quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Red Razor – The Revolution Continues (2019)


Red Razor – The Revolution Continues (2019)
(Under Machine Records/Helena Discos/Resistência Underground/Escória Distro/Antichrist Hooligans Distro/Tales From the Pit - Nacional)


01. The Revolution Continues
02. For Those About To Thrash
03. Violent Times
04. Born In South America
05. R.I.P. Democracy
06. Sour Power
07. Brewtal Mosh
08. The Sadist

Quando do lançamento de seu debut, Beer Revolution, em 2015, os catarinenses da Red Razor chamaram a atenção não só pelo seu ótimo Thrash Metal, que misturava a escola americana e alemã do estilo, como também pelo bom humor das letras, algo que ficava bem claro na capa e nos títulos das músicas. Isso refletia muito o período em que tais canções haviam sido compostas. A questão é que de lá para cá, muita coisa mudou em um curto espaço de tempo. Tudo se tornou mais obscuro, pesado, com o crescimento de tendências totalitaristas/fascistas, não só no Brasil como no mundo todo. Isso inevitavelmente acabou refletindo na música e nas letras do quarteto formado por Fabrício Vale (vocal/guitarra), Daniel Rosick (guitarra), Gustavo Kretzer (baixo) e Igor Thiesen (bateria).

Do ponto de vista musical, a Red Razor continua com aquele Thrash de pegada bem old school, que remete aos anos 80, agressivo, rápido e enérgico, mas, em alguns momentos, podemos notar algumas doses controladas de Death Metal, que ajudam a tornar tudo ainda mais pesado e diversificado. Isso me chamou mais a atenção no trabalho vocal, que soa bem mais variado e agressivo do que na estreia. Quanto as letras, aquela pegada mais festeira que trata de cerveja, muita cerveja, continua se fazendo presente, mas abre espaço para um maior engajamento político. Temas como a violência contra populações periféricas, exploração colonial e ascensão do fascismo se fazem presentes, algo mais do que necessário nesses tempos sombrios que vivemos. Então, se você é da turma do “Metal não tem que misturar com política”, já fique mais do que avisado.


De cara, temos a robusta “The Revolution Continues” com seu ótimo trabalho de guitarras e baixo, e sua letra que é uma ode as pequenas cervejarias artesanais, e um libelo contra as grandes corporações cervejeiras. “For Those About To Thrash” já deixa bem explicitado em seu título, o que o ouvinte encontrará. É uma homenagem ao estilo, que poderia ter saído de qualquer bom álbum dos anos 80. “Violent Times” soa tão agressiva quanto o tema do qual trata – guerras imperialistas, intolerância, violência contra populações periféricas –, e possui além de bons riffs, um refrão muito forte. A dura “Born In South America” não só esbanja peso, musical e lírico, com sua letra que critica fortemente o colonialismo, em uma verdadeira aula de história, como tem um dos melhores refrões que você escutará esse ano. Uma faixa como “R.I.P. Democracy”, que trata da ascensão do fascismo e da vilanização da democracia por setores reacionários, não poderia ser menos que brutal, com toques de Death metal e destaque para o trabalho da bateria. A divertida e nervosa “Sour Power” é mais uma homenagem às cervejas artesanais, enquanto a veloz “Brewtal Mosh” homenageia a todos nós, fãs do bom e velho Metal, que damos duro o dia inteiro e apoiamos as cenas locais. Encerrando, “The Sadist”, com sua letra que trata do serial killer alemão Peter Kürten, conhecido como “Vampiro de Dusseldorf”, além de energia e peso de sobra.

Na produção, mais uma vez a mixagem e masterização ficaram nas mãos de Alexei Leão (Burning in Hell, Khrophus, Rhestus), com resultados muito bons, já que apesar de tudo estar bem audível, tem uma organicidade que falta em boa parte das produções de hoje. The Revolution Continues soa vivo. No âmbito da parte gráfica, se no anterior haviam trabalhado com o mestre Ed Repka, aqui optaram pelo trabalho de Andrei Bouzikov (Dust Bolt, Havok, Municipal Waste, Nervosa, Toxic Holocaust), que foi o responsável pela bela capa, enquanto o design do encarte foi realizado por Lucas “From Hell” (Evilcut). Mesclando bom humor, engajamento político, vocais agressivos, riffs rápidos, afiados, e uma parte rítmica forte e explosiva, o Red Razor passou com louvor no teste do segundo álbum, mostrando que está mais que pronta para assumir um lugar de frente no cenário do Metal Nacional. A revolução já tem sua trilha sonora!

NOTA: 87

Red Razor é:
- Fabricio Valle (vocal/guitarra);
- Daniel Rosick (guitarra);
- Gustavo Kretzer (baixo);
- Igor Thiesen (bateria).

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sábado, 5 de outubro de 2019

Blasphematorium - Blasphematorium (2019)


Blasphematorium - Blasphematorium (2019)
(Tales From The Pit Records/Your Poison Records/Violent Records/Steel Sword Records/Tevas Nascemos Distro/Underground Voice Records/Totem Records)


01. The Four Horsemen
02. Monolith to Foolishness
03. Decay of Men
04. Found in the Dark
05. Fornication Be Thy Name
06. The Blasphematorium
07. The Dark Council

Em um mundo cada vez mais midiático, existem artistas que optam por manter suas identidades ou rostos em segredo. Talvez o maior exemplo disso, atualmente, seja Banksy. No meio da música, isso nunca foi novidade, já que no passado, nomes como Kiss e Daft Punk, e mais recentemente, o Slipknot, se utilizaram por um tempo desse estratagema. Marketing, uma forma de focar apenas na arte, um ato de resistência em uma realidade recheada de subcelebridades, ou simples escolha artística? Não existe uma resposta exata para tal fato. Onde quero chegar com isso tudo? Surgido no ano de 2018, em São Paulo, o Blasphematorium é mais um nome que opta pelo anonimato, já que seus músicos não só escondem seus nomes por detrás de pseudônimos, como também seus rostos são um mistério.

Musicalmente, sua sonoridade é muito bem definida, e remete diretamente ao que convencionou-se chamar de 1ª geração do Black Metal, ou seja, aquelas bandas que mesclavam estilos como o Heavy Tradicional e o Speed Metal, usando de uma estética anticristã. O resultado é uma música veloz, abrasiva e muito pesada, com vocais mais urrados, guitarras com riffs ríspidos, um baixo marcante e uma bateria muito boa. Além disso, elementos daquele Doom mais épico e tradicional, que remetem diretamente ao Cirith Ungol, podem ser observados, e ajudam a, em muitos momentos, criar um clima mais sombrio. Em si, o Blasphematorium não apresenta uma sonoridade inovadora, mas consegue ter uma identidade própria, não soando como simples cópia de bandas mais consagradas no estilo.


O ataque começa com a apocalíptica “The Four Horsemen”, com claras influências de Metal Tradicional, riffs ríspidos e um belo trabalho da dupla baixo/bateria. “Monolith to Foolishness” é mais cadenciada e possui aqueles riffs cavalgados, bem típicos dos anos 80, além de soar bem sombria, muito pelo belo trabalho vocal. O solo, bem melódico, é outro ponto de destaque e serve de contraponto para a abrasividade das guitarras. “Decay of Men” é outra onde as melodias Heavy se destacam, com ótimos riffs, bases pesadas e um baixo marcante. “Found in the Dark” apresenta guitarras bem ríspidas, além de boas mudanças de tempo, com destaque para as passagens mais cadenciadas, que dão a canção uma aura mais escura. “Fornication Be Thy Name” tem uma pegada bem Metal Tradicional, por mais que trechos mais arrastados tragam um peso maior para a mesma, e entrega não só boas melodias, como também um ótimo solo, sendo seguido pela igualmente melódica “The Blasphematorium”, com seu ótimo trabalho de guitarra. São quase irmãs gêmeas. Encerrando, a arrastada e opressiva “The Dark Council” traz o foco para aquele Doom mais épico.

A produção está totalmente dentro do padrão esperado para a proposta sonora apresentada, já que apesar de deixar os instrumentos bem audíveis, possui a crueza e a aura impura e blasfêmica que a música pede. Isso também pode ser notado na capa, que deixa bem escancarada o que pretendem passar com suas canções. O Blasphematorium não apresenta nenhuma inovação sonora, mas esse em momento algum é o foco da banda, e isso não têm absolutamente nada de errado. Sua maior qualidade é, como já citado, possuir personalidade, já que por mais que em muitos momentos suas influências possam ser notadas, de forma alguma soam como cópia ou emulação. Ríspido, cru e agressivo, foram buscar inspiração nos primórdios do Black Metal, e acabaram por lançar um dos trabalhos nacionais mais legais de 2019.

NOTA: 88

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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

DarkTower – Obedientia (2019)


DarkTower – Obedientia (2019)
(Electric Funeral Records/Extreme Sound Records/Cangaço Rock Comunicações/Native Blood Produções – Nacional)


01. Punishment
02. Downfall
03. God Above Nothing
04. Higland Ceremony
05. Winged Snake Communion
06. Praxis Against Ignorance
07. Obedientia
08. Rites of Conscience
09. The Carnal Esplendour
10. ...As the Obedient Marches to the Abyss…

Na estrada desde 2006, os cariocas do Dark Tower vão consolidando o seu nome no underground nacional na base da brutalidade e agressividade. Donos de um Black/Death simplesmente devastador, após alguns EP’s e singles, lançaram seu debut, ...of Chaos and Ascension em 2013, sendo seguido 3 anos depois pelo ótimo Eight Spears. Agora, após igual espaço de tempo, retornam com seu 3º trabalho de estúdio, Obedientia, que segundo as palavras da própria banda, “é um manifesto contra essa onda de obediência cega, que assola a sociedade nos dias atuais, e fala de todo tipo de libertação e rebeldia, seja ela espiritual, cultural, sexual e filosófica.”. Impossível não destacar o ótimo trabalho nas letras, que complementam com perfeição a parte musical.

Algo que sempre me chamou a atenção nos trabalhos da banda, é o salto evolutivo que dão entre um lançamento e outro. Quando você pensa que não tem como melhorar, eles vão lá e mostram que você estava equivocado. Com Obedientia isso não é diferente. Se no álbum anterior havia ocorrido um recrudescimento de sua sonoridade, com doses menores de melodia, aqui elas voltam a dar as caras, e com ótimos resultados. Isso se dá muito pelo fato de terem trazido novas influências para sua música, com mais destaque para o Metal Tradicional. Mas não pense que isso significa que seu Black/Death se tornou menos bruto e furioso, pois ele continua ali, intocado e destruindo pescoços alheios, assim como aquela crueza que marca a banda. As citadas melodias aparecem, principalmente, nos solos, que estão simplesmente espetaculares aqui, e em algumas passagens mais cadenciadas.

Os vocais de Flávio Gonçalves continuam sendo um dos pontos altos do trabalho do Dark Tower, com aquela boa variação entre o rasgado e o gutural, que evita que os mesmos se tornem maçantes. Em contrapartida, as vocalizações limpas do baixista Rodolfo Ferreira, que eventualmente surgiam em uma ou outra canção, não aparecem em momento algum aqui. As guitarras de Raphael Casotto e Rafael Morais mais uma vez soam afiadíssimas, entregando não só ótimos riffs, como belíssimos solos, com boas cargas de melodia. Quanto a parte rímica, com Rodolfo e o baterista estreante, Rômulo Grilo, mostram muita coesão, peso e técnica, dando boa variedade as canções.


Após uma breve e sombria introdução, intitulada “Punishment”, surge a caótica e veloz “Downfall”, carregada de um peso opressivo, energia e um ótimo refrão. O álbum tem sequência com a bruta “God Above Nothing”, com seus ótimos riffs e potencial de destruição em massa de tímpanos mais delicados. É o epítome do caos. “Higland Ceremony” é uma curta vinheta que serve de introdução para mais uma faixa destruidora, “Winged Snake Communion”, onde os destaques ficam pelo peso e pelas boas melodias oriundas do Metal Tradicional que as guitarras nos entregam. “Praxis Against Ignorance” alterna muito bem passagens mais cadenciadas e melódicas com outras mais ríspidas e recheadas de riffs cortantes, além de possuir uma aura mais sombria, características também presentes na ótima Obedientia, com sua brutalidade e um belíssimo solo de guitarra. A áspera “Rites of Conscience” traz boas melodias, um trabalho de guitarras que resvala levemente no Thrash, sendo seguida por “The Carnal Esplendour”, um Caterpillar 797F sem freio, descendo uma ladeira, em forma de música, tamanho o atropelo. Franca, grosseira e agressiva. Encerrando, para contrapor com todo o peso e raiva que escutamos, a curta, serena e melódica instrumental “...As the Obedient Marches to the Abyss…”.

A produção foi realizada pela banda e por Rômulo Pirozzi (Ágona, As Dramatic Homage, Hatefulmurder, Vociferatus), sendo que este também foi o responsável pela mixagem. Já a masterização ficou novamente nas mãos do ex-Rotting Christ Giorgos Bokos (Melechesh, George Kollias, Unearthly). O resultado é muito bom, já que deu a clareza necessária ao Black/Death da banda, mas sem tirar sua crueza, peso e organicidade. Já a capa e a parte gráfica, ambas belíssimas, foi obra do baixista Rodolfo Ferreira. Mantendo o seu viés evolutivo e de crescimento, o Dark Tower conseguiu superar seu ótimo trabalho anterior, e mostrando estar mais que pronta para assumir uma posição entre os principais nomes do underground brasileiro. Um dos melhores álbuns nacionais de 2019. Programado para sair no dia 5 de novembro, a banda já iniciou o processo de pré-venda de Obedientia, em um pacote que além do CD, possui pôster, adesivos e palhetas, além do valor do frete incluso. Caso interesse, a compra pode ser efetuada no seguinte link: https://pagseguro.uol.com.br/checkout/nc/cart.jhtml?s=de7485884f86bd47adc6d62d8c7a86e884e7a19bbe152ab6f141f336a0d7f8dc#rmcl

NOTA: 89

DarkTower é:
- Flávio Gonçalves (vocal);
- Raphael Casotto (guitarra);
- Rafael Morais(guitarra);
- Rodolfo Ferreira (baixo);
- Rômulo Grilo (bateria)

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