terça-feira, 28 de julho de 2015

ENTREVISTA: HIGHER



HIGHER


Paixão pelo Heavy Metal. Isso define bem o Higher. Sua semente foi plantada no ano de 1995, quando Cezar Girardi (Vocal) e Gustavo Scaranelo (Guitarra), fundaram o Second Heaven. Com o fim da mesma, seguiram com a vida e com seus estudos musicais, tornando-se assim músicos respeitados no meio do Jazz e da música instrumental no Brasil. Até que um dia a vontade de voltarem a tocar Metal juntos falou mais alto e surgia então o Higher, que conta em sua formação, além da dupla, com o jovem guitarrista Felipe Martins (aluno de Gustavo na especialização de Jazz da EM&T), o chileno Andrés Zuñiga (ex-professor da EM&T e colunista da Bass Player) e o baterista Pedro Rezende (ex-aluno de ninguém menos que Virgil Donati). Dessa união de músicos virtuosos, surgiu uma banda que pratica uma sonoridade difícil de ser rotulada, carregada de personalidade e que não abre mão da musicalidade para demonstrar a técnica dos envolvidos. Como disse Gustavo logo adiante, “o Higher é uma banda de Metal e para nós isso basta.”.


Antes de tudo, uma confissão e um elogio. Quando soube que a banda era composta por músicos oriundos do Jazz e da música instrumental, imaginei que iria me deparar com uma banda auto-indulgente e masturbatória. Felizmente quebrei a cara, pois o feeling demonstrado por vocês é impressionante, comprovando que sim, músicos muito técnicos e metal de qualidade e grande musicalidade podem andar de mãos dadas. Acham que antes da primeira audição, muitos podem ter essa mesma impressão errônea por puro preconceito?

Gustavo Scaranelo Agradeço a confissão e o elogio. É possível que sim. Muitos dos fatos que envolvem as bandas, informações prévias às primeiras audições geram imaginações baseadas naquilo que já conhecemos. Já ouvimos opiniões semelhantes à sua, mas é muito satisfatório ouvir das pessoas que a impressão, por fim, é bastante positiva. O fato é que existe a possibilidade de se envolver com qualquer gênero musical de forma mais técnica ou mais subjetiva, emotiva, e mesmo gêneros como o jazz necessitam mais de coração que fórmulas matemáticas.

Gustavo e Cézar, vocês já haviam tocado juntos em uma banda de Metal nos anos 90 (Second Heaven). Como se deu a decisão de formarem o Higher e retornarem ao estilo depois de tanto tempo?

Gustavo - Tudo nasceu da ideia de fazermos registros fonográficos do material que foi produzido na época do Second Heaven, mas fizemos isso com a experiência, influência e capacidade que temos nos dias de hoje. Isso trouxe cara nova ao trabalho e resolvemos rebatiza-lo e seguir com o novo projeto. Retornar ao metal foi algo extremamente gratificante, a energia e intensidade desse gênero é algo único! Não existe isso em outros gêneros, não dessa forma.

Apesar de possuírem a raiz musical no Metal, os músicos do Higher ganharam destaque em gêneros como Jazz e música instrumental brasileira. Essa bagagem que trazem influência de alguma forma no processo de composição ou conseguem se desligar disso no momento de compor?

Gustavo - Somos o resultado de toda nossa experiência e vivência musical, não temos como nos dissociar disso. Mas é claro que quando compomos para o Higher temos nossa mente e coração voltados ao metal e suas características. Já compus peças para violão solo, por exemplo, e são muito diferentes do trabalho do Higher. Mas de qualquer forma todas elas carregam, em meu entendimento, minha assinatura, ou seja, há algo em comum em todas elas. Nunca tive que me policiar para evitar uma ou outra influência, elas sempre aparecem, mas vestidas com a cara do Higher.     

Como têm sido a recepção do álbum entre os fãs de Metal e a crítica especializada?

Gustavo - Maravilhosa! Sobretudo, o fato de atribuírem originalidade à banda! Isso é muito gratificante, até mesmo porque são composições muito honestas, muito verdadeiras, sem qualquer intenção de gerar essa ou aquela impressão, simplesmente fizemos música da maneira que sabemos fazer. Estamos muito felizes com os resultados e com a recepção dos fãs e da mídia.


Quando peguei para resenhar o álbum, simplesmente não consegui ser específico ao definir um estilo para a música que apresentam, devido à amplitude da sonoridade apresentada. Como rotulam o som do Higher, se é que rotulam?

Gustavo - Não rotulamos. O Higher é uma banda de metal e para nós isso basta. Nunca tivemos a intenção de classificar nosso trabalho, o processo criativo se dá de forma livre, se gostamos da ideia, ficamos com ela, se não, a dispensamos.    

A proposta lírica do Cd tem ligação não só com o nome da banda como também com a capa. Conte-nos um pouco mais sobre isso.

Gustavo - Higher refere-se a uma condição humana “mais alta”, condição essa que acreditamos ser a busca legítima do ser humano. Buscamos essa condição, apesar de toda nossa imperfeição, assim como inúmeros outros nesse planeta. A capa mostra uma pessoa rasgando o seu peito e mostrando o seu coração, que é representado pelo símbolo da banda. Essa imagem se refere ao fato de que estamos realmente nos abrindo e falando daquilo que acreditamos, sem máscaras. Gostamos muito da capa, que foi feita pelo talentoso Carlos Fides.  

Gustavo, após o trabalho ser lançado, ocorreu à entrada do guitarrista Felipe Martins, de apenas 16 anos e que é seu aluno na especialização de Jazz da EM&T. O que isso agregou ao Higher?

Gustavo - Além de todo o seu talento e do cumprimento das funções de segundo guitarrista, conforme esperávamos, o Felipe tem toda aquela energia característica das pessoas muito jovens, e isso é muito legal, traz uma alegria diferente ao convívio, apesar de ser alguém bem mais maduro do que a média das pessoas da sua idade. Sua família nos dá apoio total e também fazem parte do nosso time!   

Apesar de estarem em pleno processo de divulgação do álbum de estréia, já existem planos para o sucessor do mesmo? Afinal, são quase 20 anos distantes do Metal para tirar de atraso.

Gustavo - Com certeza, já estamos compondo material novo, bastante animados para a gravação do próximo disco, que ainda não tem previsão para lançamento, mas já está em processo de gestação.


O MP3 e os downloads ilegais transformaram o mercado musical nos últimos anos. Em uma realidade onde, mesmo entre os fãs de Metal, parece contar muito mais quantos gigas se possui de música em um HD do que Cd’s em uma coleção, que argumentos utilizariam para um fã do estilo adquirir o cd do Higher?

Gustavo - Confesso que sempre entendi música como algo que me trazia alegria e que, por vezes, transformava o meu humor e mudava a cor do meu dia! Sempre ouvi música e, muito antes de ser músico, sou apaixonado por música. Hoje o mercado oferece música em diversos formatos legais, como a compra de download e o streaming. Mas é claro a compra do disco favorece a banda e traz certo respiro financeiro ao grupo. Uma vez que os investimentos para a produção, divulgação e veiculação de um projeto como o Higher são muito altos, é importantíssimo que o fã entenda que isso só seguirá adiante se houver condições para que esse investimento não cesse. A venda de discos é parte desse processo. Nosso disco (material físico) foi feito com muito cuidado, pois sabemos que o fã de metal tradicionalmente valoriza isso. Mas a coisa mais importante é que o fã ouça e se envolva com o nosso trabalho!

Ainda dentro desse panorama, qual a importância das redes sociais para o Higher, como plataforma de divulgação do trabalho feito?

Gustavo - Muito importante, assim como para todas as bandas, acredito. As redes são como um termômetro que mede o quão popular algo tem se tornado e quão importante isso é para as pessoas. Infelizmente esse mesmo termômetro tem nos mostrado que muita inutilidade e produções sem qualquer compromisso artístico estão em alta, mas o que nos interessa é o lado positivo disso, cada um vai se conectar com o que lhe toca e essa é a liberdade da qual precisamos, só assim crescemos, sendo responsáveis por nossas escolhas e livres para continuar escolhendo. O Higher tem seus seguidores e somos gratos a todos eles, sabemos que nosso trabalho, assim como qualquer trabalho, não irá agradar a todos, e é por isso que estamos olhando e nos dedicando aos que se conectaram e estão se conectando a nós!     

Existem planos para um novo clipe além do já feito para “Lie”?

Gustavo - Sim. Ele será lançado em breve. O roteiro está pronto e a captação das imagens já foram iniciadas! Em breve traremos novidades!

E como anda o panorama de shows? Como é ser uma banda autoral em um momento em que as mesmas parecem não receber tanta atenção assim do público nacional no que diz respeito a comparecimento a shows?

Gustavo - Como disse anteriormente estamos totalmente focados em nosso público, é claro que gostaríamos de ter casa lotada em todos os nossos shows, mas acreditamos que isso é conseqüência de um trabalho sério, consistente e duradouro, ou seja, é questão de tempo. Por ora estamos muito satisfeitos com o que temos visto, a recepção tem sido ótima e já é comum ouvirmos nossas músicas cantadas em coro, pelo público presente, o que nos emociona sempre!      

Agradeço a entrevista e agora o espaço é livre para fazerem suas considerações finais.

Gustavo - Agradeço a oportunidade e o espaço para falar do Higher, isso é muito valioso para nós. Vou aproveitar o tema de sua última pergunta e dizer que o metal autoral é o que levará o gênero adiante. Seria uma tremenda ingenuidade imaginar que o metal teria futuro através de bandas de cover, isso levaria o gênero a um museu, mas o metal não é coisa do passado, não cabe em um museu, seu lugar é em casas de show, bares e festivais, com seu público numeroso prestigiando a festa, ele está vivo e muito ativo. Nunca se viu tantas bandas autorais como hoje, mas elas todas dependem do apoio do público, para continuarem na estrada e levando a história adiante. Se você é fã de metal, saiba, o gênero depende do seu apoio, bandas como o Higher estão brigando pesado para levar seu trabalho adiante, assim como fizeram as grandes bandas há vinte, trinta, quarenta anos atrás. Apóiem o metal autoral, conversem sobre isso com seus amigos e façam essa reflexão, a cena é formada pela união de todos nós, bandas, público, imprensa, casas de show, produtores, estamos todos juntos e somos todos responsáveis pelo futuro do gênero! Nosso muito obrigado a todos os fãs, o Higher apenas iniciou sua jornada!

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