sexta-feira, 23 de julho de 2021

Heavy Smasher - Heavy Smasher (2021)

 


Heavy Smasher - Heavy Smasher (2021)
(Roadie Metal - Nacional)

01 - We Are Angels
02 - Heavy Smasher Sound
03 - Sunrise Rebel
04 - Clash of the Gods
05 - FireFight
06 - Face Up Reality
07 - In The Abyss
08 - Screaming All
09 - To Be Strong
 
Ser uma banda de Heavy Metal no Brasil não é fácil, por diversos fatores internos e externos da cena underground. Surgida no ano de 2013 em Fortaleza/CE, a Heavy Smasher passou por todas as agruras que boa parte das bandas independentes passam, até finalmente conseguir estabilizar sua formação, que hoje conta com Nildo Gomes (vocal), Nando Smasher e Diego Quântico (guitarras), Luis Paulo (baixo) e Bruno Rocha (bateria). Com um EP, “Smasher and Loud”, lançado em 2018 - mas gravado em 2016 -, a banda acaba de lançar seu primeiro full, tema dessa resenha.

Marcando a estreia da atual formação em estúdio, “Heavy Smasher” contém as 4 músicas lançadas originalmente em “Smasher and Loud”, “Heavy Smasher Sound”, “Clash of the Gods”, “Sunrise Rebel” e “Screaming All”, e que foram regravadas, além de outras 5 músicas inéditas compostas especialmente para o trabalho. Musicalmente, o que encontramos é uma banda com seus dois pés muito bem  fincados no Heavy Metal Tradicional, e com influências latentes de nomes como Judas Priest, Accept, Dio, Iron Maiden, Saxon e afins. Além disso, elementos de Hard Rock são inteligentemente inseridos aqui e ali, dando não só um tempero a mais à música do quinteto.

Com um Heavy Tradicional bem direto, e sem espaço para modernidades - mas faz-se necessário frisar, nada datado -, nos encontramos diante de um trabalho muito pesado, agressivo e que, apesar das influências latentes, não soa como cópia dos nomes citados no início, já que consegue transformar influência em identidade própria. Os vocais de Nildo Gomes se destacam pela força e por dar as canções, essa agressividade citada. A dupla de guitarristas formada por Nando e Diego são responsáveis não só por entregar riffs fortes, como também por alguns solos de muita qualidade. A parte rítmica, com Luís e Bruno se sai muito bem, dando peso e variedade as canções.


Quanto as músicas, são 9 canções que vão direto ao ponto, entregando tudo que um fã do estilo quer ouvir. Chama a atenção a capacidade da banda de forjar bons refrões, já que eles surgem por todos os cantos aqui, caso, por exemplo, da faixa de abertura, “We Are Angels”. “Heavy Smasher Sound”, a faixa seguinte, tem uma saudável pegada Hard, além de um belo solo, enquanto “Sunrise Rebel” entrega um bom trabalho das guitarras. “Clash of the Gods” se destaca principalmente pelo peso, e é outra que conta com um belo solo; “FireFight” empolga desde as primeiras notas, e certamente vai te fazer bater cabeça, e “Face Up Reality” conta com algumas passagens mais cadenciadas que são bem interessantes. Já “Into the Abyss” é a faixa “diferentona” do álbum, com uma introdução arrastada, que você esperaria vindo de uma banda de Doom Metal, e riffs totalmente calcados em Black Sabbath. Sem dúvida uma agradável surpresa. O trabalho se encerra com o Hard Rock de “Screaming All”, e com a pesada e forte “To Be Strong”.
 
Do ponto de vista da produção, o material na média que vemos nas boas produções brasileiras. Todos os instrumentos estão claros, pesados, e com uma certa crueza. Foi toda realizada por Taumaturgo Moura, no VTM Studio. Nesse quesito, por uma questão de gosto pessoal meu, penso que poderiam refinar um pouco mais a produção no próximo álbum, mas nada exagerado. Já a capa é obra de Leandro Cotta, e traz referências a cada uma das músicas do álbum, além de uma homenagem a um dos grandes nomes da história do Metal.

A Heavy Smasher é dessas bandas que opta por não reinventar a roda, e isso acaba sendo extremamente positivo. Praticando um Heavy Metal Tradicional consistente, maduro, e com uma cara própria, certamente vai agradar em cheio a todos os fãs do estilo. Uma boa estreia, que mostra que a banda está no caminho certo. Agora é só lapidar um pouco mais sua sonoridade, para logo estar brilhando no primeiro escalão do Heavy Metal Nacional.
 
Heavy Smasher é:
Nildo Gomes (vocal)
Nando Smasher (guitarra, vocal de apoio)
Diego Quântico (guitarra, vocal de apoio)
Luis Paulo (baixo, vocal de apoio)
Bruno Rocha (bateria)

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Pérolas do Cancioneiro Popular: Pain of Salvation – One Hour by the Concrete Lake (1998)

 

Pain of Salvation - One Hour by the Concrete Lake (1998)
(InsideOut Music - Importado)

01.  Spirit of the Land
02.  Inside
03. The Big Machine
04. New Year's Eve
05. Handful of Nothing
06. Water
07. Home
08. Black Hills
09. Pilgrim
10. Shore Serenity
11. Inside Out

Você sabe que uma banda é realmente boa no que faz, quando ela consegue fazer uma pessoa que não é fã do estilo, gostar do seu trabalho. Esse é o caso do Pain of Salvation. Não escondo de ninguém que o Prog Metal está longe de ser um dos meus estilos preferidos, mas quando se trata de um álbum dos suecos, eu simplesmente me esqueço disso. A banda capitaneada pelo genial Daniel Gildenlöw sempre presenteia seus fãs com trabalhos ousados e brilhantes, por mais que em alguns casos, você precise de um pouco mais de tempo para se acostumar com a proposta de alguns álbuns.

“One Hour by the Concrete Lake” é um álbum conceitual, divido em 3 partes. Ele acompanha um homem que trabalha na indústria de armas, e que, após começar a questionar a moralidade do que faz, resolve deixar de ser uma engrenagem dessa grande máquina que controla a sua vida. Essa é a premissa da primeira parte, intitulada “Part of the Machine”, que vai de “Inside” até a “New Year's Eve”. Na segunda parte, “Spirit of Man”, que vai de “Handful of Nothing” até “Home”, ele viaja ao redor do mundo, descobrindo os efeitos que as armas que fabricou realmente tiveram. Além disso, presenciam a luta de índios nativos americanos para recuperar sua terra sagrada, roubada pelo colonizador branco, que não só retirou urânio de seu solo, como também despejou lixo radioativo no local. Na terceira parte, Karachay, que vai de “Black Hills” até “Inside Out”, ele chega no lago Karachay, em Kyshtym na ex-URSS. Nesse local, tanto lixo nuclear foi despejado no lago, que hoje, se uma pessoa ficar em sua margem por 1 hora, estará contaminada mortalmente pela radiação. Entre 1978 e 1986, blocos de concreto foram jogados no lago, para evitar assim o deslocamento dos sedimentos radioativos. Ao final, o álbum defende que qualquer pessoa seria capaz de entender o significado das questões e imoralidades relatadas nas letras do álbum, bastando que para isso, ficassem por apenas 1 hora a beira do lago Karachay.

“One Hour by the Concrete Lake” é apenas o segundo álbum da carreira do Pain of Salvation, mas já mostra um nível de maturidade musical de uma banda veterana. Extremamente variado, as músicas alternam entre momentos pesados e outros mais melodiosos e suaves, e a forma como tudo isso flui naturalmente é de impressionar, tanto que você mal de dá conta do tempo passando durante a audição. As guitarras soam primorosas, e a parte rítmica soa poderosa. Os teclados são uma parte importante do trabalho, dando substância as músicas, e criando a ambientação das mesmas. Mas o grande destaque realmente são os vocais de Daniel Gildenlöw, uma das melhores vozes do Heavy Metal atual. A forma como ele consegue variar sua voz, conforme o que a música pede, é algo que poucos conseguem fazer. Ela da sentido e emoção a cada uma das músicas.

Apontar destaques, ao menos para mim, é algo impossível, já que todas as músicas são realmente muito boas. Nada aqui soa deslocado ou fora de lugar, nada soa exagerado ou desnecessário. Cada riff, cada nota, cada melodia, tudo está onde deveria exatamente estar. Apesar de todos os músicos serem absurdamente técnicos, nenhum deles perde tempo querendo exibir suas habilidades. A musicalidade de “One Hour by the Concrete Lake” é absurda. É um álbum intenso, que arrebata e emociona quem se permite se aventurar pelos caminhos às vezes sinuosos da música do Pain of Salvation. Altamente indicado não só para fãs de Prog Metal, como também de boa música. E vale dizer que a versão lançada na América do Sul possui uma música a mais, a bônus “Beyond the Mirror”.

Epica - Ωmega (2021)



Epica - Ωmega (2021)
(Nuclear Blast/Shinigami Records - Nacional)

01 - Alpha - Anteludium
02 - Abyss of Time - Countdown to Singularity
03 - The Skeleton Key
04 - Seal of Solomon
05 - Gaia
06 - Code of Life
07 - Freedom
08 - Kingdom of Heaven Part 3 - The Antediluvian Universes
09 - Rivers
10 - Synergize - Manic Manifest
11 - Twilight Reverie - The Hypnagogic State
12 - Omega - Sovereign of the Sun Spheres

Detratores do Epica vão dizer que já sabem exatamente o que vão encontrar em um álbum dos holandeses. Ele vai começar com uma introdução sinfônica, vai ter uma faixa-título, uma canção na casa dos 10 minutos, bem épica, com seus coros e orquestrações, vocais estilo “bela e fera”, refrões fáceis e claro, aquela baladinha que é “de lei”. Bem, realmente, você vai encontrar tudo isso em Ωmega, não dá para negar. Mas sejamos sinceros, previsibilidade só é ruim, quando a música é igualmente ruim, e esse não é o caso aqui. Ao contrário, para quem é amante de Metal Sinfônico, o 8º álbum de estúdio do Epica vai agradar muito.

Desde The Divine Conspiracy (07) que o Epica vem refinando e aperfeiçoando o seu som, lançamento após lançamento, e isso fez com que a banda chegasse em um ponto onde sua sonoridade é inconfundível e facilmente identificada. A verdade é que você não encontra uma banda que soe como eles, que possa se dizer que faça um som idêntico, mesmo que todos os clichês do Metal Sinfônico estejam presentes em suas músicas. Isso só reforça o que eu digo, que o problema não é se utilizar de clichês, mas a forma como você o faz. Aqui é tudo muito bem feito.

Como de praxe, estamos diante de um álbum muito consistente, onde, sobre uma base Power/Prog Sinfônica, a banda agrega elementos de estilos diversos, como Thrash, Death, Black, Folk e até mesmo música étnica. Tudo isso surge salpicado em momentos pontuais nas canções. As orquestrações, simplesmente bombásticas, ficaram a cargo da The City of Prague Philharmonic Orchestra, e soam épicas. Ainda sim, aquele equilíbrio entre as partes sinfônicas e o Heavy Metal, se faz presente, muito em virtude dos riffs, que soam bem pesados em diversos momentos. Os coros, que como em álbuns anteriores, foram obra do PA'dam Chamber Choir, estão mais exuberantes do que nunca. Todos os músicos encontram espaço para brilhar individualmente em algum momento do álbum, mas Simone Simons se sobressai, isso é algo inegável. A cada lançamento ela consegue brilhar mais com sua voz.



O álbum começa com o prelúdio sinfônico “Alpha - Anteludium”, que cumpre bem o seu papel de preparar o ouvinte para o que está por vir. É a calmaria que antecede a tempestade. “Abyss of Time - Countdown to Singularity” já chega com os guturais de Mark Jansen alternando com os vocais líricos de Simone. É como se estivéssemos diante de um jogo de luz e sombras, que por mais que alguns possam julgar clichê, é muitíssimo bem feito. Não podemos deixar de citar as belíssimas orquestrações e as melodias agradáveis. Decididamente, um bom início. Na sequência, temos uma das faixas mais marcantes do álbum, “The Skeleton Key”, pesada, com um refrão marcante, e simplesmente perfeita para a voz de Simone Simons. “Seal of Solomon” chega mesclando orquestrações bombásticas com melodias orientais, com um resultado incrível. Os coros também se destacam, e os urros de Jansen se alternam com a voz de Simone durante toda a música, em uma espécie de Yin e Yang. “Gaia” já começa com um ótimo coro, e se mostra bem variada, equilibrando bem o peso do Metal com as partes sinfônicas. A excelente “Code of Life” começa com um prelúdio oriental - que conta com a participação de Zaher Zorgati, do Myrath -, que aos poucos vai se fundindo com as orquestrações, se mantendo assim durante toda a música. As melodias vocais também são um ponto de destaque.

A segunda metade do álbum abre com a pesada e grooveada “Freedom - The Wolves Within”, com um bom trabalho das guitarras e um refrão que te pega fácil. Vale destacar também os coros, simplesmente ótimos. Na sequência, o ponto álbum do álbum, a excelente “Kingdom of Heaven Part 3 - The Antediluvian Universes”. É sem dúvida alguma o ponto central do trabalho, e, apesar dos seus mais de 13 minutos - que você nem percebe passar -, se mostra bem direta, além de esbanjar peso. Em certas passagens, a banda resvala de leve no Death Metal, e se não acredita, basta fazer a audição. Ariën van Weesenbeek se superou no trabalho de bateria dessa faixa. “Rivers” é a balada do álbum, altamente emocional, com lindas orquestrações, e performance primorosa de Simone Simons. “Synergize - Manic Manifest” tem ótimos riffs, e um trabalho memorável de baixo e bateria, com direito inclusive a blast beats. Para encerrar o álbum, temos “Twilight Reverie - The Hypnagogic State”, onde Simone domina a música do início ao fim, e a excelente “Omega - Sovereign of the Sun Spheres”, uma das grandes composições da carreira da banda, diversificada, pesada e refinada.


No quesito produção, o Epica não arriscou, e mais uma vez ela ficou a cargo de Joost van den Broek, que também fez a mixagem do trabalho. Da mesma forma, masterização foi realizada novamente por Darius van Helfteren. O resultado é aquele que o fã já está acostumado, ou seja, tudo muito limpo, cristalino e asséptico, o que pode incomodar aqueles que apreciam algo com mais vida. Ainda sim, vale dizer que se comparada com o álbum anterior, The Holographic Principle, ela soa mais viva. Já a bonita capa é obra de Stefan Heilemann, outro que vem trabalhando com a banda faz algum tempo.

O resultado de  Ωmega está dentro daquilo que todo fã do Epica espera e sonha. Um álbum de composições fortes, variadas, mas que segue o padrão Epica de fazer música. Não vou ousar e dizer que esse é o melhor trabalho de sua carreira, mas sem dúvida alguma, é o mais bem estruturado, eficiente e equilibrado. Simplesmente imperdível para os fãs da banda.

Epica é:
Simone Simons (vocal)
Mark Jansen (guitarra/orquestrações/vocal)
Isaac Delahaye (guitarra/vocal)
Coen Janssen (teclado/piano/orquestrações)
Rob van der Loo (baixo)
Ariën van Weesenbeek (bateria)