UGANGA
Meus
amigos e leitores dos demais estados do Brasil que me perdoem, mas Minas Gerais
é foda! O Metal mineiro sempre foi e sempre continuará sendo sinônimo
inquestionável de música pesada de qualidade. Se no passado demos a cena nacional
nomes seminais e de inquestionável qualidade, como Sarcófago, Sepultura,
Mutilator, Overdose, Holocausto, Sextrash ou The Mist, só para ficar nesses
exemplos, na atualidade brilham por aqui nomes como Expurgo, Eminence,
Deathraiser, D.A.M., Kernunna, Lothlöryen, Hagbard, Hard Desire, Contempty ou
Necrobiotic (demais bandas me perdoem, mas o espaço é limitado), que abrangem
espectros diversos do Metal. Mas dessas, talvez a melhor de todas seja o
Uganga, formado por Manu “Joker” (ex-Sarcófago, vocal), Christian Franco e e
Thiago Soraggi (guitarras), Raphael “Ras” Franco (baixo, vocal) e Marco
Henriques (bateria, vocal). Surgida ainda nos anos 90, mas como um projeto
entre amigos com o intuito de diversão, sua história só começou efetivamente a
partir de 2003, com o lançamento do debut Atitude Lótus e, principalmente, com
Na Trilha do Homem de Bem (06), trabalho onde definiram sua sonoridade.
Praticando uma moderna mistura de Thrash com Hardcore e sem se prender a regras
que alguns tentam impor por ai ao Metal, nos apresentam uma música carregada de
criatividade e personalidade. Sendo assim, fomos bater um papo com a banda, pra
falar sobre sua história, planos futuros e o lançamento do álbum Opressor, um
dos grandes destaques de 2014. Então, boa leitura a todos.
1 –
São mais de 20 anos de estrada, mas apesar dos ótimos álbuns e do crescimento
exponencial que vem ocorrendo nos últimos anos, infelizmente o nome do Uganga
ainda não possui entre o público nacional o mesmo apelo que outros grandes
nomes da cena. Acha que o fã de Metal no Brasil se prende muito a sonoridades e bandas mais tradicionais e
acaba não procurando conhecer o que existe de novo em nosso cenário?
Manu
“Joker”: Pode
ser, mas tem também o fato de somente no segundo álbum (Na Trilha Do Homem De
Bem - 2005) a sonoridade do Uganga ter sido definida. Isso se deu há dez anos
atrás e acho que na primeira década o lance era mais “for fun”, não era um
corre sério e faltava identidade. De 2005 pra cá as coisas realmente
melhoraram, estabilizamos o núcleo que está junto até hoje, lançamos mais três álbuns,
fizemos duas tours no exterior, tivemos nosso material lançado por lá. Seguimos
produzindo e crescendo, temos muito pela frente.
2–
Nos últimos anos foram duas turnês e um álbum ao vivo gravado em solo europeu,
fora um contrato com a
gravadora portuguesa Metal Soldiers, que
lançou no exterior o terceiro álbum, Vol. 3: Caos Carma Conceito (10) e Eurocaos
– Ao Vivo (13). Podemos dizer que hoje o Uganga é uma banda com maior repercussão na
Europa do que no Brasil? Como se sentem com relação a isso.
Marco Henriques: Acredito que as turnês na Europa e o fato de termos gravado e lançado
um disco por lá trouxeram bastante visibilidade pra banda, mais pessoas ficaram
conhecendo, mais pessoas se interessaram pelo som. Mas o Brasil continua sendo
nosso principal território, até porque cantamos em português. Tivemos uma
experiência muito legal com o Velho Mundo, em vários aspectos. E esperamos
retornar mais vezes. Mas o Brasil é nossa casa, nossas raízes e é aqui que
queremos atingir o maior número de pessoas possível.
3 – Para aqueles que
desconhecem a carreira do Uganga, comentem um pouco sobre os três primeiros
trabalhos da banda, Atitude Lótus (03), Na Trilha Do Homem De Bem (06) e Vol. 3: Caos
Carma Conceito (10).
Manu:
“Atitude
Lotus”, como disse, é praticamente outra banda, outro som, e pode ser visto
como o encerramento dos 10 primeiros anos onde o Uganga não era nada além de
um projeto sem maiores pretensões. Acho um disco interessante, tem muita influência
do funk rock. Algumas coisas curto, outras nem tanto... No “Na Trilha...” a
conversa já foi diferente e voltamos a focar em metal e hardcore, que,
afinal, são nossas raízes. ‘Vol. 03...”,já com o Thiago, é a definição
do Uganga como banda, e o novo álbum, “Opressor”, é a banda evoluindo dentro do
seu estilo. Creio que seguiremos assim.
Christian
Franco: Acho que esses
discos são tão bons quanto o “Opressor”, mas temos mesmo a tendência de gostar mais do mais
novo. Os três acho que foram essenciais para a construção da identidade da banda,
onde nós fomos nos moldando.
4 –
Agora falando sobre o novo álbum, Opressor, fica bem perceptível a conexão
existente entre a ilustração da capa, o título do álbum e o conteúdo lírico do
mesmo. Mesmo que as letras abordem temas variados, podemos dizer que ele é um
trabalho conceitual que aborda a falência total de nossa sociedade atual?
Manu:
Ele
é inspirado na merda que anda o mundo (risos). Vendo assim pode ser uma
continuação da temática do “Vol.03...”, mas com um enfoque mais espiritual.
Eu acho que as letras nesse álbum estão menos raivosas e mais conclusivas. Tem
sim algo que as conecta, mas não chamaria de álbum conceitual. É basicamente
sobre uma maneira de ver as coisas, não a certa, nem a errada, mas a nossa.
5
– Como têm sido a resposta por parte dos fãs e da mídia especializada, não só
no Brasil como no mundo, a Opressor?
Marco:
Excelente!
Todos da banda estão muito satisfeitos com o resultado final desse álbum. E foi
demais ver que as resenhas têm reagido da mesma forma. Até agora apenas bons
comentários, inclusive sendo eleito álbum do ano pelo site Heavy N Roll. Foi um
trabalho muito bem planejado, fizemos uma boa pré-produção, chegamos no estúdio
com a coisa bem formatada em nossas cabeças e demos nosso melhor. Felizmente
parece que alcançamos nosso objetivo que era fazer nosso melhor álbum até
então.
Thiago
Soraggi: Temos
uma resposta muito positiva de
ambos os lados, isso é fruto da dedicação da banda e do nosso empresário,
Eliton Tomasi, que faz um ótimo trabalho de mídia nos veículos mais importantes
do segmento. A resposta dos fãs já fica a cargo do desempenho da banda em estúdio e nos
palcos que é onde realmente mostramos a que viemos, e tanto no Brasil como no
exterior temos uma resposta surpreendente do público.
6
– A letra de “O Campo” retrata uma das passagens mais vergonhosas da história
da humanidade, o holocausto
promovido pelos nazistas durante a
2ª Guerra. No caso da música, aborda especificamente
Auschwitz, que vocês tiveram a oportunidade de visitar durante a segunda turnê
européia da banda. Como foi essa experiência? Pela letra, imagino que tenha
sido algo bem intenso.
Manu:
Definitivamente! O holocausto
foi um dos episódios mais vergonhosos da história da humanidade e nunca deve
ser esquecido. Fiz essa letra abordando minha visão histórica, às vezes me
colocando no lugar dos prisioneiros, e
em outras falando da nossa visita em 2010 e das reflexões que ela gerou em nos cinco.
Tudo lá está bem preservado e espero que continue assim pra nos lembrar de quão baixo podemos
descer enquanto seres humanos.
7
– Ainda abordando um pouco essa questão, podemos observar em todo mundo um
aumento do discurso de ódio por parte das pessoas não só contra minorias, mas
contra tudo aquilo que julgam diferentes delas mesmas (e consequentemente,
errado). Acha que a humanidade em sua maioria esqueceu Auschwitz? Podemos ver
algo assim se repetir no futuro?
Manu:
O
perigo está ai a espreita e os falsos profetas também. O que posso dizer é que
tenho nojo de qualquer tipo de preconceito racial, social, religioso, musical,
sexual ou seja lá o que for. Sou um homem livre e sempre estarei
desse lado da trincheira.
8
– As letras sempre foram um dos grandes diferenciais do Uganga, não só por
serem cantadas em português como também por abordarem questões muito atuais,
como no caso de “Moleque de Pedra”, que trata a questão das drogas. Como é o
processo de composição e de onde vêm à inspiração para as mesmas?
Manu:
Vem
da vida, do que vejo e do que concluo estando aqui vivo. Geralmente escrevo as
letras sozinho e depois trabalho com alguns riffs dos caras que selecionamos em
pré-produções. Quando tenho um esboço montamos um boneco, reunimos toda a banda e trabalhamos em
cima até ficar como deve. Creio que tem
funcionado bem assim.
9
– Durante a audição do álbum, fiquei com a sensação de que Opressor é o álbum “mais na cara” da carreira
da banda. Como chegaram a essa sonoridade?
Raphael
“Ras” Franco: A
sonoridade, a meu ver, vem da experiência que cada um de nós vem adquirindo ao
longo dos anos sempre pesquisando novos timbres, desenvolvendo nossa música e tentando
sempre evoluir. Em especial no Opressor contamos com a produção do Gustavo
Vazquez que soube captar muito bem os timbres e a pegada de cada um.
10 – O cover para “Who Are The True” é uma bela homenagem para o
Vulcano, umas das bandas
mais influentes da história do Metal nacional. De onde veio à
idéia para tal homenagem?
Manu:
Há
muito que eu pensava em fazer uma versão desse som que tem uma letra super atual.
Acho a produção
desse álbum do Vulcano (“Who Are The True?”- 1988) fraca e queria ver essa
música com nossa interpretação. Ficamos muito satisfeitos com o resultado,
tivemos dois amigos participando com a gente (Ralf Klein do Macbeth e Murillo
Leite do Genocídio) e o mais
legal foi ver que os caras do Vulcano curtiram também. Vulcano é foda!
11
– É de praxe todo
músico considerar o trabalho recém-lançado como o melhor e mais pesado da carreira e
imagino que no caso do Uganga isso não mude. O que Opressor possui que o torna
superior aos três primeiros álbuns?
Christian:
Eu
não diria superior, diria mais maduro e por isso traz uma cara mais séria, não
que os outros não sejam, mas aborda de forma mais clara o
mundo de hoje onde estamos afundados em um monte de contaminações, mas ainda
assim podemos ser sempre melhores.
Manu:
Pra
mim ele é disparado nosso melhor
trampo (risos).
12
– O novo álbum já rendeu dois clipes, para as músicas “Guerra” e “Casa” e que
foram bem divulgados nas redes sociais. Qual a importância desse tipo de
plataforma para se promover música nos dias de hoje?
Ras:
Hoje em dia acho difícil
pra uma banda como o Uganga
sobreviver no meio da musica underground sem a utilização das redes
sociais em geral. Acho que esse tipo de plataforma só vem pra somar e a cada dia mais tem se tornado
fundamental pra divulgação, não só da música, mas de qualquer tipo de trabalho,
principalmente os trabalhos independentes.
Manu:
Temos
feito nossos clips com o
Eddie Shumway que é um parceiro aqui da área e devemos fazer
mais coisas juntos.
13
– Hoje o MP3 e os
downloads ilegais mudaram completamente a forma de se consumir musica. Dentro
dessa realidade atual, como o
Uganga faz para convencer o fã adquirir o material físico da
banda, ao invés de comprar faixas soltas ou mesmo “baixar” o trabalho na
internet?
Marco:
Não
temos como fugir disso. Tentar não ter seu trabalho pirateado hoje é ilusão. O
que temos que fazer é nos adaptar a isso. Sempre buscamos fazer um material
físico de qualidade, com encarte, letras, fotos, faixa multimídia. E isso tem
dado um bom retorno, temos vendido bastante cds nos shows. Mas também temos as
músicas pra vender na Internet, álbum pra audição no Youtube... A intenção é
espalhar o som, fazer mais pessoas conhecerem a banda e, consequentemente,
conseguir mais shows. E sempre estaremos com a versão física em mãos, porque
por mais que o mundo esteja totalmente digital, nada substitui um cd em mãos
com capa, encarte, letras, ficha técnica. Faz parte do conceito, do conjunto da
obra.
Manu:
Quer
baixar nosso cd pra ouvir, fique a vontade! Mas se piratear e a gente achar a
coisa vai ficar feia (risos).
14
– Pouco tempo atrás li sobre a intenção da lançarem um DVD em comemoração aos
20 anos do Uganga. Como anda esse projeto?
Thiago:
Sim,
esse projeto está na agulha, gravamos nosso primeiro DVD no triângulo mineiro
em uma estação de trem tradicional em nossa região rodeados de amigos e fãs da banda e o resultado disso vai
ser ótimo. Tivemos participações bem legais e vamos mostrar um material atrativo
e fiel a pegada
do Uganga ao longo desses 20 anos de história.
Manu:
Ainda
não sabemos como esse material será lançado, se junto com o vinil, separado, etc,
mas vai sair logo e além dessa apresentação. terá trechos de outras, todos os clipes e um
documentário sobre a
produção e tour do “Opressor”.
15
– O Uganga
nunca se prendeu a certas regras que alguns tentam impor ao Metal, dizendo o
que pode ou não ser feito e sempre trouxe elementos externos ao estilo, como
podemos observar bem na faixa de encerramento do novo álbum, “Guerreiro”. Quais
são as influências que permitem tamanha variedade a música de vocês?
Manu: Acho legal
encerrar a porradaria com uma faixa climática. Black Sabbath, Pantera e Soulfly
fazem isso também, entre outras bandas, e, a meu ver, funciona muito bem. O Uganga faz o que quer, essa
faixa fecha o cd e quem
não quiser ouvir pare na anterior (risos).
Ras:
Todos no Uganga tem uma
formação musical um pouco diferente uns dos outros e a gente tenta levar um
pouco da influência de cada um pro som da banda. Nenhum de nós é aquele cara
que só escuta metal... ou o outro que só escuta hardcore. A gente escuta
"de tudo" (risos). De mpb à black metal passando
pelo hip hop e pelo reggae e acho que é essa cabeça aberta que faz com que o Uganga
consiga mesclar essas influências com equilíbrio, mesmo que pra alguns isso
seja inaceitável.
16
– Quais são os planos do Uganga para esse ano de 2015?
Manu:
Tocar
bastante, em especial onde ainda não fomos, divulgar nosso melhor trabalho até
aqui, lança-lo em vinil
assim como o DVD de 20 anos e seguir plantando e colhendo.
17
– Gostaria de agradecer a entrevista e o espaço é de vocês para considerações
finais.
Thiago:
Agradecemos
o espaço e pra quem quiser saber mais como anda nossa correria acesse: www.uganga.com.br
Manu:
Salve
a todos, paz!
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