quarta-feira, 3 de julho de 2019

Myrath – Shehili (2019)


Myrath – Shehili (2019)
(earMUSIC/Shinigami Records – Nacional)


01. Asl
02. Born To Survive
03. You’ve Lost Yourself
04. Dance
05. Wicked Dice
06. Monster In My Closet
07. Lili Twil
08. No Holding Back
09. Stardust
10. Mersal
11. Darkness Arise
12. Shehili

Quando me deparei pela primeira vez com o Myrath, logo após o lançamento de seu 3º álbum de estúdio, Tales of the Sands, em 2011, confesso que inicialmente, o que me chamou a atenção foi o fato de virem da Tunísia, um país africano e de maioria muçulmana. Só que ao escutar “Merciless Times”, faixa de trabalho do álbum em questão, percebi que não estava apenas diante de um nome oriundo de um “país exótico”, mas sim de uma ótima banda de Metal Progressivo, que enriquecia a sua música com elementos sonoros de sua cultura. Na sequência, após um hiato de 5 anos, lançaram o excelente Legacy e, não só consolidaram seu nome entre os grandes do estilo, como conseguiram um contrato com a earMUSIC. Shehili é sua estreia pela nova gravadora.

Esse é um trabalho que consolida de vez a sonoridade da banda. Reforçando ainda mais a presença de elementos da música do Norte da África, o quinteto formado por Zaher Zorgati (vocal), Malek Ben Arbia (guitarra), Anis Jouini (baixo), Elyes Bouchoucha (teclado) e Morgan Berthet (bateria), acaba gerando um Metal Progressivo grandioso, cativante e majestoso, que vai agradar em cheio aos fãs do estilo. A mistura executada soa muito orgânica, nada forçada, e muito disso se dá pelo fato de que os instrumentos e elementos folclóricos realmente são parte essencial das canções, e não estão ali apenas para maquiar deficiências da banda. Nesse sentido, não soa exagero dizer que se aproximam do Orphaned Land, mesmo que as bandas soem diferentes entre si.


Uma das coisas que mais me prende na música do Myrath, é que ela tem algo um tanto exagerado, kitsch, mas de uma forma muito positiva. É daqueles casos onde às vezes, o mais é mais, o que acaba sendo muito bom. Isso torna tudo cativante, divertido, e te prende a música de uma forma que poucas bandas conseguem atualmente, ao menos quando falamos de Metal Progressivo. Exemplos disso ficam bem claros nas fotos presentes no encarte, e em vídeos de canções como “Believer” (do álbum Legacy) e “Dance”, onde essa estética do exagero fica muito evidente, desde a forma como eles são construídos, até na interpretação do vocalista Zaher Zorgati. Aliás, como canta cada vez melhor esse rapaz, é sem dúvida um dos grandes diferenciais do Myrath frente a concorrência.

Após uma breve introdução, temos de cara um dos grandes destaques de todo álbum, a ótima “Born to Survive”, canção forte e que mescla de forma primorosa elementos folclóricos e Metal Progressivo, além de um ótimo trabalho de guitarra e refrão marcante. Na sequência “You’ve Lost Yourself” tem bom trabalho percussivo, além de ótimos riffs e vocais. “Dance” é a epítome da estética kitsch adotada pelo Myrath. É exagerada, pomposa e acima de tudo, divertida. É impossível não se empolgar com ela e não sair dançando pela sala, cantarolando o refrão. Porque sim, você fará ambas as coisas durante a audição. Já “Wicked Dice” é a “versão má” da faixa anterior, já que deixam essa coisa meio brega totalmente de lado, com uma aposta maior no Prog – mas claro, com elementos Folk salpicados aqui e ali –, guitarra, baixo e teclados marcantes, além de boas melodias. A ótima “Monster In My Closet” também se encaixa nessa descrição, apesar de uma presença um pouco mais forte dos elementos folclóricos, principalmente no que se refere a percussão.


Do meu ponto de vista, a segunda metade do álbum dá uma ligeira caída, ainda que o alto nível das canções seja mantido. “Lili Twil” é um cover para uma canção do grupo de Rock marroquino Les Frères Mégri, que fez sucesso no mundo árabe na primeira metade dos anos 70. Mesclando trechos cantados em um dialeto marroquino, com partes cantadas em inglês, conseguiram deixar a canção com uma cara própria, sem descaracterizar a versão original. “No Holding Back” tem um clima mais épico, graças a boa utilização de elementos sinfônicos, mas possivelmente é a que menos empolga em todo trabalho, ainda que esteja longe de decepcionar. “Stardust” tem um ar mais sombrio, que destoa um pouco da atmosfera do restante do álbum, mas soa bem emocional e tem um ótimo trabalho tanto do baixo quanto do teclado. “Mersal” é outra que se destaca por esse ar emocional, e contra com a participação do renomado cantor e compositor tunisiano Lofti Bouchnak. A sequência final é composta pela pesada e moderna “Darkness Arise”, e pela sinfônica e bela faixa título.

Determinada a entregar um trabalho de qualidade em todos os sentidos, os tunisianos passaram por 4 estúdios e trabalhou com alguns nomes mais do que conhecidos no meio. A produção ficou a cargo do ex-tecladista do Adagio, Kévin Codfert, que já está com a banda desde o debut. Ele também foi o responsável por mixar 3 das canções aqui presentes. As mixagens e masterizações restantes foram realizadas por Eike Freese (Deep Purple, Gamma Ray, Hansen & Friends) e pelo onipresente, onisciente e onipotente Jens Bogren. Quanto a parte gráfica, foi dividida entre Perrine Perez Fuentes (Adagio e o próprio Myrath), Paul Thureau (Rhapsody of Fire) e Laura Billiau. Vivendo seu melhor momento, o Myrath entrega aos fãs um trabalho que solidifica de uma vez por todas, sua sonoridade, além de ser bem equilibrado, orgânico e divertido. Certamente um dos grandes álbuns de Metal Progressivo que você escutará em 2019! Se gosta do estilo, mas ainda desconhece o trabalho da banda, está mais que na hora de corrigir essa falha.

NOTA: 88

Myrath é:
- Zaher Zorgati (vocal);
- Malek Ben Arbia (guitarra).
- Anis Jouini (baixo);
- Elyes Bouchoucha (teclado);
- Morgan Berthet (bateria).

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