quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Anaal Nathrakh - A New Kind of Horror (2018)


Anaal Nathrakh - A New Kind of Horror (2018)
(Metal Blade Records - Importado)


01. The Road To…
02. Obscene As Cancer
03. The Reek Of Fear
04. Forward!
05. New Bethlehem/Mass Death Futures
06. The Apocalypse Is About You!
07. Vi Coactus
08. Mother Of Satan
09. The Horrid Strife
10. Are We Fit For Glory Yet? (The War To End Nothing)

Tenho lá algumas certezas nessa vida, e uma delas é que no dia do apocalipse, a trilha sonora de fundo será a discografia do Anaal Nathrakh, duo inglês surgido no ano de 1999 e formado por Dave Hunt (Benediction) nos vocais e Mick Kenney nas guitarras, baixo e programação. Com uma discografia nivelada por alto e álbuns do porte de Hell Is Empty, and All the Devils Are Here (07), In the Constellation of the Black Widow (09) e mais recentemente The Whole of the Law (16), chegam ao seu 10º álbum de estúdio, com A New Kind of Horror.

Mas antes, vamos falar um pouco de história, aquela coisa que a maioria dos brasileiros hoje em dia não dá importância durante o período em que está na escola, mas depois que se forma, pensa que entende do assunto porque viu algum canal de YouTube, ou leu algum livro escrito por um jornalista. Em 2018, completa-se 100 anos que se findou a 1º Guerra Mundial (1914-1918), ou a Guerra das Guerras, um conflito que reuniu grandes potências de todo mundo e vitimou, entre civis e militares, 19 milhões de pessoas. Ela mudou de forma radical o mundo conhecido até então, alterando radicalmente o mapa territorial e político, e com consequências econômicas desastrosas para boa parte dos envolvidos de forma direta. Tudo isso acabou sendo determinante para os acontecimentos das décadas seguintes. Além disso, viu não só o surgimento de uma nova forma de fazer guerra (a guerra de trincheiras), como também gerou um avanço tecnológico no que diz respeito às armas, que se tornaram mais letais do que nunca.

Por tudo isso citado acima, o Anaal Nathrakh resolveu utilizar o conflito como base para A New Kind of Horror. E convenhamos, qual tema poderia ser mais perfeito para uma música com tamanho nível de insanidade, raiva e niilismo como a feita pelo duo britânico. A junção dos vocais doentios de Dave, com os riffs que mesclam Black Metal e Industrial, que nos são entregues por Mick, gera uma sonoridade quase apocalíptica, bruta e que beira a demência. Isso invariavelmente vai fazer o ouvinte se sentir em meio a uma trincheira, durante uma batalha, tamanho o clima de desconforto, medo e horror que as canções vão causar. Se não for para causar desconforto no ouvinte, o Anaal Nathrakh nem entra em estúdio para gravar. Vale dizer também que se comparado com The Whole of the Law, esse é um álbum mais simples e direto, por mais que as características de sempre estejam presentes.

 

Após a introdução com “The Road To…”, o horror toma conta com a forte “Obscene As Cancer”. É quase impossível não se sentir oprimido pelo peso dessa canção. O refrão também é ótimo. Uma coisa que sempre me impressiona na música do Anaal Nathrakh, é que mesmo com o inferno ocorrendo, os vocais limpos de Dave funcionam com perfeição quando surgem. “The Reek Of Fear” é simplesmente avassaladora, com seus riffs em profusão e pedais duplos, além de contar com uma variedade vocal absurda, com direito a falsetes de Hunt. “Forward!” pode causar algum desconforto nos mais radicais, pois, possui elementos que remetem ao Deathcore, mas o peso absurdo das guitarras, o ótimo groove, e as passagens industriais muito bem utilizadas, fazem dela um dos destaques do álbum. Essa sequência inicial é simplesmente avassaladora.

“New Bethlehem/Mass Death Futures” é dessas canções doentias que só o Anaal Nathrakh sabe fazer. Destaca-se principalmente pelas ótimas guitarras e sua mescla de Black e Industrial. É tipo uma batida de frente entre o Dimmu Borgir com o Fear Factory. E o que dizer de “The Apocalypse Is About You!”? Imagine você sendo atropelado por uma Betoneira carregada até o talo, sem freio, descendo uma ladeira a 150 Km/h. É ainda pior. “Vi Coactus” conta com vocais de Brandan Schieppati, do Bleeding Through, e se destaca pelos riffs industriais e pelo peso implacável, enquanto “Mother Of Satan” é a canção que possivelmente menos empolga em todo álbum, mas ainda sim é um verdadeiro rolo compressor quando assunto é agressividade. “The Horrid Strife” tem uma cadência interessante, bom groove e ótimas guitarras. Encerrando o álbum, a ótima “Are We Fit For Glory Yet? (The War To End Nothing)”, com um ar épico, uma variedade vocal absurda, um belo e surpreendente coral, e claro, a insanidade a qual estamos acostumados.

Como de praxe em todos os seus trabalhos, a banda cuidou de tudo no que diz respeito a produção e parte gráfica, sempre a cargo de Mick Kenney. O resultado é o que já conhecemos, ou seja, uma produção de qualidade, que te permite escutar todos os detalhes, mas que não abre mão da agressividade, do peso e daquela dose de sujeira necessária a música do duo. A capa, muito bonita, segue a temática lírica do trabalho. Mais uma vez o Anaal Nathrakh entrega aos seus fãs um álbum azedo, bruto, desconfortável, e violento, mas ainda sim belo. Uma trilha sonora para a vida, com seus momentos bons e ruins. A verdadeira música do apocalipse!

NOTA: 92

Anaal Nathrakh é:
- V.I.T.R.I.O.L. (vocal)
- Irrumator (guitarra, baixo, programação)

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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Orphaned Land - Unsung Prophets & Dead Messiahs (2018)


Orphaned Land - Unsung Prophets & Dead Messiahs (2018)
(Century Media Records/Shinigami Records – Nacional)

01. The Cave
02. We Do Not Resist
03. In Propaganda
04. All Knowing Eye
05. Yedidi
06. Chains Fall to Gravity (Feat. Steve Hackett)
07. Like Orpheus (Feat. Hansi Kursch)
08. Poets of Prophetic Messianism
09. Left Behind
10. My Brother's Keeper
11. Take My Hand
12. Only the Dead Have Seen the End of War (Feat. Tomas Lindberg)
13. The Manifest – Epilogue

"Canto que ha sido valiente
Siempre será canción nueva"

– Victor Jara (1932 – 1973)

Passei praticamente 9 meses escutando Unsung Prophets & Dead Messiahs, e confesso, me faltava coragem de pegar o mesmo para resenhar. Porquê? Simples, a cada nova audição feita, sentia novas emoções, conseguia notar nuances que não havia percebido das vezes anteriores. A verdade é que o 6º álbum de estúdio dos israelenses do Orphaned Land é um trabalho complexo, e de diversas formas diferentes. Seja do ponto de vista musical, com sua já conhecida mescla de elementos diversos, seja em seu conceito lírico, trabalhando em cima de um dos textos mais clássicos da filosofia, esse é um trabalho que te coloca para pensar. De janeiro a setembro, escrevi, apaguei, reescrevi, repensei conceitos, e bem, esse é o resultado de tal jornada. O texto é longo, não é uma resenha comum, mas convenhamos, Unsung Prophets & Dead Messiahs também não é um álbum padrão.

Imaginem um grupo de homens que sempre viveram em uma caverna, acorrentados pelas pernas e pescoços, sem poder mudar de lugar ou olhar para os lados. Não conseguem sequer ver a si mesmos na escuridão da caverna. A única coisa que enxergam é a parede diante de seus olhos. A luz existente, que arde fraca, é a de um “fogo” um pouco distante, localizada em um ponto mais alto da caverna, sendo que existe um pequeno muro entre esses homens e o mesmo. Ao longo desse muro, algumas pessoas passam carregando objetos como estátuas, figuras de animais, pedras, madeiras, e mais uma infinidade de materiais, que ultrapassam a altura dele. Enquanto fazem isso, alguns conversam entre si. Dessa forma, tais homens aprisionados conseguem ver na parede da caverna, suas sombras, a de seus companheiros e as de tais objetos citados. As sombras e seus sons são a realidade existente para essas pessoas. São o seu mundo, o que conhecem, e obviamente não questionam tal realidade, até porque não possuem conhecimentos para tal.

Imaginem então, que um desses homens é libertado e obrigado a olhar para a luz? Todos aqueles objetos que até então ele apenas via através de sombras, lhe pareceriam absurdamente estranhos. Ele não os reconheceria de forma alguma, e quando confrontado com a verdade, se sentiria desconfortável. Para ele, o que entendia e enxergava antes lhe pareceria muito mais confortável do que ser confrontado com a realidade. Já ouviram aquele ditado de que a ignorância é uma benção? Certamente a dor causada pela luz e todo esse estranhamento, o fariam querer virar novamente para a parede, onde conseguia distinguir o seu mundo, onde tudo era mais confortável. Com sua recusa em olhar para a luz, simplesmente o pegam e o arrastam a força para o alto, para fora da caverna, o expondo ao sol. Irritado com isso, e com os olhos ofuscados por tamanha claridade, ele certamente não conseguiria distinguir nada em um primeiro momento. Seria incapaz de enxergar o que dizem a ele ser real. 


Então após um tempo, ele começa a se habituar a tudo a sua volta. Começa a enxergar sua sombra, os homens, os objetos, as constelações no céu noturno e o próprio sol. E mais, observando tudo em seu entorno, começa a compreender o funcionamento do mundo e de como tudo aquilo afetava a sua antiga realidade. Sente então pena de seus antigos colegas. Um dia esse homem retorna a caverna, assumindo seu antigo lugar, mas dessa vez, por ter se acostumado à luz, sua visão acaba ofuscada justamente pela escuridão, e ele em um primeiro momento não consegue discernir direito as sombras na parede da caverna. Seus companheiros então concluem que ter ido em direção a luz o cegou, e que de forma alguma vale a pena ir até a mesma. E mais, caso alguém os tentassem libertar, para os levar até lá, seriam capazes de matar que o fizesse, afinal, a luz cega.

"Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem."
- Rosa Luxembrugo (1871 - 1919)

Bem, o que você acabou de ler é uma forma resumida da Alegoria da Caverna, texto do filósofo grego Platão (427-347 a. C.), presente no Volume VII de A República. Justamente por ser uma Alegoria, está aberta a uma diversidade imensa de interpretações, e é em cima de uma delas que o Orphaned Land escolheu trabalhar o conceito de Unsung Prophets & Dead Messiahs, seu 6º álbum de estúdio. O enfoque da banda é político, partindo de um ponto básico. É muito mais fácil para os políticos, as religiões e a mídia, controlarem uma nação se está não for instruída, não possuir um conhecimento verdadeiro da realidade que a cerca. Tiram o poder de resistir das pessoas, as levando apenas a pensar em sobreviver, dispersando suas mentes e usando dos mais diversos artifícios para alcançar tal objetivo. Mantenha as pessoas em sua zona de conforto, não dê a elas conhecimento para que enxerguem a realidade, e você terá todo controle que desejar, afinal, elas não vão querer se livrar de suas correntes, pois é muito mais confortável viver nas sombras, sem o desconforto da luz do conhecimento em seus olhos.

O controle chega a um ponto, que em muitos momentos nos levam a questionar a Democracia e a Liberdade, as colocando como responsáveis pelo caos e pela corrupção. Sabe, quando em um relacionamento abusivo, a outra pessoa faz com que você sinta que não entende nada e que está sempre errado, que a culpa por tudo isso é sua, e pior, que você é louco quando questiona a noção de realidade que lhe é imposta? E mais, que por tudo isso, é ele quem sabe quais são as melhores escolhas para sua vida? É assim que a coisa funciona. As pessoas se sentem mal, inseguras, sem força para ir além da realidade imposta. Como já dito agora a pouco, acabam só pensando em sobreviver, e a dominação lhes é automaticamente imposta e aceita, travestida ou não de um viés democrático.

“Se você quiser uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando em um rosto humano - para sempre”
- George Orwell (1903 – 1950)


O Orphaned Land nunca se furtou a lutar pelo que acredita, a resistir e a gritar contra tudo que julga injusto. A prova disso é que, em uma região onde a harmonia entre os povos parece impossível, pregam uma mensagem de união, e provam que através da arte, é possível sim existir respeito entre todos. A recepção nos países árabes é excelente, e a coisa chega ao ponto de, em festivais mundo afora, vermos bandeiras dos mesmos desfraldadas ao lado de bandeiras de Israel nos shows da banda. Também já saíram em turnê pela Europa com uma banda palestina, o Khalas, e existem até mesmo petições pedindo que sejam indicados para o Nobel da Paz, por todas as atitudes do grupo em prol do respeito e da convivência pacífica entre as pessoas. Em resumo, é um “bandão da porra” esse Orphaned Land.

Musicalmente, desde seu início a proposta foi de fazer um Metal tipicamente voltado para a sonoridade do Oriente Médio, algo que foi sendo aprimorado com o passar dos anos, e que resultou em ao menos 2 álbuns fabulosos, Mabool - The Story of the Three Sons of Seven (04) e The Never Ending Way of ORwarriOR (10) e no ótimo All Is One (13), que até pode ter menos profundidade e ser menos complexo que seus antecessores, mas que ainda sim passa longe de soar irrelevante. A questão é que em uma discografia nivelada por cima, nada menos do que a excelência, ou chegar bem próximo dela, é aceito. E querem saber? Talvez tenham alcançado a mesma como Unsung Prophets & Dead Messiahs, seu trabalho mais ambicioso em 26 anos de carreira. A forma como conseguiram mesclar Metal/Rock Progressivo, Death Metal Melódico, Classic Rock, elementos sinfônicos e folclóricos alcançou um novo patamar, dando ao álbum uma diversidade ímpar.

Nenhuma das 13 composições aqui presentes são previsíveis, graças ao dinamismo das mesmas. Soando mais épica, poderosa e profunda do que nunca, se torna impossível ao ouvinte não se emocionar durante os pouco mais de 60 minutos de duração do álbum. Imagine uma junção dos 3 trabalhos que o antecederam, do peso de Mabool e The Never Ending Way of OrwarriOR, com o lado orquestral e mais acessível de All Is One. Esse é Unsung Prophets & Dead Messiahs. Kobi Farhi voltou a utilizar com mais frequência seus vocais guturais, sem precisar abrir mão das vocalizações limpas, e em ambas consegue ótimos resultados. Se você fazia parte do grupo de viúvas da dupla Matti Svatizky e Yossi Sassi, saibam que Chen Balbus e Idan Amsalem (estreando em estúdio com a banda) alcançaram um resultado primoroso no trabalho de guitarras, principalmente no que tange aos riffs, simplesmente excelentes. Em relação à parte rítmica, Uri Zelcha (baixo) e Matan Shmuely (bateria) soam simplesmente fabulosos e irrepreensíveis. Os corais foram gravados pelo Hellscore Choir, conduzidos por Noa Gruman, vocalista do Scardust, e as partes orquestrais ficaram por conta da The Orphaned Land’s oriental orchestra. Conseguiram elevar as músicas a um nível absurdo de grandiosidade, mas sem que isso soasse exagerado ou tirasse o peso das mesmas.


De cara já temos a fantástica “The Cave”, hipnótica, complexa, com vocais cativantes, além de ótimos corais e um uso primoroso de cordas e instrumentos típicos. “We Do Not Resist” é um Death Melódico com elementos sinfônicos, bem pesado, com Kobi dando um verdadeiro show nos vocais, já que graças a ele você consegue sentir a raiva emanando da canção. Claro que os demais elementos esperados em uma música do Orphaned Land também se fazem presentes. Tem tudo para se tornar clássica. “In Propaganda” é outra faixa que vai hipnotizar os ouvintes, graças ao seu lado étnico, com ótimas melodias, ao belo trabalho das guitarras e a ótima seção de cordas. E o melhor, não arrefece no peso. Na sequência, a banda dá uma acalmada, com a belíssima e emocionante balada “All Knowing Eye”, e “Yedidi”, adaptação da canção tradicional Yedidi Hashachachta, um poema litúrgico, escrito no século XII pelo rabino Yehuda Halevi. Foge do comum por sua musicalidade diferenciada, e justamente por isso soa cativante. O que falar então da maravilhosa “Chains Fall to Gravity”, que conta com a participação do lendário guitarrista Steve Hackett (Genesis)? Tipicamente progressiva, essa canção beira a perfeição com suas lindas melodias e um solo maravilhoso. Tem um clima épico e uma musicalidade poucas vezes vista em uma canção da banda. Já é clássica.

Como não estão de brincadeira, na sequência já emendam com outro clássico, “Like Orpheus”, cativante, majestosa e com vocais primorosos de  Hansi Kursch (Blind Guardian), que dão uma carga emocional ainda maior a música. “Poets of Prophetic Messianism” soa como esses interlúdios musicais que a banda sempre faz tão bem em seus álbuns, com um ótimo uso de instrumentos típicos e belos corais, além da letra ser retirada de A República, de Platão. “Left Behind” tem ótimos riffs, com um groove de guitarra contagiante, além de um lado oriental bem aflorado. “My Brother's Keeper” é outra com melodias típicas e faz uma espécie de jogo de luz e sombras, enquanto “Take My Hand” se destaca principalmente pelas boas guitarras. Não se deixe enganar pela introdução de “Only the Dead Have Seen the End of War”, pois, ela é uma espécie de retorno as raízes Death da banda, conta com os vocais de Tomas Lindberg e é possivelmente sua canção mais pesada em muito tempo. Encerrando, a linda “The Manifest – Epilogue”, que faz jus ao título, e é um retrato perfeito de tudo que escutamos nas canções anteriores.

"Todos eles pareciam destinados, como por uma maldição, a uma existência desalentadora, mesquinha, limitada. Nenhum deles jamais havia feito alguma coisa. Eram pessoas do tipo que, em todas as atividades imagináveis, mesmo que fosse apenas a de entrar num ônibus, são automaticamente empurradas para fora do centro das coisas"
- George Orwell (1903 – 1950)

A produção ficou a cargo da própria banda, com a gravação e a mixagem realizadas pelo onisciente, onipresente e onipotente Jens Bogren. Já a masterização foi realizada por Tony Lindgren (Angra, Amorphis, Dimmu Borgir, Enslaved, Kreator, Sepultura). O resultado é simplesmente fantástico, uma das melhores produções que escutei esse ano, já que apesar de ter tanta coisa ocorrendo ao mesmo tempo nas canções, você consegue notar cada mínimo detalhe. Já a parte gráfica, belíssima, e que retrata de forma perfeita a música contida no álbum, é obra do francês Metastazis (Jean "Valnoir" Simoulin). Trabalhando um conceito que possui fortíssimas implicações políticas, traçando um paralelo entre governos, mídia, e a lavagem cerebral que transforma a nossa população em zumbis dentro de uma caverna, o Orphaned Land lança muito mais do que um simples álbum. É um grito de indignação, um brado de resistência. Dificilmente Unsung Prophets & Dead Messiahs deixará de ser o álbum de 2018!

NOTA: 96

Orphaned Land é:
- Kobi Farhi (vocal);
- Chen Balbus (guitarra/saz);
- Idan Amsalem (guitarra/bouzouki);
- Uri Zelcha (baixo);
- Matan Shmuely (bateria).

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terça-feira, 25 de setembro de 2018

Agony Voices - Mankinds Glory (2015)


Agony Voices - Mankinds Glory (2015)
(Independente - Nacional)


01. Mankinds Glory
02. Nocturnal Minds
03. A New Beginning
04. No Traces
05. World of Devastation
06. Desire for Pain
07. Mysteries of Fear
08. Labirynth
09. Delusions of Death
10. Abyss of Despair

O Doom Metal não é um dos estilos mais populares entre os fãs de Metal no Brasil, mas, mesmo assim, nos últimos anos observamos um crescimento do mesmo por esses lados. Isso se deu não só com o surgimento de ótimos nomes na cena, caso de bandas como Aporya, Dying Suffocation, Fallen Idol, Saturndust, Under The Gray Sky, Les Memoires Fall, Durty Grave ou Lelantos (a lista é maior e eu poderia ficar até amanhã as enumerando), como também por uma maior valorização de veteranos, como  Mythological Cold Towers, HellLight, The Cross e Imago Mortis. Da nova geração  outro nome que vale muito a pena citar é o Agony Voices.

Surgido no ano de 2005, na cidade catarinense de Blumenau, o Agony Voices se enveredou pelos campos do Doom/Death, aquele mesmo que no começo dos anos 90 consagrou nomes seminais como Paradise Lost, Katatonia, Anathema e My Dying Bride. Isso ficou bem audível em seu trabalho de estreia, The Evil (11), onde era possível observar uma banda com um potencial de crescimento muito bom. Após o lançamento, passaram por uma importante mudança, com a inclusão de uma segunda guitarra, a cargo de Silvia. Isso se refletiu na sonoridade de Mankinds Glory, seu 2º trabalho de estúdio, lançado no ano de 2015.

Se você viveu a cena Doom/Death do início dos anos 90, certamente vai se recordar de como seus principais nomes foram evoluindo sua sonoridade, trabalho após trabalho, com a adição de novos elementos musicais. É exatamente o que observamos acontecendo em Mankinds Glory, já que os catarinenses adicionaram a sua receita, toques de Gothic Doom. A segunda guitarra permitiu trabalharem melhor as composições e melodias, e mesmo que em muitos momentos aquela sonoridade mais pesada da estreia se faça presente, na maior parte do tempo o que observamos é uma música menos crua e agressiva, graças a mescla de passagens mais tranquilas e cadenciadas com alguns momentos mais extremos e pesados.


Isso já pode ser observado na abertura, com a ótima  “Mankinds Glory”, com um ótimo trabalho das guitarras. Na sequência, temos duas músicas que remetem mais ao debut,  “Nocturnal Minds” e  “A New Beginning”, ambas com uma carga maior de peso e agressividade. “No Traces” é dessas canções tão densas, que dá até para você cortar o ar  com uma faca durante a sua audição, enquanto “World of Devastation” é muito bem trabalhada e tem algumas melodias sombrias e interessantes, assim como “Desire for Pain”. “Mysteries of Fear” tem um bom trabalho vocal, alternando entre o gutural e o limpo. Os vocais limpos voltam a surgir na melancólica “Labirynth”, onde o trabalho das guitarras me remeteu ao Paradise Lost em alguns momentos. “Delusions of Death” é outra que esbanja densidade, e encerrando, temos a ótima e sombria  “Abyss of Despair”, com sua dose extra de melancolia.

A produção foi realizada pela própria banda, com a mixagem e masterização feitas por Roger Fingle (Desolate Ways, Hollow, Luciferiano, Sodamned). O resultado é muito bom e conseguiu aliar organicidade com peso e clareza, algo cada vez mais raro atualmente. Já a parte gráfica, belíssima por sinal, foi obra de Rodrigo Bueno (HellLight, Lacrima Mortis, Mythological Cold Towers). Soando mais maduro e coeso, o Agony Voices confirmou com  Mankinds Glory, o potencial que havia demonstrado no seu debut, além de dexiar claro que pode crescer ainda mais. Altamente recomendado aos fãs de Doom Metal.

NOTA: 86

Agony Voices (gravação):
- Jonathan (vocal);
- Barasko (guitarra);
- Silvia (guitarra);
- Jr. Klock (baixo);
- Luis (bateria).

Agony Voices é:
- Jonathan (vocal);
- Barasko (guitarra);
- Silvia (guitarra);
- Valda (baixo);
- Luis (bateria).

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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Facada - Quebrante (2018)



Facada - Quebrante (2018)
(Black Hole Productions - Nacional)


01. Deixa O Caos Entrar
02. Nós Somos O Veneno
03. Apenas Mais Um Igual A Mim
04. O Pior De Todos
05. A Farsa: Nojo
06. Tudo Me Faltará
07. Vogelfrei
08. Quebrante
09. A Maldição Da Rede
10. Estão Esperando Seu Erro
11. Sumir
12. Tiro No Caixão
13. A Vitória Da Diva
14. Há Honra (?)
15. Eu Sei Como É Morrer
16. Putrescina
17. A Verdade Gera O Ódio
18. Pervitin
19. Blasfema Eu
20. Feliz Ano Novo
21. A Vida É Uma Armadilha
22. Ele Não Voltará
8,0 23. Miss Distopia

Quem não conhece o Facada, bom sujeito não é, ou talvez apenas seja um cidadão de bem, defensor da moral, da família e dos bons costumes. A questão é que a banda cearense é sem dúvida uma das melhores formações de Metal Extremo de todo mundo, sendo sua discografia obrigatória para qualquer fã de Grindcore que se preze. Caso você não os conheça, saiba que a banda forma por James (vocal/baixo), Danyel (guitarra), Ari (guitarra) e Dangelo (bateria) surgiu no ano de 2003, tendo lançado 3 álbuns completos antes de Quebrante, Indigesto (06), O Joio (10) e Nadir (13).

Após um hiato de 5 anos, finalmente retornam nos oferecendo uma singela coleção de 23 temas que são uma verdadeira ode ao extremismo musical.  Suas músicas retratam a realidade decadente e podre de nossa sociedade, retratando todo o egoísmo e falsidade, com fortes críticas políticas e sociais, e uma certa dose de niilismo aqui e ali. Os vocais de James continuam esbanjando insanidade e são um dos destaques aqui. As guitarras de Ari e Danyel também não ficam atrás, com alguns dos melhores riffs da carreira da banda. Quanto a Dangelo, o cara prova porque é um dos melhores bateristas desse país. O que ele faz em Quebrante é absurdo, com uma velocidade e precisão dignas de aplausos. 


Em Nadir, era nítida a influência de Crust e até mesmo Black Metal (James, Danyel e Dangelo participam de duas bandas voltadas para o estilo, o Godtoth e o Monge) na música do quarteto. Em Quebrante, seguem essa mesma linha, mas conseguindo soar ainda mais brutais, se é que isso pode ser possível. Todas as 23 faixas aqui presentes possuem um alto nível de qualidade, mas como ficaria extenso falar de cada uma, vou apontar as minhas preferidas. A sequência que se segue à abertura, com a insana “Nós Somos o Veneno”, a odiosa “Apenas Mais um Igual a Mim”, a veloz e bruta “O Pior de Todos”, e “A Farsa: Nojo”, é um verdadeiro murro no meio da cara do ouvinte. “Quebrante” é simplesmente destruidora, e “A Maldição da Rede” tem ótimas influências de Punk/Crust. “Há Honra (?)” vai te fazer sair batendo cabeça pela sala, enquanto “A Verdade Gera o Ódio” é uma verdadeira avalanche de brutalidade. A agressiva “Feliz Ano Novo” conta com os vocais de Zé Misanthrope (ex-Omfalos), o que acaba deixando tudo ainda mais insano. “A Vida é uma Armadilha” é outra que conta com uma participação especial, no caso, do saudoso Fabiano Penna, que faz o solo da música. Só por isso ela já valeria a pena.

Gravado entre 2014 e 2018, afinal, fazer música extrema no Brasil nunca vai ser uma tarefa das mais fáceis, Quebrante teve sua mixagem e masterização novamente feitas pelo sueco William Blackmoon. O que temos é exatamente o que se espera de uma produção de Grind, ou seja, aquela dose de sujeira e muita agressividade, mas ainda sim, tudo audível. Já a bela capa é obra de Nelson Oliveira. Mais uma vez o Facada se supera, e presenteia a todos com um dos melhores álbuns de Metal de 2018, uma verdadeira aula de como fazer Grindcore. Um retrato do nosso país em forma de música. O Cd pode ser adquirido através do e-mail store@blackholeprods.com.

NOTA: 90

Facada é:
- James (vocal/baixo);
- Ari (guitarra);
- Danyel (guitarra);
- Dangelo (bateria).

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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Orphaned Land - Sahara (1994/2018)


Orphaned Land - Sahara (1994/2018)
(Century Media Records/Shinigami Records - Nacional)


01. The Sahara's Storm
02. Blessed Be Thy Hate
03. Ornaments of Gold
04. Aldiar Al Mukadisa
05. Seasons Unite
06. The Beloved's Cry
07. My Requiem
08. Orphaned Land, the Storm Still Rages Inside…

É indiscutível que os israelenses do Orphaned Land são uma das bandas mais criativas e originais do Heavy Metal nos dias atuais. A sua capacidade ímpar de mesclar o estilo, em suas diversas facetas, com elementos étnicos de sua cultura, a tornaram um nome único no cenário. Mas tudo isso teve um início, mais precisamente no dia 25 de novembro de 1994, quando Sahara, seu debut, saiu pela gravadora francesa Holy Records. Através dele, foi possível termos um pequeno vislumbre do que a banda viria a se tornar com o passar dos anos, mas cabe dizer que essa não é a única qualidade desse trabalho.

Mesclando seu Death/Doom com elementos folclóricos do Oriente Médio, Sahara foi uma lufada de ar fresco dentro da cena do estilo, mostrando que novos caminhos poderiam ser seguidos para evitar uma estagnação. Óbvio que por se tratar de um álbum de estreia, e com uma proposta bem inovadora, fica nítido que arestas precisavam ser aparadas e que a sonoridade precisava ser refinada como um todo, mas a base de tudo que viriam a se tornar estava aqui. Em alguns momentos, temos muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e tudo fica levemente confuso, fora que a forma como misturam todos esses elementos ainda não ocorre perfeitamente. Ainda sim, mesmo com tais falhas, Sahara é um álbum que empolga, já que conta com ótimos vocais de Kobi Farhi, além de um trabalho de guitarras empolgante da dupla formada por Yossi Sassi e Matti Svatizky.


Dá para dizer que o álbum se divide em 2 partes. De início, temos 3 canções inéditas: “The Sahara's Storm”, bem enérgica, com guitarras pesadas e já deixando claro de cara sua vibração oriental, a ótima e sombria “Blessed Be Thy Hate”, que possui até hoje alguns dos melhores riffs da carreira da banda, e a épica “Ornaments of Gold”. Após um interlúdio étnico intitulado “Aldiar Al Mukadisa”, que sinceramente acho meio dispensável, temos 4 canções regravadas da demo The Beloved's Cry. “Seasons Unite” possui riffs fortes, um belo trabalho de guitarras e boas melodias oriundas do teclado, enquanto “The Beloved's Cry” é uma balada triste e melancólica, mas muito bonita. “My Requiem” tem passagens que vão te fazer bater cabeça, e encerrando, “Orphaned Land, the Storm Still Rages Inside” chama a atenção pelas boas harmonias, pelos riffs enérgicos e pelo bom refrão.

A produção, comparada com a demo que precedeu a estreia, é bem superiora. A sonoridade está bem menos crua, dando aquele passo a frente que é esperado, mesmo que esteja um degrau abaixo do que veríamos já no trabalho posterior, El Norra Alila (96). No fim, Sahara cumpre muito bem a função de um álbum de estreia, apresentando o Orphaned Land para o mundo, e colocando as bases futuras de seu desenvolvimento. Só resta agradecer a Shinigami Records por prestar o grande serviço de relançar esse material por aqui e permitir ao fã brasileiro, maior facilidade de acesso ao mesmo. Se é fã da banda, tem a obrigação de ter esse CD em sua coleção.

NOTA: 82

Orphaned Land (gravação):
- Kobi Farhi (vocal);
- Yossi Sassi (guitarra);
- Matti Svatizky (guitarra);
- Uri Zelcha (baixo);
- Sami Bachar (bateria);
- Itzik Levi (teclado).

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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Immortal - Northern Chaos Gods (2018)


Immortal - Northern Chaos Gods (2018)
(Nuclear Blast/Shinigami Records – Nacional)


01. Northern Chaos Gods
02. Into Battle Ride
03. Gates To Blashyrkh
04. Grim And Dark
05. Called To Ice
06. Where Mountains Rise
07. Blacker Of Worlds
08. Mighty Ravendark

Ainda me lembro do primeiro contato que tive com a música do Immortal, na primeira metade dos anos 90. Era uma época em que o Black Metal norueguês estava no centro das atenções, não só pelo lado musical, mas também pelas polêmicas intermináveis que sequer precisam ser citadas aqui. Foi nesse período que escutei pela primeira vez Diabolical Fullmoon Mysticism (92) e Pure Holocaust (93), trabalhos que me causaram grande impacto. Os álbuns que vieram na sequência não foram diferentes, a não acho nada exagerado rotular Battles in the North (95), Blizzard Beasts (97) e At the Heart of Winter (99) como clássicos do Black Metal. Por mais que na sequência da carreira tenham mantido o nível com Damned in Black (00) e principalmente Sons of Northern Darkness (02), algo parecia não estar 100%.

Primeiro veio o fim em 2003, depois o retorno em 2006, seguido de um álbum um tanto quanto inconsistente, All Shall fall (09). Vejam bem, não estou dizendo que é um trabalho fraco, de forma alguma, mas apenas não possui o mesmo brilhantismo de outrora. Os shows continuaram a correr, tudo parecia bem, apesar de não se falar em um novo trabalho de inéditas, até que no final 2014 uma forte turbulência se abateu sobre o Immortal. Abbath entra em uma disputa judicial com Demonaz e Horgh pelo nome, alegando que acreditava que ambos haviam deixado a banda após decidirem por uma pausa nas atividades, e que ele precisava do mesmo para sobreviver, já que era músico profissional e dependia do lançamento de Cd’s e de shows para ter seus ganhos. Alegava inclusive que já tinha um novo álbum gravado, com outros músicos, e que estava apenas na espera da resolução de toda a situação para seu lançamento.


No final todos sabemos o que acabou por ocorrer. Abbath se retirou e formou sua banda solo, lançando com ela o material que havia composto e gravado para ser o 9º trabalho de estúdio do Immortal, enquanto Demonaz, que desde 97 exercia apenas a função de letrista devido a uma forte tendinite, e Horgh, deixaram claro que a banda continuaria viva e que já estavam começando a trabalhar em um novo álbum de inéditas. Tudo isso acabou gerando uma série de incertezas, afinal, o ex-vocalista e guitarrista era o centro criativo do grupo desde At the Heart of Winter. Será que Demonaz, depois de mais de 2 décadas afastado das funções de guitarrista, conseguiria manter o alto nível exigido pelos fãs? Será que o mesmo conseguiria se sair bem como vocalista, mantendo o alto nível dos vocais de Abbath? Conseguiria Northern Chaos Gods superar o trabalho de estreia de Abbath? As perguntas eram muitas, e as respostas finalmente estão ao nosso alcance, na forma das 8 canções que compõem esse álbum.

Bem, os fãs podem respirar aliviados, pois, Northern Chaos Gods é um trabalho que definitivamente honra a carreira do Immortal. Sem inventar, a dupla formada por Demonaz (vocal/guitarra) e Horgh (bateria), contando com o apoio do produtor Peter Tägtgren, responsável pela gravação do baixo, apostou em um Black Metal padrão, simples, direto, e que remete diretamente ao período inicial da banda, principalmente a trabalhos como Battles in the North e Blizzard Beasts. Claro, não negam tudo que veio pós-1997, mas é um álbum que nitidamente soa mais obscuro e sombrio do que a fase que contava com Abbath como cérebro criativo. É um Immortal mais enérgico e revigorado. Os vocais de Demonaz conseguiram manter um bom nível, e ele não tenta soar como uma cópia de seu antecessor. Nesse sentido, é uma ótima estreia. Sua guitarra está simplesmente esmagadora e Horgh faz exatamente o que se espera dele, com um trabalho sobre-humano na bateria. O baixo de Peter está lá, soterrado por uma avalanche de riffs devastadores e de blastbeats, mas você consegue perceber ele uma vez ou outra. Nada diferente de trabalhos anteriores da banda.


De cara, já temos uma faixa que é a mais pura essência do que é o Immortal, a feroz e selvagem  “Northern Chaos Gods”, que remete diretamente aos primórdios da banda. Na sequência temos um cataclismo em forma de música, “Into Battle Ride”, com toda a sua velocidade, brutalidade e clima gélido. “Gates To Blashyrkh” é desde já uma forte candidata a se tornam um clássico dos noruegueses, mesclando fúria, riffs cortantes e boas passagens atmosféricas. “Grim And Dark” se destaca pelo clima sombrio, pelo peso e pelas guitarras afiadíssimas, e “Called To Ice” é daquelas músicas velozes e devastadoras que poucos além deles conseguem fazer. “Where Mountains Rise” é outro dos pontos altos do trabalho. Tem aquela aura do Bathory, que marcou o começo da carreira do Immortal, um clima absurdamente gélido, um refrão muito bom e elementos atmosféricos que são bem utilizados. “Blacker Of Worlds” é simplesmente implacável, se destacando pela fúria e pelos altos níveis de crueldade com os tímpanos mais delicados. Encerrando, temos a épica, avassaladora e magistral “Mighty Ravendark”, certamente uma das melhores composições da carreira da banda.

Como já dito, a produção ficou a cargo de Peter Tägtgren, algo que já ocorre desde At The Heart Of Winter, tendo ele também sido o responsável pela mixagem. Já a masterização, assim como em All Shall Fall, voltou a ser realizada por Jonas Kjellgren. O equilíbrio encontrado foi perfeito, já que soa audível, mas sem polimento excessivo. Exatamente como deve ser um álbum de Black Metal. Já a capa foi obra da Jannicke Wiese-Hansen, sendo simples, e deixando transparecer com perfeição o que o ouvinte encontrará em Northern Chaos Gods: Black Metal gélido, escuro, feroz, enérgico e esmagador. O Immortal definitivamente voltou e não está para brincadeiras. O Reino de Blashyrkh vive!

NOTA: 88

- Demonaz (vocal/guitarra),
- Horgh (bateria).

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MX - A Circus Called Brazil (2018)


MX - A Circus Called Brazil (2018)
(Shinigami Records - Nacional)


01. Halloween Circus
02. Fleeing Terror
03. Murders
04. Mission
05. Lucky
06. Cure and Disease
07. Toy Soldier
08. Keep Yourself Alive
09. Marching Over Lies
10. Apocalypse Watch
11. A Circus Called Brazil – pesada e agressiva, bem diversificada.
12. Speedfreak (Motörhead cover)

O MX é um dos nomes mais tradicionais do Metal brasileiro. Surgido em Santo André/SP, no ano de 1985, de cara lançou dois trabalhos clássicos quando falamos de Thrash no Brasil, Simoniacal (88) e Mental Slavery (89). Em seguida, tivermos 2 bons álbuns, Again... (97) e The Last File (00), para então entrarem em um hiato que perdurou por 12 anos. Após o retorno, chegaram a lançar um trabalho com regravações, Re-Lapse (14), mas a verdade é que os fãs aguardavam já a algum tempo por material inédito da banda. E finalmente, após uma espera de 18 anos, finalmente temos em mãos A Circus Called Brazil, seu 5º álbum de estúdio.

Aqui não tem muito mistério, e o ouvinte sabe muito bem o que esperar. É Thrash Metal direto, agressivo, vigoroso, e que apesar de remeter ao passado da banda, ainda sim consegue soar atual. É old school, mas sem parecer como se tivesse sido feito 30 anos atrás. Os vocais de Alexandre Cunha estão agressivos e soam melhores do que nunca, e ele continua destruindo tudo na bateria, formando uma ótima parte rítmica com  Alexandre "Morto" Favoretto. A dupla de guitarristas, formada por Alexandre "Dumbo" Gonsalves e Décio Jr., despejam ótimos riffs em nossos ouvidos, além de boas melodias e bom groove. Vale destacar também a qualidade dos refrões, marcantes e fortes. 


Após uma breve introdução, temos a rápida “Fleeing Terror”, que esbanja energia e vigor, dando uma amostra do que encontraremos pela frente. Na sequência vem a ótima “Murders”, com uma boa variação entre partes mais velozes e outras mais cadenciadas, onde a parte rítmica se destaca. “Mission” tem momentos mais cadenciados que dão variedade a canção, enquanto “Lucky” transborda energia e vigor, com ótimas guitarras. “Cure and Disease” tem uma levada mais lenta e possui peso de sobra, e “Toy Soldier” se destaca principalmente pelo ótimo trabalho de bateria.“Keep Yourself Alive” remete mais aos primórdios da banda e apresenta boa técnica. “Marching Over Lies” e “Apocalypse Watch” formam uma sequência com potencial para moer pescoços. Encerrando o álbum, a belíssima faixa título, diversificada, pesada e agressiva, e uma versão muito boa de “Speedfreak”, do Motörhead.

A produção, mixagem e masterização ficaram a cargo de Tiago Hóspede, em parceira com a banda. O resultado conseguiu unir clareza e agressividade, tudo na medida correta e sem certos exageros dos dias atuais. Já a capa, uma das melhores que vi esse ano, foi obra de Cleyton Amorim, e retrata o momento vivido por nosso país. Com um álbum para lá de consistente e conseguindo aliar suas raízes, mas sem soar datado, o MX lançou um dos grandes álbuns nacionais de 2018, e, com certeza, figurará em muitas listas de melhores do ano em dezembro.

NOTA: 86

MX é:
- Alexandre Cunha (vocal e bateria),
- Alexandre "Dumbo" Gonsalves (guitarra e vocal),
- Alexandre "Morto" Favoretto (baixo e vocal),
- Décio Jr. (guitarra).

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sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Deicide - Overtures Of Blasphemy (2018)


Deicide - Overtures Of Blasphemy (2018)
(Century Media Records - Importado)


01. One With Satan
02. Crawled From The Shadows
03. Seal The Tomb Below
04. Compliments Of Christ
05. All That Is Evil
06. Excommunicated
07. Anointed In Blood
08. Crucified Soul Of Salvation
09. Defying The Sacred
10. Consumed By Hatred
11. Flesh, Power, Dominion
12. Destined To Blasphemy

Partindo do surgimento do Amon, em 1987, não é exagerado dizer que nesses mais de 30 anos, polêmica e Deicide sempre foram sinônimos, sempre andaram de mãos dadas, muito disso pelas atitudes de seu líder, Glen Benton. Ainda sim, é impossível negar a importância da banda para o Death Metal, já que lançaram trabalhos clássicos para o estilo, casos de Deicide (90), Legion (92), Once Upon The Cross (95), Serpents Of The Light (97) e The Stench Of Redemption (06). O problema é que tirando tais álbuns, a discografia do Deicide sempre navegou no mar da inconstância, entre trabalhos bons e outros extremamente burocráticos. Ainda sim, uma coisa é inegável: sempre se mantiveram fiéis ao Death Metal, e nunca procuraram se adaptar aos modismos surgidos com o passar dos anos.

Quando lançaram In The Minds Of Evil (13), vinham de 2 trabalhos onde pareciam estar ligados no piloto automático, Till Death Do Us Part (08) e To Hell with God (11). Isso, somado a estreia do guitarrista Kevin Quirion, que deu um novo gás a banda, fez com que em muitos momentos o Deicide soasse renovado do ponto de vista da inspiração, remetendo ao seu passado. Ainda sim, existiam os momentos em que pareciam estar ali apenas para cumprir horário no estúdio, e isso fez com que o resultado não fosse tão bom quanto poderia. De qualquer forma, isso despertou nos fãs uma boa expectativa de que as coisas poderiam estar novamente entrando nos eixos. Parecia existir futuro para o Deicide. Bem, passado um hiato de 5 anos, finalmente chegou a hora de confirmar tais expectativas, ou de simplesmente se frustrar mais uma vez.


Overtures Of Blasphemy é seu 12º álbum, e marca a estreia em estúdio do guitarrista Mark English, substituto de ninguém menos que Jack Owen, que saiu do Deicide em 2016, depois de 12 anos. Bem, o que posso dizer a respeito disso. Se a entrada de Quirion já parecia ter dado um novo gás ao quarteto, a troca de Owen por English parece ter renovado de vez as coisas. Não, o som não se modernizou, continua aquele Death Metal bruto, agressivo e infernal, mas é indiscutível que tais mudanças jogaram a criatividade do grupo lá no alto novamente. Aqui pegaram os melhores momentos de In The Mins of Evil e os potencializaram, gerando assim o melhor trabalho dos americanos desde The Stench Of Redemption.

Os vocais de Benton continuam em plena forma, por mais que raramente variem. Sinceramente, isso nunca foi problema em se tratando de Deicide. Além disso, ele faz uma dupla infernal com Steve Asheim. Seu baixo soa implacável, enquanto o baterista faz um trabalho poderoso e devastador. Quase uma força da natureza. O trabalho das guitarras de Kevin e Mark soa simplesmente diabólico, já que conseguem despejar alguns dos riffs mais caóticos e sombrios da história da banda. Além disso, conseguem inserir boas melodias, que surgem salpicadas aqui e ali. Os solos também soam primorosos e se destacam em diversos momentos. Preciso frisar que quando falo em melodia, não estou falando de algo exagerado, já que o que temos aqui é uma música que prima acima de tudo pela brutalidade, agressividade e rispidez. 


“One With Satan” inaugura os trabalhos de forma bruta e ccontundente, sendo seguida da ótima “Crawled From The Shadows”, violenta, furiosa e com ótimos riffs. Então temos 2 faixas com potencial para se tornarem clássicas, a grudenta “Seal The Tomb Below”, que não dá espaço para o ouvinte respirar e que pode quebrar alguns pescoços por aí, e “Compliments Of Christ”, com um trabalho de guitarra fenomenal e bom groove. “All That Is Evil” e “Excommunicated” são rápidas, opressivas e matadoras, enquanto “Anointed In Blood” se destaca pelos riffs e por algumas boas melodias. “Crucified Soul Of Salvation” é absurdamente agressiva e conta com uma bateria nada menos que explosiva. A agressividade também é o mote de “Defying The Sacred”, com seus ótimos riffs e um solo que traz boas melodias a canção. “Consumed By Hatred” esbanja brutalidade, enquanto a visceralidade dá as caras em “Flesh, Power, Dominion”. “Destined To Blasphemy” encerra o álbum de forma implacável e infernal, um retrato perfeito de tudo que foi escutado nos quase 38 minutos de duração de Overtures Of Blasphemy.

A produção de Jason Suecof (Belphegor, Monstrosity, Death Angel, DevilDriver, The Black Dahlia Murder), e a mixagem e masterização de Alan Douches (Cannibal Corpse, Death, Motörhead, Nile), deram ao álbum uma cara moderna, mas sem exageros, equilibrando bem clareza e agressividade. A belíssima e assustadora capa foi obra de Zbigniew Bielak (Behemoth, Dimmu Borgir, Ghost, Paradise Lost), e é a cara da banda. Soando renovado, mas sem renunciar a qualquer uma de suas convicções musicais, o Deicide lança um álbum de Death Metal puro, brutal, blasfêmico, infernal e caótico, como todo trabalho dentro do estilo deveria ser. Se algum dia alguém vier te perguntar o que é Death Metal, não existe, apresente Overtures Of Blasphemy a ela. Definição melhor, impossível!

NOTA: 89

Deicide é:
- Glen Benton (vocal/baixo);
- Kevin Quirion (guitarra);
- Mark English (guitarra);
- Steve Asheim (bateria).

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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Madball - For The Cause (2018)


Madball - For The Cause (2018)
(Nuclear Blast/Shinigami Records - Nacional)


01. Smile Now Pay Later
02. Rev Up
03. Freight Train
04. Tempest
05. Old Fashioned
06. Evil Ways (feat. Ice T)
07. Lone Wolf
08. Damaged Goods
09. The Fog (feat. Tim “Timebomb” Armstrong)
10. Es Tu Vida
11. For You – bom groove, ótimo refrão
12. For The Cause
13. Confessions (Bonus Track)

Uma verdadeira lenda do NYHC, essa é a definição perfeita para o Madball, surgido no ano de 1988 como um projeto que unia o vocalista Freddy Cricien a seu meio-irmão Roger Miret (baixo), Vinnie Stigma (guitarra) e Will Shepler (bateria), todos eles membros do icônico Agnostic Front. Ainda em 1992, mais um membro do AF se juntava as fileiras da banda, o guitarrista Matt Henderson. Com o tempo a formação foi se alterando, e Miret saiu antes mesmo do lançamento do debut em 1994, o clássico Set It Off, sendo substituído por outro músico de suma importância para a banda, Jorge "Hoya Roc" Guerra, que acabou por se tornar fiel escudeiro de Freddy nessas últimas 3 décadas. Em 1997, Stigma e Shepler também saíram, mas a tempo de gravarem mais um trabalho clássico, Demonstrating My Style (96). O Madball ainda teve tempo de lançar mais 2 ótimos trabalhos, Look Ly Way (98) e Hold It Down (00), antes de anunciar seu fim, em 2001.

Felizmente, para a alegria dos fãs do estilo, já em 2002 anunciaram seu retorno, e For The Cause é seu 5º álbum desde a volta. Mais uma vez, o Madball faz exatamente o que se espera dele, ou seja, aqui temos aquele típico NYHC que marcou a carreira da banda. Os vocais de Cricien se mantém característicos, flertando com o hip-hop em diversos momentos (para quem não sabe, ele já lançou um trabalho solo nesse estilo, com o nome de Freddy Madball & DJ Stress). A guitarra, que aqui foi gravada por Matt Henderson, pois, Brian "Mitts" Daniels se retirou da banda ano passado (estava desde 2001), continua eficaz, com riffs fortes e que em alguns momentos resvalam no Thrash/Crossover, além de boas melodias. O baixo de Hoya Roc é responsável por aquelas linhas fortes que todos conhecemos, enquanto a bateria de Mike Justian faz muito bem o seu trabalho, soando muito pesada.


De cara, temos uma das melhores músicas de todo álbum, “Smile Now Pay Later”, forte, pesada e com bom groove. “Rev Up” tem tudo para se tornar um hino da banda, soando bem cativante e com boas melodias. “Freight Train” tem uma pegada bem Punk e poderia tocar em qualquer boa rádio rock por aí, pois, tem um bom apelo comercial, o que não faz dela uma canção Pop, faço questão de frisar. “Tempest” é bem pesada, e “Old Fashioned” é uma daquelas típicas canções de NYHC. Devastadora! A furiosa “Evil Ways” conta com a brilhante participação de Ice T, e tem lá seu pé no Thrash. “Lone Wolf” é outro típico NYHC e soa ameaçadora, enquanto “Damaged Goods” traz aquela pegada do hip-hop para os vocais. A empolgante “The Fog” tem participação de Tim Armstrong, do Rancid, e tem um pé bem fincado no Punk. “Es Tu Vida” é o ponto alto do álbum, com sua agressividade, energia e letra cantada em espanhol. Na sequência final, temos o bom groove de “For You” e mais duas típicas canções do NYHC, a bombástica “For The Cause” e a faixa bônus Confessions.

A produção ficou por conta da banda em parceria com Tim Armstrong, com mixagem e masterização de Tue Madsen (Behemoth, Dark Tranquillity, Heaven Shall Burn, Meshuggah, Moonspell). O resultado é bom, já que mesmo com tudo bem claro, não ficou nada exagerado e a agressividade se manteve presente. A parte gráfica ficou nas mãos de Stephen Jakubiak, com resultados simples, mas bem legais. O Madball não apresenta nenhuma novidade em sua música em For The Cause, sendo esse mais um típico álbum da banda, mas convenhamos, não é exatamente isso que todos esperamos de um trabalho deles? Cativante, enérgico e certamente vai fazer a alegria dos fãs de velha data.

NOTA: 84

Madball é:
- Freddy Cricien (vocal);
- Jorge "Hoya Roc" Guerra (baixo),
- Mike Justian (bateria).

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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Kataklysm - Meditations (2018)


Kataklysm - Meditations (2018)
(Nuclear Blast/Shinigami Records – Nacional)


01. Guillotine
02. Outsider
03. The Last Breath I’ll Take Is Yours
04. Narcissist
05. Born To Kill And Destined To Die
06. In Limbic Resonance a
07. And Then I Saw Blood
08. What Doesn’t Break Doesn’t Heal
09. Bend The Arc, Cut The Cord
10. Achilles Heel

DVD (Faixas em negrito são partes do documentário):
01. Intro
02. In Shadows & Dust
03. Beyond Salvation
04. Why these 2 albums?
05. Illuminati
06. Chronicles of the Damned
07. Bound in Chains
08. Rediscovering These Albums
09. Where the Enemy Sleeps...        
10. Centuries (Beneath the Dark Waters)
11. We Have a Different Drummer Now
12. Face the Face of War
13. Years of Enlightment/Decades in Darkness
14. Intermission
15. The Ambassador of Pain
16. The Resurrected
17. The Fans
18. As I Slither
19. For All Our Sins
20. Generations
21. The Night They Returned
22. Serenity in Fire
23. Drumming on the Different Albums
24. Blood on the Swans
25. 10 Seconds from the End
26. The Tragedy I Preach
27. Meditations
28. Under the Bleeding Sun
29. Credits

Quando falamos de Kataklysm, sempre existe o risco de nos depararmos com viúvas de seus 2 primeiros álbuns, com Sylvain Houde nos vocais. Para esses, não importa que já se tenham passado 20 anos desde a saída do mesmo e que Meditations seja o 11º álbum da banda após Temple of Knowledge (96). Sempre ficarão presos ao saudosismo. Uma pena, porque nessas duas décadas, o quarteto canadense hoje composto por Maurizio Iacono (vocal), Jean-François Dagenais (guitarra), Stéphane Barbe (baixo) e Olivier Beaudoin (bateria), lançou ótimos trabalhos, sendo que alguns deles podem ser considerados clássicos quando falamos de Death Metal em sua vertente mais melódica.

Após anos e mais anos aprimorando seu estilo, Of Ghosts and Gods (15) marcou o desembarque definitivo do Kataklysm no Death Metal Melódico. Nele, nos deparamos com uma música que mantinha o peso e a agressividade, mas recebendo altas doses de melodia e groove, além de uma cara mais moderna. Puristas se incomodaram? Com certeza. O quarteto resolveu mudar sua abordagem por isso? Se o fizessem, não seriam o Kataklysm, e assim, o que temos em Meditations é uma sequência natural de seu trabalho anterior. Os vocais de Iacono estão em sua melhor forma e temos aqui seu melhor desempenho em um álbum da banda. Dagenais nos entrega um trabalho de guitarra primoroso, com ótimos riffs e melodias, além de solos que se destacam. Quanto a parte rítmica, se destacam pela técnica e coesão, com o baixo de Barbe bem pesado, ajudando demais nesse sentido quando as melodias tomam conta das canções, e a bateria de Beaudoin soando sólida e explosiva em muitos momentos.


“Guillotine” abre o trabalho de forma simplesmente furiosa, com uma bateria rápida, ótimos vocais e riffs cortantes. “Outsider” se destaca principalmente pelo ótimo groove e por sua diversidade, além de ter uma pegada bem moderna. A vigorosa “The Last Breath I’ll Take Is Yours” vem em seguida, equilibrando de forma ímpar brutalidade e melodia. A cadenciada “Narcissist” tem um ótimo trabalho da parte rítmica, com a bateria soando muito potente, enquanto “Born To Kill And Destined To Die” é outra carregada de groove, boas melodias e ótimos riffs. Confesso que em alguns momentos me lembrou Amon Amarth. “In Limbic Resonance” é monstruosa, conseguindo esbanjar brutalidade, mas sem abrir mão de ser melódica. Uma das melhores músicas da banda nos últimos anos. “And Then I Saw Blood” é outra que me remeteu ao Amon Amarth, com sua cadência e boas melodias, e “What Doesn’t Break Doesn’t Heal” se destaca principalmente pelo bom groove e por uma brutalidade dosada. “Bend The Arc, Cut The Cord” segue na pegada da antecessora, com destaque para seus ótimos riffs. Finalizando o álbum, temos a intensa e melódica “Achilles Heel”, com trabalho de guitarra primoroso e uma pegada simplesmente infernal.

A produção ficou a cargo de Dagenais e Beaudoin, com mixagem de Jay Ruston (Anthrax, Armored Saint, Sons of Apollo, Adrenaline Mob) e masterização de Paul Logus (Shadows Fall, Cradle of Filth, Satyricon). Ficou tudo bem claro e audível, e nesse sentido ouso dizer que até um pouco polido demais para o meu gosto, mas nada que comprometa, já que tudo soa pesado e agressivo. A bela capa e toda parte gráfica mais uma vez ficou por conta da esposa de Iacono, Surtsey, da Ocvlta Designs. Tudo soa bem uniforme, sem grande variedade de qualidade entre as canções, e isso não deixa de ser positivo, por mais que você sinta falta de mais momentos que grudem em sua cabeça. Isso não tira o mérito de que Meditations é um dos melhores álbuns do Kataklysm nos últimos anos, e que vai agradar em cheio os seus fãs. Vale lembrar que a versão nacional vem com um DVD  bônus, que mescla uma apresentação da banda na Alemanha, onde tocaram na íntegra os álbuns Shadows & Dust (02) e Serenity in Fire (04), com trechos de um documentário. Um material obrigatório!

NOTA: 86

Kataklysm é:
- Maurizio Iacono (vocal);
- Jean-François Dagenais (guitarra);
- Stéphane Barbe (baixo);
- Olivier Beaudoin (bateria).

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terça-feira, 11 de setembro de 2018

Auri - Auri (2018)


Auri - Auri (2018)
(Nuclear Blast/Shinigami Records - Nacional)


01. The Space Between
02. I Hope Your World Is Kind
03. Skeleton Tree
04. Desert Flower
05. Night 13
06. See
07. The Name Of The Wind
08. Aphrodite Rising
09. Savant
10. Underthing Solstice
11. Them Thar Chanterelles (feat. Liquor In The Well)

A importância do Nightwish para o cenário do Heavy Metal dos anos 2000, assim como o talento de Tuomas Holopainen, são fatos indiscutíveis, goste você da música dos finlandeses ou não. Mesmo após a saída de Tarja da banda e de toda turbulência dos anos seguintes, a relevância do grupo se manteve intocada. Possivelmente por isso, quando Tuomas anunciou que lançaria um novo projeto ao lado da cantora Johanna Kurkela (que é sua esposa), e de seu companheiro de Nightwish, Troy Donockley, os fãs tenham criado grande expectativa, se perguntando o que surgiria dessa união. Pois bem! O Auri é a resposta que eles esperavam, e de cara já aviso, pode não agradar a todos, já que o material não é de assimilação tão fácil se você for desses com a cabeça mais fechada. Convenhamos, se fosse para soar como a banda principal de Holopainen, não teria o porquê do projeto existir.

De cara já aviso, não esperem aqui um trabalho voltado para o Heavy Metal, pois, a proposta do Auri passa longe disso. O que temos é uma mescla de Folk, com influências celtas e orientais, elementos sinfônicos, eletrônicos, new age, trilhas cinematográficas e certa pitada pop. É um trabalho imersivo, profundo, minimalista e com uma boa dose de melancolia, que certamente vai cativar os que são adeptos de tal proposta. Se você for fã de artistas como Enya ou Loreena McKennitt, ele vai te atingir em cheio. Os vocais de Johanna são de uma beleza ímpar, suaves, etéreos e em muitos momentos, soam mágicos. Troy também se destaca muito, não só na parte instrumental, já que é responsável pelos instrumentos folclóricos, como também fazendo alguns vocais. Quanto a Tuomas, ele soa bem mais contido do que o esperado, já que certamente os fãs esperavam que ele guiasse as canções através da melodia de seus teclados. Isso pode soa decepcionante para alguns, mas para mim se encaixou perfeitamente na proposta musical do trio. O equilíbrio é latente e todos tem seu espaço.


A abertura já se dá com um dos grandes destaques do álbum, “The Space Between”, com um ar mais épico, boas melodias e um refrão cativante. Elementos eletrônicos e folclóricos são bem utilizados nessa canção. Em outras circunstâncias, “I Hope Your World Is Kind” poderia bem ser uma música do Nightwish. Possui certa urgência e um apelo mais dramático, muito por conta de elementos sinfônicos e folk, que estão bem encaixados. Já “Skeleton Tree” tem um ar sombrio, além de influências celtas. As passagens mais sinfônicas também enriquecem muito a canção. Na sequência, duas bonitas baladas, “Desert Flower”, com belos vocais de Johanna e Troy, e “Night 13”, com um ar cinematográfico e belo trabalho vocal. “See” tem elementos orientais e uma melodia simplesmente hipnótica. É bela e envolvente. A segunda metade do álbum soa mais experimental e menos palatável aos ouvintes comuns. “The Name Of The Wind”, com bons elementos sinfônicos, a sombria “Savant” e a dramática “Them Thar Chanterelles”, se encaixariam sem qualquer problema em alguma trilha cinematográfica. “Aphrodite Rising” consegue soar doce e ácida na mesma medida, além de possuir um apelo pop, e a minimalista “Underthing Solstice” se destaca não só pelo ar sombrio, como pela boa utilização de elementos celtas.

Gravado no Paha Pajari Palace e no Corner House Mansion, com produção da banda e de Tero "Teecee" Kinnunen (Amorphis, Nightwish, Delain), mixagem de Tim Oliver (Robert Plant, Pete Townshend) e masterização de Denis Blackham (Whitesnake, Faith no More, Uriah Heep, Demon, Robert Plant), temos aqui um excelente resultado, como já era de se esperar. A parte gráfica é belíssima, e o layout foi obra de Janne "Toxic Angel" Pitkänen (Sonata Arctica, Nightwish, Tuomas Holopainen, Barathrum). Essa proposta musical nunca é simples, e sempre se corre o risco de soar monótono e unidimensional. Não vou mentir dizendo que o Auri conseguiu escapar dessa armadilha 100% do tempo, mas é inegável que na mais parte do tempo, o trio consegue fazer com que sua música soe muito relevante. Por ser um trabalho diferente do que se espera, o ouvinte pode demorar um pouco a entender o mesmo, mas quando isso finalmente acontece, é um possível não se maravilhar com a beleza dessas canções.

NOTA: 81

Auri é:
- Johanna Kurkela (vocal/viola);
- Tuomas Holopainen (teclado);
- Troy Donockley (guitarra/violão/bouzouki/uilleann pipes/low whistles/aerophone/bodhran/teclado /vocal)

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sábado, 8 de setembro de 2018

Krisiun – Scourge Of The Enthroned (2018)


Krisiun – Scourge Of The Enthroned (2018)
(Century Media Records/Shinigami Records – Nacional)

01. Scourge of the Enthroned
02. Demonic III
03. Devouring Faith
04. Slay the Prophet
05. A Thousand Graves
06. Electricide
07. Abysmal Misery (Foretold Destiny)
08. Whirlwind of Immortality

Ainda me lembro da sensação que tive ao escutar Black Force Domain (95) pela primeira vez. O impacto daquele verdadeiro massacre sonoro deixou marcas, além da certeza de que eu estava diante de uma banda que tinha tudo para marcar seu nome a ferro e fogo na história do Death Metal mundial. Mais de 20 anos se passaram e o tempo apenas confirmou minhas impressões iniciais, e hoje os gaúchos do Krisiun podem (e devem) ser colocados entre os maiores nomes do estilo em todos os tempos. O que fizeram para isso? Só alguns clássicos, como Apocalyptic Revelation (98), Conquerors of Armageddon (00), Southern Storm (08) e The Great Execution (11). É pouco? Amigo, quantas bandas de Death Metal por aí podem se gabar de ter 4 álbuns desse porte, de serem citados em listas de melhores do estilo? Poucas, muito poucas. Na verdade, só lendas do estilo podem se dar a esse luxo.

Scourge Of The Enthroned é seu 11º álbum de estúdio, e vem para suceder Forged in Fury (15), um trabalho que apresentava um Krisiun mais maduro e levemente diferente do que havíamos escutado em Southern Storm e The Great Execution. Mesmo que a alma da banda ainda estivesse lá presente, isso gerou certa divisão e tornou o trabalho amado e odiado em partes iguais. Eu particularmente estou no primeiro time, mas entendo quem não o apreciou. Por isso o trio formado por Alex Camargo (vocal/baixo), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria) resolveu executar algumas mudanças, e a primeira delas foi chamar novamente Andy Classen para cuidar da produção. A segunda mudança foi olhar para o passado e buscar aquela urgência de seus trabalhos mais antigos. Não estou falando de uma regressão musical de 20 anos, de forma alguma, mas sim de recuperar aquele espírito furioso e implacável que marcou o Krisiun em seu início de carreira.

Essa mudança fica muito evidente quando você se dá conta que Scourge Of The Enthroned possui apenas 8 faixas, e que se passam em pouco mais de 38 minutos. Isso faz deste seu segundo trabalho mais curto, só atrás de Works of Carnage (03). Sem espaço para enrolações, o trio executa um verdadeiro massacre com seu Death Metal veloz, agressivo e esmagador. Soando mais rápido e brutal que em trabalhos anteriores, o que temos aqui é uma aula de intensidade e visceralidade, algo que confesso, sentia certa falta nos últimos anos. Os vocais de Alex continuam transmitindo aquela fúria ímpar, e a cada lançamento ele consegue soar ainda melhor. Fora isso, continua formando uma parte rítmica primorosa ao lado do monstruoso Max Kolesne. Sério, só uma explicação verdadeiramente sobrenatural para justificar a sua técnica e precisão na bateria. Se coloca ao lado de mestres como Gene Hoglan, Pete Sandoval, George Kollias e Paul Mazurkiewicz, quando o assunto é música extrema. Moyses despeja alguns dos riffs mais infernais da história da banda, e que conseguem soar clássicos, mas modernos. E os solos? Quanta insanidade!


De cara já temos esmagadora “Scourge of the Enthroned”, com toda a sua brutalidade, selvageria e guitarras caóticas. Não tinha como começar de melhor forma, do que nos dando a certeza de que temos de volta o nosso bom e velho Krisiun. Sem mostrar nenhuma misericórdia, a sequência se dá com “Demonic III”, veloz e ameaçadora, e com a trituradora de tímpanos intitulada “Devouring Faith”. Saquem o seu solo verdadeiramente doentio! “Slay the Prophet” é uma das canções mais fortes do álbum, com sua explosão de agressividade e peso, e “A Thousand Graves” se destaca não só pelas mudanças de tempo, como também pelos ótimos riffs e por sua ferocidade. Pense em uma música que pode explodir sua cabeça. Essa é “Electricide”, com seu peso, agressividade e energia, que transbordam por todos os lados. “Abysmal Misery (Foretold Destiny)” não só é a canção mais curta de todo álbum, como também uma das mais selvagens. Uma moedora de pescoços alheios. Para finalizar todo esse genocídio musical, temos “Whirlwind of Immortality”, com suas mudanças de tempo e seu ar ameaçador.

Como já dito, a produção voltou para as mãos de Andy Classen, que já havia produzido  AssassiNation (06), Southern Storm e The Great Execution. Ok, o trabalho de Erik Rutan para Forged in Fury está entre as melhores produções que já escutei em todos os tempos dentro do Heavy Metal, e até hoje me impressiona. Mas olha, devo admitir que essa pegada mais orgânica que Andy dá a banda combina muito mais com um álbum do Krisiun. O melhor de tudo é que você consegue escutar cada detalhe, cada instrumento, sem qualquer problema. Já a arte, com base na mitologia suméria, foi obra de ninguém menos que Eliran Kantor, responsável por algumas das melhores capas dos últimos anos quando falamos de Heavy Metal. Perfeita e impactante. Sem arrefecer um milímetro em sua fúria, Scourge Of The Enthroned é um álbum que não te dá tempo para respirar. É um massacre seguido do outro, e ao final da audição, você se sente surrado de forma impiedosa, mas com um sorriso de orelha a orelha. A mais fina e pura definição do termo brutalidade sonora.

NOTA: 93

Krisiun é:
- Alex Camargo (vocal/baixo);
- Moysés Kolesne (guitarra);
- Max Kolesne (bateria).

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