quinta-feira, 15 de junho de 2017

Carach Angren - Dance And Laugh Amongst The Rotten (2017)


Carach Angren - Dance And Laugh Amongst The Rotten (2017)
(Seasons of Mist - Importado)


01. Opening
02. Charlie
03. Blood Queen
04. Charles Francis Coghlan
05. Song for the Dead
06. In De Naam Van De Duivel
07. Pitch Black Box
08. The Possession Process
09. Three Times Thunder Strikes


Surgido no ano de 2003, na Holanda, o trio Carach Angren se notabilizou desde o início por apostar em um Black Sinfônico que o aproximava de nomes como Anorexia Nervosa (principalmente) e Dimmu Borgir, mas com a particularidade de ter suas letras voltadas para histórias de terror. Lammendam (08) é um dos melhores álbuns de estreia da primeira década dos anos 2000, e os trabalhos que vieram em sequência, Death Came Through a Phantom Ship (10), Where the Corpses Sink Forever (12) e o primoroso This Is No Fairytale (15), não só colocaram o nome dos holandeses entre os principais do estilo, como levaram seu tecladista e responsável pelas partes orquestrais a trabalhar com nomes de peso como Pain, Lindemann e Ex Deo. Com um momento tão positivo como esse, nada melhor do capitalizá-lo com um novo álbum.

E eis que o Carach Angren nos presenteia com Dance And Laugh Amongst The Rotten, seu 5º trabalho de estúdio. Mais uma vez, temos de fundo uma história de terror, centrada em uma menina, que está a jogar com um tabuleiro de Ouija na sala de sua casa, quando se depara com um espírito do mal chamado Charlie. Assustada, corre deixando o tabuleiro para trás, mas este permanece aberto para o mundo espiritual. Dai para frente, o que vemos é um desfile de fantasmas que passam  pela sala contando suas histórias, para o deleite de nós ouvintes.




Musicalmente, esse é seu trabalho mais abrangente, teatral e refinado. Além do já tradicional Black Sinfônico que lhe é característico, é possível observarmos elementos de estilos como Thrash e Heavy nas canções aqui presentes. As composições se mostram muito mais maduras, melhor trabalhadas e com uma riqueza imensa de detalhes. Os vocais de Seregor se mostram muito firmes e também mais teatrais, sendo seu melhor trabalho nesse sentido. Os backing vocals, a cargo de Ardek, também ajudam demais nesse sentido. Seregor também é o responsável pela guitarra, onde conta mais uma vez com o apoio de Patrick Damiani (também responsável pela gravação do baixo), com ótimos resultados. Temos aqui riffs fortes e marcantes, além de ótimas melodias. A bateria de Namtar, como sempre, soa implacável e se mostra imprescindível para o ótimo resultado que aqui observamos. E quanto a Ardek, brilha tanto nos teclados quanto nas orquestrações. Aliás, a cada trabalho que passa, elas vão ficando mais e mais cinematográficas, grandiosas. Vale destacar que as partes de violino, como de praxe em todos os álbuns, foram executadas por Nikos Mavridis, que toca ao vivo com a banda.

A introdução se dá com a belíssima instrumental “Opening”, que começa guiada por um piano e vai crescendo aos poucos, à medida que as demais orquestrações vão surgindo. Sombria, remete a trilhas de filmes e consegue te inserir com perfeição dentro do clima de terror da história. Sua transição para a segunda música, “Charlie”, é simplesmente perfeita. Nesta, somos introduzidos na história, tendo ao fundo uma música pesadíssima, assombrosa e com ótimos coros e partes sinfônicas. Os vocais de Seregor soam simplesmente malignos em alguns momentos. É uma das músicas que mais escutei nos últimos dias. A sequência se dá com a agressiva e dinâmica “Blood Queen”, que trata de uma das versões da lenda de Bloody Mary, que no caso aqui seria a Rainha Maria I da Inglaterra. Responsável por uma intensa perseguição religiosa aos protestantes, acabou morrendo sem ter o filho que tanto sonhava, já que era infértil. Os vocais dramáticos e os ótimos coros chamam a atenção de cara em “Charles Francis Coghlan”, nosso próximo fantasma. O sujeito em questão foi um famoso ator anglo-irlandês, que viveu entre 1842 e 1899. Ao falecer na cidade de Galveston, no Texas, teve seu corpo guardado por meses na cidade, enquanto a família decidia que procedimento adotar (enterro ou cremação). Mas em 1900, ocorreu o Grande Furacão de Galveston, que até hoje é a maior tragédia natural da história dos Estados Unidos. Seu caixão acabou arrastado para o mar, desaparecendo. Existem algumas histórias de que o mesmo teria sido encontrado, uma delas, que ele teria ido parar a milhares de quilômetros de distância, em sua casa em uma ilha no Canadá, mas nada realmente comprovado. Musicalmente falando, temos guitarras que soam realmente brutas, um ótimo trabalho de teclado e passagens primorosas de violino.

“Song for the Dead” parece ter sido escolhida de forma estratégica para dividir o trabalho. Com um tema mórbido (um cara que não só usa a roupa dos mortos, como mantêm seus corpos e dança com os mesmos), é uma canção até um tanto simplória, perto de todas as demais, mas reforça bem o clima teatral do trabalho, graças aos ótimos vocais e ao refrão que, mesmo que você não queira, cantará junto antes que a música termine. A segunda metade tem início com “In De Naam Van De Duivel”, canção que pende um pouco mais para o Black Metal mais clássico e que insere a figura do Diabo na história. E definitivamente, tem um clima diabólico, que casa perfeitamente com a história baseada no folclore da província de Limburgo (Holanda), onde o diabo envia uma bruxa com a tarefa de separar um casal. Ao final, o marido é levado a acreditar erroneamente que sua esposa quer assassiná-lo e acaba matando-a antes. “Pitch Black Box” dá sequência ao álbum, apresentando aquela que é a sonoridade mais moderna de guitarra aqui presente. Ainda assim, com sua levada mais cadenciada e ótimas orquestrações, acaba por soar realmente maligna. Liricamente, introduz um elemento de suma importância no futuro da história, uma caixa preta que não deve ser aberta de forma alguma.




“The Possession Process” possui ótimas melodias e orquestrações, e por ter uma pegada mais Death Metal, pode remeter alguns ouvintes aos gregos do Septicflesh. Contudo, ela ainda tem aquele ar marcante que só o Carach Angren consegue imprimir em uma música. Liricamente, e preste bem atenção nesse detalhe quando escutá-la, descreve o processo de possessão de uma pessoa por um espírito demoníaco. Aqui, vamos observando a pessoa perdendo o controle de forma gradual, até estar totalmente dominada. Para fechar com chave de ouro, temos a excelente “Three Times Thunder Strikes”, canção rápida, fenomenal e com orquestrações simplesmente épicas e grandiosas. Aqui somos transportados novamente à cena inicial do álbum e descobrimos que, na verdade, a menina havia aberto a caixa um mês antes e libertado Charlie, sendo possuída pelo mesmo; e que ele já estava lá desde o início do álbum, nos trazendo todas essas histórias. Com a última frase, “Did you open the box before hearing this song?”, podemos entender que, desde o início, fizemos parte de toda a história. Vale dizer que na versão boxset (que vem em uma caixa-preta… entendem a ironia?), ainda temos uma maravilhosa versão orquestral de “Charles Francis Coghlan”, que lamentavelmente não ter entrou na versão padrão.

Gravado no famoso Studio Abyss (Suécia), Dance And Laugh Amongst The Rotten teve a mesma equipe que cuidou de This Is No Fairytale, ou seja, mixagem feita por Peter Tägtgren (que convenhamos, dispensa apresentações) e masterização realizada por Jonas Kjellgren (Amorphis, Overkill, Dark Funeral, Immortal, Hypocrisy, Sabaton). O resultado final é primoroso, e mesmo com uma música tão rica em detalhes, conseguimos captar cada um deles. A capa ficou por conta de Costin Chioreanu (Arch Enemy, Darkthrone, At The Gates, Enslaved, Draconian), se encaixando perfeitamente dentro de todo o contexto.

Soando mais refinado e diversificado do que no passado, não dá para dizer que o resultado final aqui supera o de This Is No Fairytale, mas convenhamos, essa seria uma tarefa para lá de ingrata. Ainda assim, a música do Carach Angren é tão grandiosa e possui tanta qualidade, que dificilmente Dance And Laugh Amongst The Rotten deixará de estar entre os melhores álbuns de2017. Faça o que precisar, mas tenha esse álbum em sua coleção.

NOTA: 9,0

Carach Angren é:
- Seregor (vocal/guitarra);
- Namtar (bateria);
- Ardek (teclado/piano/orquestrações).

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