segunda-feira, 30 de novembro de 2020
Funeral Tears - The Only Way Out (2018)
I Gather Your Grief - Dystopian Delusions (2019)
Quilombo – Itankale (2019)
Quilombo – Itankale (2019)
(Poluição
Sonora Records – Nacional)
01. Melanina
02. Ancestralidade
03. Treze Nações
04. Descendentes de Reis
05. Semi Deusas
06. Diáspora D.C
Por mais que alguns insistam em negar o óbvio, sim, somos uma sociedade racista. A questão é que o racismo no Brasil é uma questão tão estrutural, e se encontra presente em tantos detalhes do nosso dia a dia – na linguagem diária, por exemplo –, que muitas vezes, mesmo sem se dar conta, propagamos atitudes racistas. O Brasil foi o último país do ocidente a abolir oficialmente a escravidão, mas a verdade é que ela nunca deixou de existir, já que o negro continua sofrendo com os reflexos da mesma, mesmo tendo passado 132 anos desde a promulgação da Lei Áurea. Nesse tempo, o racismo estrutural não foi apenas continuado, foi radicalizado..
Como combater isso? As formas são diversas, e invariavelmente passam não só pelo ponto de o branco abrir mão de seus privilégios – sim, ser branco no Brasil é um privilégio que muitos se recusam a aceitar –, como também abrir e ceder espaço para dar vazão as vozes negras, para permitir que ocupem espaços de privilégio branco. E o mais importante de tudo, escutar e aprender com o que eles têm a falar. Nesse ponto, “Itankale” – que em Iorubá significa propagação –, EP de estreia do Quilombo, tem muito a nos ensinar.
Para quem desconhece, o Quilombo é uma banda surgida no ano de 2018, pelas mãos do baterista e vocalista Panda Reis, e do guitarrista Allan Kallid, ambos do Oligarquia. A premissa é, através de suas letras e músicas, contar a história dos negros pelos negros, se utilizando de fontes que por muito tempo foram desconsideradas e caladas, pelo simples fato de não serem fontes brancas. O negro não podia falar sobre si. O que temos aqui é a história dos negros contada por quem possui realmente lugar de fala para tratar do assunto.
Musicalmente, “Itankale” é uma verdadeira paulada, já que apresenta um Death Metal que se mescla com Grindcore e esbanja intensidade e violência. Os vocais de Panda são brutais, mas ainda sim permite que o ouvinte compreenda as letras – que possuem muito a dizer – enquanto esbanja técnica na bateria. Allan ficou a cargo da guitarra e do baixo, e faz um trabalho excelente, principalmente no que tange aos riffs, afiadíssimos. A percussão, que surge muito bem encaixada em diversos momentos do álbum, e sem soar destoante, ficou por conta do músico convidado Binho Gerônimo. Outro a participar foi o guitarrista Guilherme Sorbello, presente em uma das músicas do EP.
“Melanina” abre o trabalho com uma introdução simplesmente de arrepiar, onde vocalizações típicas da cultura africana dão o tom. Aliás, cada uma das músicas aqui presentes, é introduzida por alguma referência a cultura negra. Quando o Death/Grind explode nos falantes, ela se torna suja, odiosa, crua e raivosa, como deve ser uma canção do estilo. Os elementos percussivos foram magistralmente encaixados nas passagens mais cadenciadas, tornando a faixa um dos grandes destaques do EP. “Ancestralidade” é a devastação em forma de música, e vai esmagar os tímpanos daqueles menos acostumados a sonoridades pesadas, sendo seguida pela bruta “Treze Nações”. Outra que se destaca pela brutalidade é “Descendentes de Reis”, um verdadeiro atropelo em forma de música. “Semi Deusas”, com seus pés bem fincados no Punk, fala em sua letra de mulheres negras, tanto do passado como da atualidade, que são importantes politica e culturalmente. Encerrando, a agressiva “Diáspora D.C”, que soa como uma betoneira descendo uma ladeira sem freio. Um atropelo sem chance de sobrevivência.
Gravado e mixado no O Beco Estúdio, o EP teve sua produção a cargo de Guilherme Sorbello, e a qualidade é boa, já que tudo está claro e audível, mas mantendo aquela sujeira necessária ao estilo. A capa foi obra de Artur Fontenelle, e une a cultura ancestral africana, com diversas personalidades negras ao nível mundial. Ficou realmente muito legal. Ríspido, brutal e intenso, “Itankale” é um desses álbuns feitos para moer as vértebras do pescoço até mesmo dos mais calejados do estilo. Mais do que música, o que temos aqui é um grito de resistência mais do que necessário nos tempos atuais. Que venha o primeiro álbum completo! Quilombo é Death Metal contra o racismo!
Quilombo é:
- Panda Reis (vocal/bateria)
- Allan Kallid (guitarra/baixo)
https://www.facebook.com/Quilombometal/
https://twitter.com/quilombodeath
https://quilombo.bandcamp.com/releases