundo single do álbum, “Radio”, onde o enfoque maior na música eletrônica coloca os sintetizadores de Falke como a alma da canção. O refrão é daqueles típicos da banda, curto e fácil de cantar em qualquer língua. Não se deixe enganar pelo coro clássico no início de “Zeig Dich”, já que aqui as guitarras pesadas de Kruspe e Landers dão o tom. É uma música padrão do Rammstein? Sim, mas é forte e poderosa. “Ausländer” pende para a EDM, mesclando batidas bem dançantes com algum peso nas guitarras. É o tipo de música que poderia ser tocada em uma rave sem qualquer  estranhamento. “Sex” é outra bem típica do sexteto, apesar de pender mais para o Rock do que para o Metal, sofrendo influências mais diretas de nomes como Emigrate e Volbeat. Chegamos então no ponto central do álbum, com “Puppe”. Intensa, complexa, e ameaçadora, começa com vocais mais calmos de Till, até ele explodir em desespero no refrão. É daquelas que grudam por dias na cabeça, e certamente a melhor de todas as músicas aqui presentes.Daqui em diante, o álbum dá uma virada, seguindo um enfoque um pouco mais calmo. 


“Was Ich Liebe” já é velha conhecida dos fãs da banda, pois, sua letra, é um poema do segundo livro de Till, que o Rammstein tenta musicar a mais de 10 anos. Na primeira tentativa, acabou sendo deixada de lado, com seu instrumental sofrendo algumas modificações e indo parar em nada menos do que “Pussy”. Já nessa segunda tentativa, a coisa continuou sem funcionar muito bem, com suas guitarras acústicas, sintetizadores um tanto esquisitos, e riffs que não combinam tanto com a banda. Talvez a mudança na forma de compor os tenha afetado, já que em uma composição normal, a letra vem sempre depois da música já pronta. Aqui a música é construída em torno da letra. “Diamant” é uma balada acústica, chorosa, e com melodias e vocais suaves. Ficou chata e comum, e poderia ser limada do álbum sem comprometê-lo em nada. A cativante “Weit Weg” possui uma aura oitentista, com um uso pesado dos sintetizadores, e uma melodia muito agradável. É algo que eu conseguiria ver o Depeche Mode fazendo, se tivesse um pouco menos de peso. Já “Tattoo” é o Rammstein clássico. Metal Industrial pesado, explosivo e com uma ótima bateria. Encerrando, temos a sombria “Hallomann”, com seu baixo distorcido, seus sintetizadores que dão um ar assombroso a canção, e um bom trabalho de guitarras.

A produção ficou a cargo de Olsen Involtini (Emigrate, Lindemann, Unheilig) e da própria banda, com mixagem de Rich Costey (Rage Against The Machine, Muse), e masterização de Svante Forsbäck (Amorphis, Candlemass, Lindemann, Volbeat). O resultado beira a perfeição, pois conseguiu deixar tudo cristalino, mas ainda assim pesado. Nada menos do que a música do Rammstein merece. Já a capa, minimalista, mas de muitos significados, foi obra da Rocket & Wink. Nesse ponto, voltamos a pergunta feita alguns parágrafos acima. Essa espera de 10 anos valeu a pena? Afirmo sem medo que valeu! É um álbum brilhante? Não chega a esse ponto, mas é um trabalho que cumpre bem o seu papel, honrando o legado da banda, e provando que são muito mais do que shows recheados de pirotecnia e performances extravagantes. E daí se a maior parte das canções se limita ao mais do mesmo, sem apresentar grandes novidades ou inovações. Como disse uma amiga, se quiséssemos inovações, iríamos escutar um álbum da Lady Gaga, e não Rammstein. Aqui, queremos boa música e diversão, e isso você vai encontrar com sobras.

NOTA: 84

Rammstein é:
- Till Lindemann (vocal)
- Richard Z. Kruspe (guitarra)
- Paul Landers (guitarra)
- Oliver Riedel (baixo)
- Christian “Flake” Lorenz (teclado)
- Christoph “Doom” Schneider (bateria)

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sexta-feira, 17 de maio de 2019

Rotten Filthy - The Hierophant (2018)


Rotten Filthy - The Hierophant (2018)
(Independente - Nacional)


01. Freezing Desolation
02. Monarchy of Bliss
03. The Wise and His Servants
04. Into a Sacred Rite
05. Principle of Pain
06. Tyet
07. Lady of Sword
08. V
09. At the Depths of Your Realm
10. Ancient Pray

A Rotten Filthy surgiu no ano de 2010, na cidade gaúcha de Cachoeira do Sul, e seguindo a tradição de muitas bandas do Estado, tratou de se enveredar pelas vertentes mais extremas do Metal, no caso aqui, o Thrash/Death. No ano de 2012 estrearam com o EP Empires Will Fall, e 3 anos depois lançaram seu debut, o bom Inhuman Sovereign, onde ficou bem claro para todos que o ouviram, que estávamos diante de uma formação muito promissora. Dessa forma, iniciei a audição de The Hierophant com a melhor das expectativas.

A primeira coisa que me chamou a atenção, foi que quarteto formado pelo vocalista James Pugens (estreando em estúdio com a banda), o guitarrista Alex Mentx, o baixista Marcelo Caminha Filho e o baterista Guilherme Machine, trouxe novos elementos para a sua música, mas sem abandonar a sonoridade que caracterizou seu debut. Ao Thrash/Death apresentado na estreia, adicionaram elementos de Hardcore, Metal Tradicional e até mesmo influências de Jazz podem ser observadas, dado os tempos mais quebrados e as variações que observamos nas canções. Isso deu uma riqueza muito maior ao trabalho, além de mostrar toda a criatividade de uma banda que procura sair do lugar-comum.

Mas nem tudo são flores. A qualidade da gravação retrocedeu em comparação com o debut. Por mais que sua música seja criativa, e que você consiga distinguir todos os instrumentos – a mixagem e masterização foram bem-feitas -, a banda optou por fazer algo que se aproximasse mais de como soariam ao vivo, e isso não funcionou bem, ao menos da forma como executaram em The Hierophant. A crueza excessiva tirou parte da força das composições e te faz lamentar a falta de algo um pouco mais trabalhado e encorpado. Isso gera uma bizarra contradição. The Hierophant é um álbum superior a Inhuman Sovereign, se abordado dos pontos de vista da música e da criatividade, mas a audição do trabalho anterior me soa mais agradável.


“Freezing Desolation” tem boas mudanças de ritmo e um solo muito bonito e melodioso, mas a falta de uma guitarra base nesse último – olha a tentativa de soar ao vivo aqui -, simplesmente não funcionou. Na sequência, “Monarchy of Bliss” traz mais cadência ao álbum, e um ótimo desempenho da parte rítmica, mas os vocais guturais não se encaixaram tão bem na canção, pelo menos aos meus ouvidos. “The Wise and His Servants” entrega bons riffs e um ótimo trabalho de baixo; “Into a Sacred Rite” é enérgica e bem variada; “Principle of Pain” mostra não só boa técnica, como também um bom groove. Na segunda metade, “Tyet” tem peso e cadência; “Lady of Sword” tem algo “sabbathico” nas guitarras; “V” é uma instrumental bem técnica; “At the Depths of Your Realm” se destaca pelo bom trabalho de guitarra, enquanto “Ancient Pray” encerra o álbum de uma forma bem densa e diversificada.

Gravado no estúdio Betel, em Cachoeira do Sul/RS, o álbum teve sua mixagem e masterização realizadas por Bollet, no Civil Alien Studios, em Los Angeles, Estados Unidos. Como já dito antes nessa resenha, a falha aqui ocorreu na gravação, na forma como optaram soar. Já a capa é obra do baterista Guilherme Machine, e consegue soar ao mesmo tempo, simples, e cheia de significados. Muito boa! É indiscutível que o Rotten Filthy se mostra criativo e diferenciado em seu segundo álbum, nos apresentando uma música bem técnica, variada e que agrega novas e boas influências. Falta agora dar a produção merecida ao seu trabalho, porque competência para voos mais altos, inclusive eem nível internacional, eles possuem.

NOTA: 78

Rotten Filthy (gravação):
- James Pugens (vocal)
- Alex Mentz (guitarra)
- Marcello Caminha Filho (baixo)
- Guilherme Machine (bateria)

Participações especiais:
- Marcello Caminha (violão nas faixas Freezing Desolation e Ancient Pray)
- Bollet (vocal em Principle of Pain)

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