quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Entrevista: Facada



Com o lançamento de Nadir, os cearenses do Facada se consolidaram mais ainda como a principal banda de Grindcore do Brasil e uma das maiores do nosso cenário extremo. Sendo assim, aproveitamos para entrevistar James e Ari, falando sobre diversos assuntos, desde o lançamento do novo álbum e o momento atual da banda até sobre o cenário underground nacional. E como não poderia ser diferente, tudo com muita consciência e sinceridade, sem medo de falarem o que pensam.

Facada 



1 - Para os que ainda não conhecem o Facada, nos fale um pouco sobre a história e influências da banda.

James: A banda começou em 2003 comigo (james), ari e dangelo. temos 1 demo, 3 discos, alguns shows nas costas e desde lá a gente toca grindcore. A formação hoje é james, david na bateria e danyel e ari nas guitarras.

2 - Os trabalhos anteriores sempre primaram pelo extremismo. Com “Nadir”, conseguiram algo que parecia improvável, soar ainda mais extremos devido à influência mais explícita de Black Metal. Isso surgiu naturalmente? O que esperar para os próximos trabalhos?

Ari: Não acho Black Metal mais extremo que grindcore. Acho que a influência de BM em alguns sons adicionou uma sonoridade mais tétrica, funérea, inclusive Facada voltou a ter músicas com acordes (menores) de verdade, o que não acontecia desde uma música no disco “Indigesto”. Havia uma regra implícita de nunca tocar mais de duas cordas ao mesmo tempo, que foi quebrada em “Nadir”. James pode contar mais sobre essa influência já que ele é o grande Black Metaller da banda, inclusive na cor da pele.
James: Grindcore e Black Metal sempre serão estilos extremos e ós preferimos usá-los da piro forma possível. Foi bem natural, não teve uma quebra e/ou ruptura na verdade. Saiu assim e a gente só achou que tava bom. As músicas feitas pelo Ari e por mim e pelo Danyel saíram, apesar de terem sido feitas em lugares diferentes e pessoas diferentes, tiveram suas similaridades. Eu e o Danyel realmente escutamos bastante Black Metal (temos até um projeto chamado Monge) e saiu naturalmente. Sempre que vamos compôr, a gente tem a preocupação que o riff tenha um sentimento, uma aura seja raivosa, negativa ou mesmo depressiva. É onde mora a beleza do riff. As estruturas das músinas nunca seguem um padrão e são bem caóticas, então temos que fazer riffs bons que sejam tocados talvez em uma parte apenas da música. Em "O tempo será teu humilhado" nenhum riff é repetido na música.

3 - Qual o significado do nome “Nadir”?

James: Nadir vem do árabe e é uma alusão ao ponto mais baixo. É muito usado na geografia como o oposto ao zênite (ponto mais alto), é o ponto mais inferior. Muitos autores usam como analogia ao mais negativo, ao cume da inferioridade que uma pessoa possa chegar. Esse é o significado.

4 - E como anda a repercussão do álbum entre os fãs e a mídia especializada?

James: Só temos recebido críticas positivas pelo albúm. Até agora não fui apresentado a nenhuma que desabonasse nossa conduta...hehehehe. Acho legal que as pessoas estão lendo as letras, muitas se identificam, sabem de cor, várias dizem que aquilo foi feito pra algumas delas. E no grindcore é um pouco difícil isso acontecer. O álbum está seguindo o caminho dele, as pessoas vão gostando, apresentando às outras e isso vai criando um vínculo maior. Muitas gostam tanto que compram o Cd, a camiseta e isso é melhor ainda, pois quem não tem acesso ao CD, as letras, a parte gráfica está perdendo muito do conceito.

5 - A arte da capa de “Nadir” é bem impactante e perturbadora. De onde veio à inspiração para ela?

James: A arte foi feita pelo Everton Luiz. O cara é broder nosso, é cunhado do Danyel e é um artista foda. É pintor, quadrinista entre outras coisas. O cara é muito talentoso e a gente sempre queria fazer algo com as coisas dele. Aí surgiu essa oportunidade. Eu mandei as letras pra ele e disse que o disco tinha essa névoa, essa escuridão envolvida, da redução do ser humano e sua influência negativa para o mundo. Pessimismo, niilismo e misantropia. Então, um dia eu fui na casa dele e ele tinha feito aquele desenho usando uma técnica nova, tipo como se fosse carvado no papel e depois pintado com o giz de cêra por cima. E eu fiquei de cara, era aquilo mesmo. Um "ser" sem forma, sem definição e inerte esperando. E era isso que a gente esperava, algo inusitado e com personalidade. O mínimo de photoshopagem possível. Tanto que ele desenhou TODAs as letras para que cada uma tivesse um real sentimento e força. A inspiração veio do encarte do FGYSFMYF (For God You Soul...for Me Your Flesh (1990)) do Pungent Stench e do Bestial Devastation, coisas de quem comprou disco um dia.



6 - De onde veio à ideia de homenagear Zé do Caixão? Vocês são fãs de filmes de Terror B?

Ari: A ideia já era bem antiga inclusive,a “letra” já estava organizada antes da música ser feita. Acho que ela tomou força depois de ler a belíssima biografia Maldito: A vida e o cinema de Jose Mojica Marins, o Zé do Caixão  do André Barcinski e Ivan Finotti. Sou fã do Mojica e de cinema “sério” e B em geral (terror,ficção, exploitation, poliziotteschi, giallo etc). Pulo de Costa-Gavras a John Waters com todo prazer. Os outros caras sinceramente eu não sei, da última vez que chamei um deles pra ver o mais puro niilismo e misantropia em forma de película, o verdadeiro grindcore em forma de imagens, ele me perguntou: “Pra que ver essas coisas? Tu não tem uma comédia americana não?”  hahahahaha  É vero!
James: Bem eu gosto muito de cinema também. Assisto bastante documentários sobre pessoas e coisas. Vários de terror vagabundos, mal feitos e velhos. Curtas e desenhos. Curto um besteirol também, daqueles mais chinfrins. Mas, pelo menos eu,  quando estou num sábado à noite, bebendo uma cerveja gelada, na sala da casa da família de outras pessoas, realmente não quero ver um bebezinho sendo estuprado, ou mesmo um cara que enfiava umas agulhas nos orifícios dele e expelia pela pele ou até um que gostava de caçar bichos no mato pra fazer sexo oral com os mesmos e com anões hermafroditas. Desculpa, Ari. Sei que o Danyel curte uns filmes underground europeu, muita coisa do submundo, sempre me recomenda bastante coisa.

7 - “Nadir” conta com participações especiais de Marcelo Appezzato (Hutt), John “The Maniac” Leatherface (Chronic Infest) e Jão (Ratos de Porão). Como se deram essas participações e o que elas agregaram de positivo para a música de vocês?

Ari: Tive a idéia de chamar o Marcelo pra gravar “Josefel Zanatas”, porque sabia que ele era fã do Mojica e principalmente por ser vocalista do Hutt, banda que escutamos pra caralho desde a primeira demo. Incontáveis vezes acabamos o ensaio do Facada e ficamos escutando “Sessão de Descarrego”, inclusive tem muita dobra de vocal no Facada que dá pra imaginar de onde vêm! hehe Jão é uma grande influência desde meus 13 anos. A primeira música que consegui tocar com minha primeira banda foi “Crucificados pelo Sistema”.  Não tem muito o que falar dele, é um dos melhores e mais influentes guitarristas do Brasil (não me interessa masturbação guitarrística ), os solos quase me fizeram chorar de alegria. No vinil terá um solo diferente do cd, melhor ainda! O John é amigo da banda e foi convidado pelo James. Ele tem uma voz acima da média, realmente impressionante, ficou demais!!

8 - Ari mora na Alemanha. Sendo assim, como funciona a questão dos ensaios e os processos de composição, produção e gravação da banda?

Ari: Me mudei logo depois do lançamento do “Indigesto” então praticamente não existe ensaios, nem shows comigo. Quando sei que vou pro Brasil  começo a compor. Vim de férias em 2009 ensaiei com o Dangelo umas três vezes e gravamos uma parte de o “Joio”. Com o “Nadir”, só deu tempo de ensaiar duas vezes e gravar a bateria. Tive que gravar guitarra e baixo em Berlin. Com certeza não é o melhor método gravar com o mínimo de ensaios, mas é o que gente consegue fazer e tem funcionado. De um lado é uma pena que não se pode trabalhar um pouco mais as músicas, mas de outro lado rola 100% de espontaneidade e grosseria musical, não dá tempo pra refinar nada. Estive há pouco em Fortaleza e mostrei alguns sons pro novo baterista David, que aprendeu rapidinho, mas não deu tempo de gravar. O ensaio foi filmado, daí ele decora as partes deles, grava com o áudio do ensaio no fone, gravo minhas partes aqui e já foi. Pura finesse facadística!
James: Nosso método é peculiar, mas tem dado certo. Acho que cada banda dá seu jeito quando quer colocar a parada pra frente. E a gente nunca pára de fazer coisa. Agora mesmo, o Nadir nem saiu já temos alguns sons prontos pra ensaiar e uns covers pra um split fim do ano e outras coisas. A banda é um órgão vivo e tá sempre compondo e de forma bem concisa acredito.

9 - “Nadir” é um álbum altamente pessimista, onde suas letras demonstram toda a revolta e descrença com nossa Sociedade. Apesar de a internet e das novas tecnologias permitirem um acesso mais democrático a informações, vemos o efeito contrário ocorrer. Nas redes sociais, o que mais vemos são pessoas dando opiniões sem embasamento e na base do achismo, fora a profusão de correntes e mensagens de autoajuda.  A tecnologia esta emburrecendo o ser humano?

Ari: A internet é uma grande ferramenta, o grande problema é o uso que se faz dela e de toda tecnologia. A uma parcela da juventude precisa de apps pra tudo, até pra comprar fruta. Tem pessoas que não andam mais de três  quarteirões sem olhar a porra do mapa no Iphone. Falo isso sempre que vejo amigos caindo nessa armadilha. Se eu fosse o  Morrissey  ia proibir nos meus shows além da venda de carne, o uso de smart(?)phones. heheheh
Não tem coisa mais imbecil que ir pra show tirar e foto e postar: “Aê mano to aqui no show do Satanation”. A experiência por si só não importa mais, o que vale é mostrar onde você esteve, o que você viu, comeu e bebeu. A tecnologia está mudando a forma de ação do cérebro, não se precisa (?) mais pensar tanto, tem tudo diluído e simplificado no Google. Olha o Googleglass chegando, você vai fazer parte da máquina e a máquina parte de você.  Tudo é resumido pra caber um tweet, as fotos tem que ter esse filtrozinho que descobri que se chamava instangram outro dia. Me falaram ontem que só os usuários de determinadas marcas de  smartphones ou coisa parecida podem usar esse filtro, puta porcaria elitista. É incrível como as pessoas se entregam a qualquer gadget moderno, sem o mínimo de reflexão, gado humano mesmo. Ler um livro ninguém quer e nem dever ser mais possível pra uma boa parte devido ao déficit de atenção. Não adianta demonizar o Skype, a Microsoft, a Apple, o Twitter ou o Facebook, demonize sua própria fraqueza por cair nessa armadilha. Como diz a uma parte da letra de “Amanhã vai ser pior”: evolução ou involução através das máquinas? Você faz parte da massa ou se desgarra do rebanho e busca seu próprio caminho? Olha o NSA controlando TUDO, a distopia tá batendo na porta!
James: O mal da humanidade é o ser humano. Ele tem a ferramenta na sua mão para fazer o que quiser dela, mas é emblemático que ele faça uma idiotice. Isso é inerente a nós, meros humanos, fracos. Temos que demonstrar toda nossa fraqueza, invertendo os valores tentando mostrar ao mundo aquele mero personagem a quem acreditamos como verdade. O plástico, o falso é o que realmente importa. Não temos por que acreditar e é nítido o regresso na humanidade, a total decadência e inversão do que é de caráter verdadeiro. Tudo é falso, embutido, tem algo por trás. Nada é transparente ou está às claras. E a internet só vem pra acentuar esse tipo de atitude. E a isso ninguém escapa. Eu, você, todos estamos sujeitos a cair nessa cilada. Da facilidade. De poder dizer o que você acha e a sua opinião balisada no conforto do seu lar sem ninguém pra te retaliar. Ou mesmo, poder ser o senhor da razão no seu mundinho particular. Essa é a vida higienizada e plástica que as pessoas estão vivendo. Relações mecânicas e computadorizadas. É comum ver uma família com filhos pequenos, cada um no seu mundo particular, no seu smartphone, dando sua opinião sempre, criando pessoas egoístas e idiotas, focadas apenas em relações inexistentes. As pessoas criam arquétipos de si na rede, como pessoas altruístas, bonitas, malvadas, inteligentes, sexys, descoladas, mas quando vemos a realidade é apenas um arremedo mal engendrarado de burrice e mal formação física e estética. O fim é agora.

10 - Aproveitando o mote, a internet e as novas tecnologia se tornaram uma faca de dois gumes para as bandas. Ao mesmo tempo em que o advento do MP3 causa uma drástica queda nas vendas de Cd’s, acaba permitindo que a música de uma banda underground chegue a lugares que há 10 anos seriam impensáveis para a mesma. Como o Facada lida com essa contradição?

James: A gente não tem contradição nenhuma, cara. O que a gente acha mais importante e o total cerne da questão é que escutem a banda. A primeira coisa. Não importa como. Nos tempos antigos todos nós nos virávamos da melhor forma: gravávamos de fitas regravadas, fazíamos cópias de video tapes velhissimas. Dávamos nosso jeito pra poder ouvir aquilo. Por que era caro e difícil ter o material. E uma das qualidades da internet é de poder escutar as bandas, de rever, de reouvir, de conhecer e poder saber se você gosta ou não. Quem gosta realmente da banda vai comprar nosso material. Mais cedo ou mais tarde, quando tiver oportunidade. Não nos importa o POSER, aquele que só escuta no seu mp3 que tem milhões de música com as últimas novidades e os melhores discos e ele não sabe o que colocar pra escutar por que não tem histórico. Ele não sabe o que é bom, nem leu as listas de agradecimentos das bandas pra conhecer outras bandas, nem leu um fanzine físico pra saber como o underground funciona de verdade. Esses tipinhos a gente dispensa. Respeitamos todos os que gostam da gente, que procuram saber e que de uma forma ou de outra contribuem pra manter a chama acesa.



11 - As gerações mais antigas davam grande importância ao material físico, a pegar um Cd ou vinil, apreciar toda a arte, as letras, o material como um todo. Já essa nova geração de fãs parecem não dar mais tanta importância a isso, se contentando a ter gigas e mais gigas de música em um HD, normalmente baixados de graça na internet. Dentro desse novo panorama, ainda vale a pena lançar um Cd físico?

Ari: Sempre vão ter essas 1000 pessoas ao redor do mundo que se importam com música e com as bandas que gostam de verdade. No Brasil é tudo mais volúvel, os fãs de música na Europa em geral são bem mais fiéis e apoiam as bandas que acreditam de verdade. No Brasil essas pessoas existem, mas em menor proporção. E nosso estilo não é, nunca foi e nem provavelmente será algo super popular e passível de hype como são outros estilo dentro do metal/hardcore, é música pra pouca gente no mundo, no Brasil menos ainda.

12 - A indústria musical passa por uma grave crise e muitas gravadoras estão em grande dificuldade. Acham que esse modelo atual de negócio ainda tem algum futuro ou está destinado a morte? Como enxergam o mercado musical daqui a 5, 10 anos?

Ari: A indústria tá se reinventando pra sobreviver e as estratégias das bandas também. Não me surpreenderia se num futuro bem próximo algumas bandas começarem a vender a permissão para os fãs acompanharem a banda durante um período de gravação, turnê ou participar da festa no backstage depois dos show. Já ofereceram bate-papo pelo Skype outro dia. Sem tem uma coisa que não tem limite, é safadeza. E muito sinceramente se a indústria acabasse amanhã e ninguém mais gravasse nada, não seria nenhum drama, já estamos providos de música maravilhosa até o fim dos dias. Obviamente essa indústria não tem nada a ver com a gente, nem a gente com ela, só trabalhamos com pequenos selos, gente com essência.
James: Concordo com o Ari. Tudo de bom já foi feito, acho bem difícil algo de hoje em dia ser superior a algo já feito. Hoje em dia as melhores bandas que escuto são as antigas e me deixa feliz saber que ainda existem TANTAS outras a serem descobertas: demos perdidas, splits, ensaios, projetos, cada dia descubro uma banda antiga nova o que me deixa bem feliz. A indústria musical se auto sabotou e hoje está pagando por todos os anos de abuso e exploração, mas realmente pouco me importa, não sei o que realmente se passa nesse mundo de milhões envolvidos. Acredito que muitas gravadoras underground estão permanecendo por que nunca tiveram lucros exorbitantes, nem grandes gastos, elas sempre estiveram cientes do seu mercado e do seu nicho. Pra gente pouco importa o mercado musical. Tanto faz como ele esteja daqui, espero que o pior possível pra eles. Nós, e falo em nome do underground verdadeiro, sempre sobrevivemos a quaisquer mudanças, pois nossos maiores trunfos são: fazemos por nós mesmos e nos adaptamos a todas as ondas e dificuldades.

13 - Em 2013 a banda está completando 10 anos de carreira. Planejam algo para comemorar essa data?

Ari: Tive a ideia desde o ano passado de gravar um ep de 10 anos da banda, mas o pessoal não se ligou muito na idéia não. Apesar de eu ter ido duas vezes pro Brasil esse ano, fato extraordinário que nunca mais ocorrerá, não conseguimos gravar. Pelo menos a formação original + Danyel tocou no show de lançamento de “Nadir” em junho, que foi o último show do Dangelo. Na verdade foi de longe meu pior show, estava há menos 24 horas na cidade e não tivemos como ensaiar, quando desci do palco melhorou bastante. hehehe
James: Esse ano saiu nossa demo em 7" entre o selos Zuada Recs, Nervura Distro, Two beers or not two beers e Sonoros Recs. Foram prensadas 400 cópias em vinil preto. Temos planos de lançar o Indigesto esse ano ainda em CD e vinil, basta só a gente sre mais responsável e fazer de novo o encarte. O Nadir saiu em CD pela Black Hole e tamo esperando o vinil sair pela Laja Records e EveryDayHate. Fora que já queremos gravar essas músicas novas e uns covers que são surprise. Ainda tem um lance de um documentário aí que eu nem sei em que pé está...Eu acho que pra 10 anos de banda tá massa.

14 - Quais as maiores dificuldades enfrentadas nesses 10 anos?

Ari: A nossa desorganização crônica.  Mas se não fosse assim não seria Facada e não teria sido tão bom e genuíno. O fato de o Brasil ser tão grande também não ajuda em nada, ridículo pensar que em 10 anos de banda, o Facada só tocou 2 vezes no Sudeste onde a gente tem o maior público.
James: Bem, a gente tá afim de ir pra Europa, mas organização realmente não é nosso forte, mas espero que este setor esteja sanado até ano que vem. Nosso antigo batera, Dangelo, por conta de sua vida, teve que sair da banda e o David entrou e a gente agora que vai organizar a parada, renovar o merchandise (se liguem!) até o fim do ano. A gente enfrenta as dificuldades mas não se lamenta muito não, somos bem realistas.

15 - Cada vez mais vemos ótimas bandas vindas da região nordeste do Brasil. Alguns dos melhores álbuns lançados nesse ano de 2013 são de bandas daí, como o Facada, Cangaço, JackDevil, SOH. Como é a cena por ai?

James: A cena é bem prolífica, muitas bandas boas como em todo o país. Hoje essa diferença geográfica já não importa tanto como antigamente, pelo menos conceitualmente e musicalmente falando. Até mesmo equipamentos estão mais baratos, a informação está fluindo. Apesar da nossa cena ser ínfima.
Ari: James tá muito diplomático. Vou falar do lado ruim. Fortaleza definitivamente não uma boa cidade pra quem faz nosso tipo de música. É provinciana ao extremo, é picuinha, inveja e muita gente vivendo numa realidade paralela criada para o seu próprio bem-estar psíquico. Odeio falsidade, no meu segundo dia de férias aí, veio um cara de uma banda falar mal de um dono de um estúdio. Falou horrores durante uns 15 minutos, aí perguntei: “Tu já me fala isso faz uns bons 6, 7 anos, novidade nenhuma. Por que tu continua indo gravar lá, tu já falou isso tudo na frente dele? Tem que falar pra ele, não pra mim”. Me disse que não, senão teria outro estúdio pra gravar, típico comportamento fortalezense, evitar o confronto. E tudo continua na mesma merda.
Ainda de férias em Fortaleza dois jovens que gostavam do Facada, vieram falar comigo em um show e falaram sobre suas bandas e de como estavam batalhado pra ganhar um edital público pra gravaram seu primeiro disco e fazerem uma tour nacional. E me perguntaram se a gente já tinha ganhado algum. Disse que nunca tínhamos ido muito atrás, mas iríamos pra agilizar uma tour europeia. Os editais existem e devem ser utilizados, mas não se pode deixar escravizar por eles.Porque pra onde você olhar no mundo, de todas as bandas clássicas, de qualquer estilo do rock, nenhuma delas fez carreira através de mecenato estatal, eles tiveram espaço porque elas era boas e tinham um público apoiando.Os meninos olharam torto e disseram que tinham contatos e iam descolar esse edital. Aí você vê que a corrupção, favorecimento ilícito, apadrinhamento, tudo de podre que faz com esse país seja uma piada tá em todo canto. Meritocracia?Jamais! É Brasil, artista grande, popular, ultra-comercial e ricos pegando muita grana pública pra montar show superfaturado. No cinema é a mesma coisa, tem sempre aquele grupinho de cineastas/publicitários que sempre vão levar uma graninha pra fazer filmes insignificantes, dá nojo. Evidentemente tem gente séria que merece esse apoio em Fortaleza. Mas tem uma nova geração que acha normal criar uma carreira artificial sustentada por politicagem e público acéfalo,mas eles não vão enganar ninguém a não ser eles próprios. Eu acredito na sobrevivência do mais apto , quem for forte e bom de verdade vai sobreviver, apesar da inúmeras adversidades de manter uma banda numa cidade morta.



16 - Como é ser uma banda de Metal extremo no Brasil?

James: É bem fácil. Extremo mesmo é passar fome.

17 - Tenho visto recorrentes reclamações de bandas nacionais a respeito da dificuldade em se fazer shows e da falta de apoio do público a nossa cena, já que muitas vezes preferem comparecer apenas a shows de bandas estrangeiras, mesmo que hoje tenhamos nomes tão bons quanto os lá de fora. Ao mesmo tempo, vemos bandas brasileiras que não recebem apoio algum do público nacional, mas que possuem respaldo e respeito no exterior, fazendo turnês pela Europa e Ásia. E para completar o pacote, vemos bandas e público reclamando da falta de profissionalismo de produtores e casas de shows. Não caímos ai em uma contradição, já que para termos uma cena mais profissional e um circuito de shows, deveria existir apoio do público nacional a nossas bandas? Como enxergam essa espinhosa questão?

Ari: Fazer tour no exterior não é tão complicado e nem tão glamouroso quanto parece.  É meio que tirar férias tocando com a banda, o prejuízo é iminente, mas a diversão é grande. E você vai ter experiências que nem sonharia se ficasse pra sempre no Brasil, é divertido sem dúvida. A grande lição que vejo aqui na Europa é o DIY (N.R.: Do It Yourself - Faça você mesmo) tanto da parte punk como metal, dos pequenos shows que raramente tem mais de 150 pagantes, mas onde se encontra a nata da melhor música extrema feita neste planeta. Mainstream é negócio, selos explorando bandas, gente que faz isso por dinheiro e nada mais, ego, pose, discurso vazio, megalomania, teatro de horrores,na maioria das vezes música ruim, tô fora. Quando entra gente exclusivamente atrás de $ a coisa começa feder, em qualquer lugar do mundo. Você deve apoiar quem você gosta independente de nacionalidade, se chegar um dia e não tiver uma boa banda no Brasil, que acabe a cena.
James: Cara, sinceramente eu acho esse papo dessas reclamações uma balela sem limites. O que não faltam são shows. É só você ver a quantidade de shows em todas as cenas possíveis. Mais nas cidades grandes eu acho, mas o interior está crescendo e tem feito bons shows. Agora, se você espera que todo show seja uma super estrutura, um som enorme, camarins, você realmente está em outra realidade, amigo. Os show são pequenos realmente e quem se importa? Bandas "grandes" no nosso estilo lá fora, por exemplo, tocam pra 100/150 pessoas, isso em uma boa expectativa, mas são várias cenas envolvidas. Tem uma galera aqui no CE que faz eventos numa sala de aula de uma Universidade e já rolaram vários shows lá. Sempre enche e geralmente com as mesmas pessoas e outras mais novas que vem e a cena vai crescendo. A gente já tocou lá e pra nós tá ótimo. Talvez essa cena do Heavy Metal espere essa coisa mais mainstream de grandes públicos, casas enormes e fogos e todas essa palhaçada. Pra mim, isso não é underground e na verdade, não tenho nenhum conhecimento, muito menos acompanho esse tipo de banda. Esse metal mainstream de capas de revistas, esse mundo ilusório do "rock star" e do apadrinhamento, conchavo e assessorais de imprensa, realmente não me interessa. A cena que eu conheço, pelo menos está muito ativa. Muitos lançamentos, muitas bandas novas e gravando e gente fazendo shows, gigs, tours. Não tem essa de ter uma instituição suprema, onde temos os arautos dos bons costumes do heavy metal por que eles são os antigos. Cada um faz seu corre naturalmente, sem forçar a barra nem a amizade. Essa atitude de apoiar o metal nacional é de uma burrice e nacionalismo estúpido absurdos. Quando eu gosto de uma banda, pouco me importa de onde ela seja. Ela tem que ser boa e real pelo menos. Sei que aqui, nossa música não é apoiada, mas, o que é apoiado aqui? A saúde está a míngua, transporte público não funciona, a cidade é um colapso, não tenho cara de reclamar de uma coisa tão insignificante. Seria uma vergonha pra mim, alguém chegar e dizer que curte minha banda ou que comprou o CD pra apoiar o metal nacional. Prefiro que você nos odeie, a apenas nos ouvir por causa de uma nacionalidade. A gente já tocou p/ um bocado de gente em Festivais, tocamos no meio da rua, como também pra 25 pessoas em um squat em Salvador, cada um com a sua peculiaridade, cada um com seu acerto. Não dá pra generalizar. Não existe mais essa da banda "acontecer", de andar de ônibus da banda, de ser estrela, de ter atitude rock, não existe mais isso e essa galera só precisa acordar pra esse fato.

18 - Gostaria de agradecer pela entrevista e ceder o espaço a vocês para considerações finais.

Ari: Obrigado pelo espaço.
James: Quem se interessar procura facadanagoela na net. Desistam. Show no mercy. Valeu.



  




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