terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Sepultura – Quadra (2020)


Sepultura – Quadra (2020)
(Nuclear Blast/BMG - Nacional)


01. Isolation
02. Means To An End
03. Last Time
04. Capital Enslavement
05. Ali
06. Raging Void
07. Guardians Of Earth
08. The Pentagram
09. Autem
10. Quadra
11. Agony Of Defeat
12. Fear, Pain, Suffering, Chaos

Pode-se dizer que hoje existem dois tipos de fãs do Sepultura, e que vivem em lados opostos. De um, temos aqueles que não abandonaram a banda em momento algum, mesmo naqueles mais delicados. Até podem ser críticos quanto a certos lançamentos realizados, mas nunca viraram as costas ao quarteto. Do outro temos as, desculpe o termo, “Viúvas dos Cavalera”. Esse grupo optou por deixar a banda de lado após a saída de Max, e o lançamento dos primeiros álbuns com Derrick Green, alegando que sem ele, perderam a lógica de existir, crítica que se maximizou após a partida de Igor em 2006, para tocar com seu irmão. Para eles, o Sepultura deveria ter deixado de existir. Sinceramente, tenho minha opinião bem formada a respeito disso, mas de forma alguma vou julgar quem faz parte de um ou outro grupo.

Mas independente do grupo que você, fã de encaixa, uma coisa não dá para discutir: a importância do Sepultura para a história do Heavy Metal mundial. São 36 anos de vida, e álbuns do calibre de Schizophrenia (87), Beneath the Remains (89), Arise (91) e Chaos A.D. (93), todos com seu espaço cativo entre os melhores trabalhos de Thrash Metal de todos os tempos. Se após 1998 a carreira começou a capengar graças a alguns lançamentos discutíveis -– fosse pela qualidade da música, fosse por escolhas erradas de produtores -–, a partir de Dante XXI (06), e principalmente A-Lex (09), as coisas começaram a entrar lentamente nos eixos novamente, e se acertaram de vez com Kairos (11). Desde então a banda vêm em uma ascendente constante no que tange a qualidade dos seus lançamentos.

Machine Messiah (17) já havia me impressionado bastante, dada sua qualidade, criatividade e grandiosidade, o que me deixou curioso para saber como, e se, conseguiriam superá-lo. Pois bem! Agora com Quadra, seu 15º álbum de estúdio, não só eu, como os demais fãs de Metal pelo mundo têm essa resposta. Antes de tudo, cabe lembrar que o Sepultura tem como traço marcante em sua história, a inquietude e o inconformismo. Nunca em toda a sua carreira, se acomodaram, e álbum após álbum, independente de fase, sempre procuraram crescer, mudar, inovar. Se até o lançamento de Arise isso funcionou com perfeição, de Chaos A.D. em diante, passou a ser questionado por fãs. Nesse ponto, entra uma questão de gosto pessoal, de você ser mais tradicionalista quanto a música, ou ser desses com uma amplitude musical maior. Vai realmente da individualidade de cara um, e não muda o fato que o Sepultura sempre buscou o caminho mais difícil, abrindo mão da sua zona de conforto, e nunca parando no tempo.


Apesar de liricamente Quadra não se tratar de um trabalho conceitual, musicalmente suas 12 canções se dividem em 4 blocos de 3, que podem ser percebidos com certa facilidade pelo ouvinte. Da faixa 1 até a 3, temos aquele Sepultura mais Thrash, raivoso, enquanto entre a 4 e a 6, escutamos um pouco daquela fase mais percussiva da banda, que se iniciou em Chaos A.D.. Da 7 até a 9, observamos uma banda mais experimental, mais focada no instrumental e sim, com uma influência de Progressivo mais latente, e a partir de faixa 10, escutamos uma banda mais “calma”, mais lenta, com um foco maior no sinfônico e nas melodias. Lendo assim, pode parecer que o álbum se tornou uma colcha de retalhos, mas existe um fio condutor que une todas as partes, que é o Thrash/Groove da banda, que em momento algum deixa de se fazer presente, trazendo peso e agressividade para cada uma das músicas aqui. Isso acaba dando um sentido de unidade absurdo ao álbum, fazendo que o ouvinte consiga se sentir identificar com qualquer um desses segmentos de Quadra.

Individualmente, todos os músicos conseguem brilhar. Sinceramente, não consigo enxergar onde mais as pessoas possam encontrar motivos para criticar a voz de Derrick Green. A cada lançamento ele se supera, mostrando uma gama vocal cada vez maior. A variedade que ele consegue imprimir impressiona qualquer um que se permita escutar o álbum sem aquele preconceito bobo por ele não ser Max Cavalera, além de permitir o Sepultura explorar mais os seus limites. Andreas Kisser resolveu reabrir de vez sua caixa de riffs marcantes, algo que já havia sido observado em Machine Messiah, e que aqui se consolida definitivamente. Sua capacidade nunca foi discutida, mas que ele havia se acomodado por alguns anos isso é indiscutível. Que bom que ele está de volta, e não apenas reciclando riffs de trabalhos anteriores, como o fez por uns anos. Como costumo dizer, Paulo Jr é Paulo Jr, e ele entrega o trabalho consistente de sempre, mas é inegável que desde que Eloy Casagrande entrou na banda, puxou Paulo com ele. Por sinal, Eloy é um caso a parte. O que ele faz é sobre-humano, não tem explicação, e mais uma vez ele é brilhante. Sua amplitude musical é absurda, e sinceramente, nem dá para sentir falta de Igor nesse quesito.



Agora vamos às músicas, o foco principal de tudo aqui. Não se deixe enganar pela introdução orquestrada e com corais, pois quando começa, “Isolation” é uma verdadeira paulada Thrash/Groove. Intensa, direta, com vocais brutos, riffs ferozes e um trabalho brilhante de bateria, é desde já uma das candidatas do álbum a se tornarem clássicas. Esse lado mais feroz continua presente em “Means To An End”, altamente enérgica e com um ótimo trabalho de guitarra, e em “Last Time”, bruta, densa, com uma variedade de tempo bem interessante, e até mesmo partes orquestrais que foram muito bem encaixadas. “Capital Enslavement” traz aquelas batidas tribais que vão remeter o ouvinte ao passado da banda, além de possuir um ótimo groove e riffs bem fortes. É dessas músicas moldadas para fazer você sair batendo cabeça. “Ali” é extremamente variada e desafiadora, e se destaca não só por isso, mas também pelos riffs pesados e pelo trabalho vocal de Derrick. “Raging Void” encerra a primeira metade do álbum com um ritmo mais dissonante, bom groove, e ótimo trabalho percussivo.

A segunda metade abre com a espetacular “Guardians Of Earth”, que de cara pode fazer o ouvinte se recordar da clássica “Kaiowas”. Ela inicia com um violão, sendo acompanhada posteriormente por uma percussão tribal e um coral, até finalmente explodir em fúria com as guitarras e vocais furiosos. É diferente e ousada. É Sepultura. Outra canção que surpreende demais é a instrumental “The Pentagram”, dinâmica, intrincada e com guitarras fortes. “Auten” se destaca não só por suas inclinações progressivas, mas também pelo peso e pelo seu ar mais bruto. Além disso, tem um refrão forte e marcante. “Quadra” é quase que um interlúdio acústico, com seus apenas 47 segundos, onde Andreas mostra toda a sua conhecida habilidade ao violão. Ela prepara o terreno para as duas últimas canções do álbum. “Agony Of Defeat” não só possui um clima mais atmosférico, como apresenta boas melodias e belos corais, tudo sem abrir mão do peso. É nela também que Derrick mostra toda a sua variedade vocal. Encerrando, outro momento surpreendente, com “Fear, Pain, Suffering, Chaos”, que conta com a participação de Emmily Barreto, do Far From Alaska, dividindo os vocais com Derrick Green. Fora isso, esbanja peso nas guitarras, uma ótima bateria, e possui elementos atmosféricos que dão uma densidade extra para a canção.

Na produção, o onipresente, onipotente e onisciente Jens Bogren. Definitivamente, ele consegue tirar o melhor do Sepultura, e não me surpreende que depois de Machine Messiah, tenham optado por voltar ao Fascination Street Studios e trabalhar mais uma vez com ele. Tudo cristalino, limpo, e pesado, mas ainda sim soando vivo, sem o ar artificial e plastificado das produções modernas. Como Jens consegue? Bem, só perguntando a ele. Com muita competência, o Sepultura conseguiu fazer um álbum de Thrash/Groove simplesmente explosivo, onde esbanjam criatividade, e sem abrir mão do seu direito inalienável de experimentar e ousar. Se fossemos colocar as fases da banda lado a lado, poderíamos dizer que Quadra é o Chaos A.D. da atual formação, dado o seu nível de qualidade absurdo. É um segundo auge do Sepultura. Cabe agora aos fãs decidirem se continuam em sua zona de conforto, se prendendo a um passado que dificilmente retornará, ou aceitam a realidade. Os que optarem pela segunda, não vão se arrepender, pois, temos aqui desde já, um dos melhores álbuns de 2020.

NOTA: 9,2

Sepultura é:
- Derrick Green (vocal);
- Andreas Kisser (guitarra);
- Paulo Jr (baixo);
- Eloy Casagrande (bateria).

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