quinta-feira, 30 de junho de 2016

Lacuna Coil – Delirium (2016)


Lacuna Coil – Delirium (2016)
(Century Media - Importado)


1 - The House of Shame
2 - Broken Things
3 – Delirium
4 - Blood, Tears, Dust
5 – Downfall
6 - Take Me Home
7 - You Love Me ‘Cause I Hate You
8 - Ghost in the Mist
9 - My Demons
10 – Claustrophobia
11 - Ultima Ratio

Desde Karmacode (06) é a mesma ladainha a cada lançamento dos italianos do Lacuna Coil. Acusações de terem abandonado o Gothic Metal e se voltado para o Metal Alternativo, “americanizando” seu som e o deixando mais comercial. Aliás, sobre esse último ponto sempre achei engraçado, já que os três álbuns que o antecederam, In a Reverie (99), Unleashed Memories (01) e Comalies (02) possuiam forte apelo comercial.

Nunca aceitei muito bem o rótulo de Gothic Metal dado por alguns ao Lacuna Coil, já que isso o colocava na época, no mesmo barco de bandas como Tristania, After Forever e outras nessa linha, sendo que a mesma pouco tinha em comum com esses nomes, que eram bem mais pesados e se utilizavam de forma maciça de artifícios como vocais na linha “Beauty and Beast”. Os italianos sempre foram mais “pop” e pouco se via Andrea Ferro fazendo uso dos guturais para contrapor a bela voz de Cristina. Em comum, apenas as melodias Góticas/Atmosféricas nas canções.

Além do mais, se você escutar Comalies e o contrapor a In Reverie e Unleashed Memories, fica evidente que a fórmula adotada pela banda já vinha demonstrando desgaste e não demoraria muito para se esgotar por completo. Sendo assim, sempre vi a mudança pós-Comalies como sendo saudável para a banda, por mais que considere Karmacode um álbum fraco e seu sucessor, Shallow Life (09), ainda mais desprovido de inspiração. Mas a verdade é que desde Dark Adrenaline (12) as coisas pareciam ter voltado aos eixos, ao menos no quesito criatividade, já que as acusações de “americanização” se mantinham. E gostem ou não, Broken Crown Halo é um bom trabalho (dentro da proposta adotada pela banda).

Ainda assim, os últimos dois anos não foram dos mais fáceis, já que em um curto espaço de tempo, os guitarristas Cristiano “Pizza” Migliore e Marco Biazzi e o baterista Cristiano Mozzati sairam da banda, terminando assim com uma estabilidade que se mantinha desde 2008. Dessa forma, existia uma preocupação por parte dos fãs, de como isso iria afetar o trabalho dos italianos. E bem, me chamem de louco, mas ouso dizer que tais saídas foram a melhor coisa que poderia ter ocorrido ao Lacuna Coil.

Já aviso, se você é desses fãs saudosistas que vivem sonhando com o retorno do Lacuna Coil a sonoridade do passado, continue dormindo (e sonhando). O que vemos em Delirium é uma banda que soa ainda mais moderna em certos aspectos, mais pesada que nunca e com uma crueza que eu ainda não havia observado em seus trabalhos anteriores. E mesmo o pezinho que colocam lá no passado, não serve de consolo aos saudosistas. Sim, confesso, temos algo de sua fase inicial que pode ser percebido em diversas canções, mas nem de perto passa perto da sonoridade daquele período. Alguns podem se assustar com o que vou dizer, mas Delirium me soou em alguns momentos, como se o Fear Factory (mais discretamente) e o Korn tivessem se juntado aos italianos para regravar Comalies. Parece esquisito, mas acreditem, não é.

O maior retrato do que vamos escutar aqui já se encontra na abertura, com “The House of Shame”. De cara, Andrea Ferro já entra rugindo como nunca o fez até então (seus vocais chegam a beirar o Deathcore em alguns momentos), acompanhado de um instrumental absurdamente pesado, moderno e cru, que se contrapõe com as melodias que surgem quando a voz de Cristina (cantando como nunca aqui) entra na canção. Aliás, Andrea é o grande diferencial de Delirium, já que os melhores momentos ocorrem quando ele surge com seus vocais mais agressivos.

Vários são os pontos a destacar aqui. Primeiro, esse é um trabalho conceitual. Sua história foi elaborada após diversas visitas a sanatórios abandonados na Itália. Aqui temos um antigo sanatório, localizado em uma fortaleza nas montanhas do norte da Itália, com as músicas contando histórias das almas atormentadas que povoam o local. Um conceito emocionalmente bem forte, denso e que ajuda em muito no clima mais obscuro que permeia Delirium. Podemos observar também que, ao contrario dos trabalhos anteriores, existe coesão e unidade, pois temos padrão nas composições. Em momento algum fica aquela sensação de um junção de canções díspares que as vezes ocorria nos álbuns que antecederam este. Delirium é um trabalho que flui naturalmente da primeira à última faixa.

O Lacuna Coil, como já dito, soa muito mais pesado que antes, além de mais direto. Apesar disso, ainda conseguem manter uma certa aura “comercial” e que tem tudo para atrair uma fatia considerável de público. Além disso, a mistura dos elementos Góticos/Atmosféricos do passado (inseridos aqui com muita competência) com a pegada mais moderna adotada, acaba dando um maior dinamismo às composições. O contraste entre a agressividade maior de Andrea com as melodias vocais de Cristina geram uma diversidade muito interessante, e as guitarras, todas gravadas pelo baixista Marco-Coto Zelati, despejam os riffs mais pesados já ouvidos em um trabalho dos italianos. A bateria do estreante Ryan Folden soa pesadíssima e é inegável que a banda só ganhou com sua entrada.

Por mais que não exista uma grande variação de qualidade entre as músicas aqui presentes, é claro que temos algumas que se destacam. A já citada faixa de abertura, “The House of Shame”, é uma delas, sendo o grande destaque de Delirium. Aliás, a faixa título é outra que merece ser citada, com seu refrão grudento (escute e tente não passar dias cantarolando o mesmo) e o contraste de vocais de Andrea e Cristina. “Blood, Tears, Dust” mescla muito bem aspereza e melodias, enquanto “Take Me Home” tem um riff simplesmente viciante. “Ghost in the Mist” e “My Demons” são bem agressivas e cativantes e  “Ultima Ratio” encerra o álbum sendo um retrato fiel do mesmo.

A produção é a melhor da banda até hoje, tendo ficado a cargo de Zelati, com a mixagem feita por Marco Barusso, que já trabalhou com a banda em outras oportunidades. Já a capa também foi elaborada pelo baixista (principal compositor e que aqui tocou todas as guitarras, exceto os solos), com base em uma sessão de fotos de Alessandro Olgiati, que casou perfeitamente com a proposta lírica. Como já dito, os solos não ficaram por conta de Marco Coto Zelati, mas sim por convidados. Os responsáveis foram Barusso, Alessandro La Porta (Forgotten Tears), Diego Cavallotti (Acid Ocean, Neptune’s Rage), Myles Kennedy (Slash, Alter Bridge) e Mark Vollelunga (Nothing More).

Ousando sair de sua zona de conforto, o Lacuna Coil procurou se renovar, conseguindo ótimos resultados. Soando mais renovada e fresca, podemos dizer sem medo que uma nova fase se descortina perante os italianos. Delirium pode até não ser o melhor álbum de 2016, mas certamente está entre os principais e mais surpreendentes desse ano.

E para constar, Delirium está ganhando uma versão nacional via Valhall Music.

NOTA: 8,5

OBS: Resenha originalmente publicada na October Doom Magazine de Junho. O link para leitura online e/ou download se encontra logo abaixo.

Download: https://goo.gl/XivMuI
Leitura: https://goo.gl/7CKMkk

Lacuna Coil é:
- Cristina Scabbia (vocal)
- Andrea Ferro (vocal)
- Marco "Maki" Coti-Zelati (guitarra, baixo, teclado e sintetizador)
- Ryan Blake Folden (bateria)

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Um comentário:

  1. A Cristina manteve o padrão maravilhoso de sempre, mas o Andrea surpreendeu muito. Este cd está ótimo.

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