quarta-feira, 6 de junho de 2018

Ministry - Amerikkkant (2018)


Ministry - Amerikkkant (2018)
(Nuclear Blast/Shinigami Records - Nacional)


01. I Know Words
02. Twilight Zone
03. Victims Of A Clown
04. TV5-4 Chan
05. We’re Tired Of It
06. Wargasm
07. Antifa
08. Game Over
09. AmeriKKKa

Não é exagero dizer que por muito tempo, o Heavy Metal possuiu um caráter contestador, até mesmo subversivo. Era isso que o tornava popular, atraía a juventude e ajudava na renovação de sua base de fãs. O jovem quer algo que choque, que bata de frente com os preceitos vigentes da sociedade, e até meados dos anos 90, era possível encontrar bandas que cumpriam bem esse papel. Mas vá lá entender, por algum motivo o estilo acabou se tornando música de “tiozão conservador”, perdendo esse seu lado mais incisivo. Com isso, o mesmo deixou de ser algo atrativo as camadas mais jovens, prejudicando assim todo o processo de renovação de sua base de fãs, que ocorre de forma lenta e a duras penas. Esse vácuo, no fim das contas, está sendo ocupado de forma muito inteligente por vários artistas do hip-hop, vide por exemplo, todo o estardalhaço causado por “This is America”, do rapper Childish Gambino. No momento que comecei a escrever essa resenha, o vídeo da canção já possuía mais de 213 MILHÕES de visualizações (em menos de 1mês).

Mas felizmente ainda existem bandas como o Ministry. Goste você ou não, é indiscutível o espírito contestador de seu líder, Al Jourgensen, sempre muito crítico com relação à sociedade americana. E é ela e seu momento conturbado do ponto de vista político-social, que dá toda a munição que ele necessita para fazer de Amerikkkant, seu 14º trabalho de estúdio, um dos álbuns mais ácidos que você escutará esse ano. Aqui sobra para todo mundo: Trump, fanáticos religiosos, crise política, racismo, supremacistas brancos, a forma como o país vem se dividindo, tudo vira munição na mão da banda. É uma crítica hostil e agressiva a toda turbulência pela qual passam os Estados Unidos.

Um dos pioneiros do Metal Industrial e uma das bandas mais influentes do estilo, o Ministry é dono de alguns trabalhos clássicos, como The Mind Is a Terrible Thing to Taste (89), Psalm 69 (92) e Rio Grande Blood (06). Mas não dá pra discutir o fato de que seus últimos 2 álbuns, Relapse (12) e From Beer to Eternity (13), não estão entre os mais inspirados da sua carreira. Muito disso se deu devido ao péssimo momento pelo qual Al Jourgensen passava, com problemas de saúde, o falecimento do guitarrista e um de seus melhores amigos, Mike Scaccia, além do vício em álcool e drogas. Não à toa, chegou a encerrar as atividades da banda em 2013. Felizmente, no ano seguinte optou por voltar à ativa e agora, 4 anos depois, nos entrega seu melhor trabalho desde 2006.


A mescla de vocais gritados e distorcidos, guitarras pesadas, elementos eletrônicos (utilizados de forma bem variada), samples, instrumentos de cordas, dentre vários outros detalhes, acabam gerando um desconforto no ouvinte, já que a música que surge disso acaba soando como a personificação perfeita do caos vivido por uma sociedade que, em muitos aspectos, remete diretamente e assustadoramente à nossa. “I Know Words” é uma colagem de elementos eletrônicos com samples de discursos de campanha de Donald Trump, e conta com a adição de um violoncelo. É o prelúdio de tudo que vamos escutar dali para frente. A bombástica e explosiva “Twilight Zone” é uma crítica raivosa ao atual Presidente americano, algo que continua em  “Victims Of A Clown”. Nessa, além de citações a O Grande Ditador, de Chaplin, e de novamente utilizar um violoncelo, temos a participação especial do rapper Arabian Prince, do lendário N.W.A, nos scratchings. Vale destacar também a forma como os elementos eletrônicos são muito bem utilizados e o baixo grooveado.

Após a vinheta “TV5-4 Chan”, é a vez da pesadíssima e raivosa “We’re Tired Of It”, mais puxada para o Metal e uma das músicas a contar com a participação de Burton C. Bell, do Fear Factory, nos vocais. Ele retorna na faixa seguinte, a sinistra e sombria “Wargasm”, essa com uma pegada que pode remeter o ouvinte ao Nine Inch Nails. “Antifa” é um belo exemplar de Metal Industrial com uma abordagem mais moderna, mas, ainda assim, é a faixa mais comum do trabalho. “Game Over” é, além de pesada e intensa, bem escura e hipnótica, graças à forma como os elementos industriais foram utilizados. A clássica “Thieves” me veio à cabeça durante a audição de mesma. Para encerrar com chave de ouro, temos  “AmeriKKKa”, que foge dos padrões repetitivos, esbanja intensidade e soa quase apocalíptica.

A produção ficou por conta do próprio Al Jourgensen, com mixagem realizada por Michael Rozon (Hirax, Melvins) e masterização de Dave Donnelly (Manowar, In Flames, Hammerfall, Mötley Crüe). O resultado final é não menos que ótimo. Já toda a capa e toda a parte gráfica, que segue o tom ácido e crítico do álbum, foi obra de Sam Shearon (Kill Devil Hill, A Pale Horse Named Death). Criticando o conservadorismo, o capitalismo, o elitismo, o racismo, os armamentistas, o fanatismo religioso, e tudo mais que causa o caos e a divisão dentro dos Estados Unidos, o Ministry nos entrega com Amerikkkant um trabalho sólido, atual e muito interessante. Pode até não estar no mesmo patamar de seus clássicos, mas, ainda assim, merece uma posição de destaque dentro de sua discografia.

NOTA: 85

Ministry é:
- Al Jourgensen (Vocal/Guitarra/Programação/Teclado)   
- Sinhue Quirin (Guitarra)
- Cesar Soto (Guitarra)
- Tony Campos (Baixo)
- John Bechdel (Teclado)
- Derek Abrams (Bateria)
- DJ Swamp (Scratchings)

Ministry (gravação):
- Al Jourgensen (Vocais nas faixas 2, 5, 6, 7, 8, 9/Guitarra nas faixas 2, 3, 5, 6, 7, 9/Teclado nas faixas 1, 2, 5, 6, 7, 9/Samplers nas faixas 1, 2, 4, 5, 6, 8, 9/Gaita na faixa 2)
- Sinhue Quirin (Guitarra nas faixas 2, 3, , 6, 7, 8, 9)
- Cesar Soto (Guitarra, Sirene e Sequenciador na faixa 6)
- Jason Christopher (Baixo nas faixas 2, 3, 5, 8, 9)
- Tony Campos (Baixo nas faixas 6, 7)
- John Bechdel (Teclado nas faixas 2, 3, 9)
- Roy Mayorga (Bateria nas faixas 3, 8, 9)
- DJ Swamp (Scratchings nas faixas 1, 2, 5, 6)

Participações Especiais:
- Lord of the Cello (Cordas nas faixas 1 ,2 e 3)
- Michael Rozon (Bateria Programada nas faixas 2, 3, 5, 6, 7, 9/Teclado na faixa 8)
- Burton C. Bell (Vocal na faixa 5 e narração na faixa 6)
- Arabian Prince (Scratchings na faixa 3)

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