segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Lacuna Coil - Black Anima (2019)


Lacuna Coil - Black Anima (2019)
(Century Media Records - Importado)


01. Anima Nera
02. Sword of Anger
03. Reckless
04. Layers of Time
05. Apocalypse
06. Now or Never
07. Under the Surface
08. Veneficium
09. The End Is All I Can See
10. Save Me
11. Black Anima

Sempre existirão os saudosistas para afirmar que nos tempos de Unleashed Memories (01) e Comalies (02), as coisas eram melhores. Sinceramente, não vejo nada de errado nisso, pois música é uma coisa muito pessoal, e a forma como ela atinge cada um vai variar de pessoa para pessoa. Particularmente, até gosto da fase puramente Gothic Metal da banda, por mais que eu visse seu som como algo muito padrão, sem fugir muito do que era apresentado pelos demais nomes da época, ao menos no que tange as atmosferas. Já musicalmente, sempre consegui enxergar algo mais “pop” em sua sonoridade, tanto que achava o Lacuna Coil uma banda “boazinha” demais. Por mais que possuísse aquela aura mais sombria das bandas de Gothic, faltava mais peso e “maldade” para sua música. Friso, isso é uma visão muito particular minha.

Talvez por isso, eu não tenha me sentido tão incomodado com as mudanças implementadas pós-Comalies, tanto que meu maior problema com Karmacode (06) e Shallow Life (09) não se dá pela sonoridade mais moderna e “americanizada”, mas sim pelas composições pouco inspiradas dos mesmos. Vejo ambos como trabalhos de transição, onde os italianos estavam buscando dar uma cara para sua música. Felizmente, com Dark Adrenaline, as coisas começaram a se acertar e, aos poucos, o Lacuna Coil foi se encontrando. Evoluir nunca é simples, sempre vai existir uma parcela de dor no processo, e quando se trata de música, a coisa se maximiza, pois, você não lida apenas com suas próprias emoções, mas também com as dos fãs. Obviamente esse processo de amadurecimento não foi simples para nenhum dos lados, e marcas ficaram.


A partir de Broken Crown Halo (14), o Lacuna Coil foi trazendo gradativamente, elementos de seu passado de volta, mas sem renunciar as suas convicções musicais. Isso acabou gerando aquele que, para mim, não só é seu trabalho mais pesado e sombrio, mas também o melhor, Delirium (16). É ele o ponto de partida para o que escutamos em Black Anima. Reforçando ainda mais essa proposta, que reúne o Groove, agressividade e peso atual, com aquele clima mais dark de outrora, acabam obtendo um resultado que vai além do seu antecessor, em todos os sentidos. Podemos observar, por exemplo, que Andrea está cantando ainda mais agressivo, enquanto Cristina consegue soar ainda mais épica em alguns momentos, sem abrir mão da introspecção em diversas passagens. A guitarra de Diego Cavallotti é responsável por bons riffs e solos, além de soar muito pesada, peso esse que também se faz muito presente na parte rítmica, com o sempre competente Marco Coti-Zelati e o estreante Richard Meiz na bateria. Aliás, esse último foi uma belíssima aquisição para a banda, e substitui Ryan Folden a altura.

Em entrevista recente, Cristina disse que Black Anima foi todo composto durante a turnê, e considerando que as canções que mais gostam de tocar nos shows são justamente as mais pesadas, ele naturalmente acompanhou essa pegada. Fora isso, do ponto de vista lírico, abordaram as dificuldades, dores e perdas que todos temos na vida. O resultado é algo denso, agressivo e muito enérgico, que se reflete no clima gerado pelas canções. Aqui vemos o lado mais sombrio e obscuro da alma do Lacuna Coil, e acreditem, isso é muito bom. A pegada mais atual, com elementos de Modern Metal e Groove continua forte e muito presente, mas ouso dizer que algumas canções aqui poderiam estar em trabalhos mais antigos da banda. Esse é um aspecto que pode vir a agradar um pouco aqueles que são mais saudosistas e ainda não desistiram da banda. Cabe dizer que mesmo esses momentos, soam atuais, já que a banda dá a sua roupagem atual para tais canções.

“Anima Nera” soa mais como um prelúdio, com a voz de Cristina e um instrumental despido de peso ao fundo. Ainda sim, consegue criar um clima sombrio, preparando o ouvinte para o que vem pela frente. “Sword of Anger” faz jus ao seu título, ejá incia com Andrea rosnando de forma furiosa. Aliás, cabe notar que seus vocais mais limpos se fazem cada vez menos presentes. Em alguns momentos ocorrem duetos entre ele e Cristina, que soam bem legais, e o clima de raiva que emana da canção é ótimo. Na sequência, temos os dois singles já lançados pela banda. Em primeiro lugar, temos a ótima “Reckless”, com um bom trabalho vocal de Scabbia, refrão marcante, guitarras pesadas e um ótimo solo, e depois a raivosa “Layers of Time”, onde passagens mais rápidas alternam com outras mais cadenciadas, além de possuir uma bateria brutal. “Apocalypse” é a primeira das canções aqui presentes que remetem ao passado da banda, e poderia muito bem, estar presente em um dos 3 primeiros álbuns, dado seu clima denso e pegada mais dark.


Não se deixe enganar pelo começo mais melancólico de “Now or Never”, pois não demorar muito para ela explodir em peso, com destaque para o trabalho dos vocais, guitarra e bateria, sendo seguida pela acelerada “Under the Surface” e seus bons riffs. “Veneficium” é outra que vai remeter os ouvintes ao passado da banda, com seu clima denso, seu peso arrastado, sua atmosfera operística – enriquecida pelos coros em latim – e a sensação de dor que transmite. É sem dúvida, uma das melhores canções que o Lacuna Coil fez em sua carreira de mais de 2 décadas. “The End Is All I Can See”, é arrastada, profunda e chega a soar opressiva em alguns momentos, ainda que seja a que menos empolga em todo o álbum. Ainda sim, isso não é nenhum demérito. Na sequência que encerra o trabalho, mais uma faixa bem acelerada, “Save Me”, com boas guitarras e uma bateria bem pesada, e a assustadora e arrastada “Black Anima”, com suas melodias ameaçadoras e vocais agressivos de Andrea.

Partindo do princípio de que time que se ganha, não se mexe, optaram por repetir o que já havia dado certo em Delirium. Sendo assim, a produção ficou a cargo de Marco Coti-Zelati, coma mixagem sendo realizada por Marco Barusso, e masterização por Marco D'Agostino. O resultado é ótimo, já que conseguiu aliar clareza, peso, agressividade e organicidade. Já a bonita capa foi obra de Micah Ulrich. Durante toda a sua carreira, o Lacuna Coil primou por fazer o que tinha vontade, e isso deu a eles o direito de poder se aventurar por novos territórios, sem medo de julgamentos que pudessem vir a sofrer. Black Anima é o resultado direto disso. Esse não é um álbum fácil, que vai conquistar o ouvinte com a facilidade de seu antecessor,e em se tratando de música, algo muito pessoal e que mexe com emoções, certamente causará reações divergentes. Mostrando diversidade, e apresentando uma música pesada e sombria, alcançaram, no meu ponto de vista, o melhor resultado de sua carreira, e vão agradar em cheio os que apreciam um Metal com pegada mais moderna. Já os mais saudosistas, bem, esses terão que continuar sonhando com um retorno puro as raízes.

NOTA: 87

Lacuna Coil é:
- Christina Scabbia (vocal);
- Andrea Ferro (vocal);
- Diego Cavallotti (guitarra);
- Marco Coti-Zelati (baixo/teclado);
- Richard Meiz (bateria).

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